Ainda que o imaginário comum indique que os pinguins vivem no gelo, a maior parte das espécies existentes hoje busca regiões mais quentes no inverno. Nessa rota, está o litoral fluminense, que tem sido palco de aparições constantes do pinguins-de-Magalhães, da espécie Spheniscus magellanicus.
As colônias reprodutivas da espécie ocorrem na região da Patagônia, no Chile e na Argentina. É de lá que os animais partem em uma corrente oceânica quente, e muitos chegam às praias do Rio de Janeiro.
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Acontece que um desses pinguins que chegou à praia de Provetá, em Ilha Grande, na região de Angra dos Reis, no inverno de 2011, continuou fazendo esse trajeto durante oito anos seguidos. É o que relata o pescador João Pereira de Souza, 80. Ele diz ter passado a receber, ano após ano, a visita do mesmo animal, que recebeu o nome de Dindim.
O pinguim viaja cerca de 8.000 km da Patagônia até o quintal de João, onde fica em meio a outros animais da casa, como cachorro e galinhas. Outro canto especial para o Dindim é no banheiro. “Ele gosta de tomar banho de chuveiro”, diz o pescador. “Tenho amor por ele como por um filho.”
Uma amizade improvável que parece, e é, enredo de filme. A história é contada pelo cineasta brasileiro David Schurmann no longa de produção americana “Meu Amigo Pinguim“. O filme estreou nos Estados Unidos em 16 de agosto e chega aos cinemas brasileiros nesta quinta (12).
“Com ‘Meu Amigo Pinguim’, vamos além da história do pescador que salva o pinguim. Mostramos como um pinguim pode resgatar um homem”, afirmou Schurmann.
O longa, com 90% do elenco e equipe brasileiros, foi gravado em Ubatuba (SP) e Paraty (RJ). As cenas complementares foram rodadas na Argentina.
“Para além das nossas paisagens e personagens nacionais, queria levar ao público uma história tocante, singela, de relações puras e profundas, de conexão do ser humano com a natureza”, disse Schurmann.
No filme, Dindim é interpretado por dez pinguins diferentes, que se revezaram de acordo com a personalidade ideal para cada cena. Nas filmagens, os animais foram acompanhados por profissionais do Aquário de Ubatuba e do Oceanic Aquarium, em Balneário Camboriú (SC), com apoio do Instituto Argonauta para a Conservação Costeira e Marinha —que treinou as aves antes das gravações.
A relação de João e Dindim começou quando o pescador salvou o pinguim depois de ter encontrado o animal muito debilitado, coberto de óleo na praia.
João cuidou da ave por uma semana e a soltou de volta no mar para que pudesse retomar o caminho de casa. Mas o pinguim quis ficar com o pescador —e permaneceu com ele por mais 11 meses. Segundo João, Dindim volta em junho, com variação de alguns dias, e fica até fevereiro.
Durante cinco anos, o pinguim voltou à Provetá anualmente, chegando a passar oito meses com João e apenas quatro no mar, até que, em fevereiro de 2018, “depois da troca de penas”, ele se foi e não voltou mais.
Em 2022, outro pinguim apareceu na mesma praia onde o pescador conheceu Dindim. O animal buscou a companhia de João e permitiu aproximação e carinho, o que não era verificado com outras pessoas curiosas que se aproximavam, dando a acreditar que se tratava do amigo do pescador.
Apesar dos relatos, não é possível afirmar que se trata da mesma ave. O pinguim estava sem a identificação que os profissionais do Aquário de Ubatuba colocaram em Dindim, quando surgiu em 2011. Na ocasião, a ave foi examinada e os veterinários constataram que era um macho.
Mesmo sem a confirmação, João afirma acreditar que o pinguim que o visitou em 2022 seja Dindim.
“Pode ser que seja, sim, mas não há como garantir. Os pinguins juvenis ou sub adultos ficam no mar, só voltando para a terra para fazer a muda das penas. A partir de 5 anos de idade, eles já estão aptos a se reproduzirem e assim eles voltam para as colônias para essa finalidade”, explica a médica veterinária Paula Baldassin.
Baldassin é vice-presidente da ONG Instituto BW, que atua na reabilitação de animais silvestres na região dos Lagos e no norte fluminense. Recentemente, participou da soltura de 19 pinguins da espécie Magalhães que tinham encalhado no litoral do Rio de Janeiro.
“Esse ano estamos vendo uma aparição maior de pinguins e lobos-marinhos”, observa. “Mas não quer dizer que o ano que vem vai ser desse mesmo jeito”, pondera, afirmando que os ciclos não são constantes.
De acordo com a veterinária, em Cabo Frio (RJ), existem sambaquis com ossos de pinguins que demonstram que “eles já frequentam as nossas praias muito antes de os portugueses chegarem”, ressalta.
Pesquisadora de pinguins há mais de 20 anos, Baldassin explica que o animal vindo da Patagônia argentina e chilena é de clima temperado, ou seja, não é um pinguim polar. Por isso, quando encontrado, deve ser aquecido.
“Os pinguins que encalham nas praias brasileiras, geralmente estão muito magros sem a camada normal de gordura. P or isso, chegam até nós hipotérmicos, além de muito caquéticos e com parasitas. Alguns não conseguem sustentar o corpo e não ficam de pé quando chegam. A reabilitação deles é desafiadora”, conta.
Como ajudar no resgate de pinguins
- Não o coloque de volta na água nem no freezer ou gelo, ele está com frio
- O animal deve ser alocado em uma caixa de papelão ou envolto numa toalha
- Chame o projeto de monitoramento de praias da sua região; essas entidades possuem centros especializados para receber os animais
- Caso não tenha o contato de um projeto especializado, chame as autoridades locais, para que direcionem o animal ao atendimento correto
Fonte: ONG Instituto BW
noticia por : UOL