Já acumulei R$ 450 mil. Meu patrimônio está 40% em ações nacionais, 40% em fundos imobiliários, 10% em investimentos em ações no exterior e 10% em renda fixa. Estou no caminho certo? Não pretendo deixar de trabalhar, mas o objetivo é depender o menos possível do salário
Na semana passada, comentei o caso de uma professora com salário de R$ 13 mil mensais que entrou no círculo vicioso do endividamento. Nesta semana, temos um caso oposto. Rodrigo é um engenheiro com salário de R$ 13,6 mil, mas que está no caminho para atingir sua independência financeira.
Rodrigo tem 41 anos, trabalha desde sua adolescência e já acumulou R$ 450 mil. Seu plano de alcançar a independência se iniciou em 2018.
Inicialmente, sua vontade era parar de trabalhar, mas atualmente ele já mudou o plano. Em dez anos, ele pretende usar a renda do trabalho para suas despesas ordinárias e a renda financeira para usufruir em viagens, lazer e melhoria do padrão de vida.
Embora com uma meta audaciosa, é possível afirmar que Rodrigo está no caminho certo. Pequenas mudanças podem fazer sua meta ser mais factível e ter menor risco de não se concretizar.
Primeiro, vamos entender quanto Rodrigo precisa ter de patrimônio financeiro para viver com uma renda líquida de R$ 10,5 mil, que equivale a seu salário atual bruto de IR.
Neste cálculo, são necessárias duas premissas: o tempo de recebimento da renda e a taxa de juros real, ou seja, aquela acima da inflação.
Para o tempo, é adequado considerar a possibilidade de viver até os 95 anos de idade.
Já para a taxa de retorno, por mais que o investidor seja agressivo, não é recomendado se considerar mais de 7% ao ano de juros real líquido de IR, pois não sabemos como estarão os juros e o mercado no futuro.
Lembre-se, um retorno acima da inflação de 7% ao ano equivale a IPCA+9% ao ano bruto de IR.
Eu sei que fundos imobiliários pagam um rendimento maior que este hoje. Entretanto, não sabemos como estarão em dez anos, nem em 30 anos a partir de hoje.
Com essas premissas, Rodrigo precisa alcançar um patrimônio de R$ 1,76 milhão a valores de hoje.
Para alcançar este patrimônio, partindo do montante atual de R$ 450 mil, é preciso saber quanto ele pode poupar mensalmente e qual o rendimento real estimado em suas aplicações nos próximos 10 anos.
A conta pode partir da capacidade de poupança de Rodrigo.
Ele confessou estar perdendo a disciplina de poupar, mas deve lutar para recuperar e até aumentar. Ele tem conseguido poupar entre R$ 600 e R$ 1.000. Assim, vamos considerar o valor superior, pois é o mínimo adequado, considerando sua renda.
Você deve buscar poupar no mínimo 10% do que ganha bruto de IR. Se não está conseguindo, reduza seu padrão de vida, ou busque novas fontes de receita.
Assumindo esta aplicação mensal, podemos descobrir o retorno mínimo necessário.
O retorno encontrado para que Rodrigo alcance seu objetivo de patrimônio em 10 anos é de IPCA+13% ao ano.
Rodrigo tem perfil de investidor agressivo, como fica em seu portfólio, descrito abaixo. Mesmo considerando este perfil, essa meta de retorno mínimo parece exagerada.
A carteira de Rodrigo justifica o retorno que ele tem de buscar.
Seu patrimônio é formado por:
- 40% ações nacionais
- 40% fundos imobiliários
- 10% investimentos em ações no exterior
- 10% em renda fixa
Não acho que, com as taxas de juros que temos, esse seja um portfólio adequado. Também não recomendo ter uma meta de retorno mínima tão agressiva.
Entretanto, se o objetivo é buscar um retorno mínimo de IPCA+13%, a carteira de investimentos precisa ter um risco como esse a que Rodrigo está exposto.
O risco que ele corre é o de o mercado passar por um período longo de baixa e seu plano ter de ser adiado.
Minha recomendação seria que Rodrigo fizesse um esforço maior de poupança —por exemplo, 30% da renda atual, ou seja de R$ 4.100, e buscasse um retorno mínimo de IPCA+8,4% ao ano para o portfólio.
Assim, é possível ter uma parcela em renda fixa mais próxima de 50%, o que reduz o risco da carteira —e o de não alcançar a meta de patrimônio pretendida.
noticia por : UOL