Dona Fátima foi convencida de estaria em uma cruzada, narrativa que foi bombardeada pelos formuladores do bolsonarismo. Mas, ao contrário do que aconteceu com os quatro cavaleiros do Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, a “guerra” perdida que travou em Brasília não a absolveu de seus pecados pregressos.
Antes do envolvimento nos atos golpistas, ela já havia sido condenada por tráfico de drogas (crack), usando jovens menores de idade, em 2014. Também tentou fraudar o INSS e usou documentos falsos. Nas redes, defendia o voto impresso e criticava a urna eletrônica, repetindo as palavras do “mito”. Uma mulher de bem.
Claro que nem todos as senhorinhas golpistas tinham a capivara de Fátima. Mas ao insistir que as depredações do 8 de janeiro foram executadas por lulistas e petistas infiltrados, Bolsonaro ofende profundamente não apenas a razão e a realidade, mas o seu próprio rebanho. Uma miríade de vídeos mostra seguidores do ex-presidente extremamente orgulhosos do que faziam, acreditando estarem salvando o Brasil de uma ditadura. Quando, na verdade, estavam tentando implementar uma.
Por exemplo, quando a Polícia Militar começa a agir no 8 de janeiro, já sob intervenção do governo federal, o coronel da reserva Adriano Testoni, bolsonarista de carteirinha, gravou um vídeo reclamando dos generais que não estavam dando um golpe. “Bando de generais filhas da puta. Vão tudo tomar no cu. Vanguardeiros de merda. Covardes. Olha o que está acontecendo com a gente. Esse nossa Exército é uma merda”, afirma. Era ele um dos senhorzinhos do Jair?
A PF cruzou os vídeos com as redes sociais dos envolvidos na depredação e, surpresa, não eram petistas infiltrados, mas bolsonaristas-raiz.
Em entrevista a Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, Jair disse que seu seguidor que plantou uma bomba em um caminhão de combustível para explodir o Aeroporto de Brasília, em 24 de dezembro de 2022, era apenas um “imbecil”, que a imagem do vândalo com um camiseta com o seu rosto que depredou o Palácio do Planalto foi propositadamente divulgada por Lula e que nenhum quebra-quebra ocorreu pelas mãos de quem estava acampado na frente do Quartel-General do Exército, apesar do local ter sido usado como cabeça de ponte para o ataque à Praça dos Três Poderes e depois como esconderijo de vândalos.
noticia por : UOL