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Comediante chinesa Yang Li incomoda homens de seu país e perde patrocinadores

Há duas semanas, num programa de auditório do fim de ano chinês na plataforma de streaming iQIYI, a comediante Yang Li surgiu num vestido longo, de festa, como apresentadora. Usuários na rede social Weibo foram abusivos, como de costume. “Uma sereia gorda”, escreveu um.

No palco e na tela, ela foi em frente, sabendo das reações que causa, não pela aparência, mas pelo que fala. “No programa, as pessoas que irritaram a todos vêm ajudar a dissipar essas emoções complexas”, disse Yang, 33.

“Vamos juntos, mostrar que comediantes não só falam coisas desagradáveis, mas também não cantam bem”, acrescentou. E ela cantou, segundo um colega, provando que comediantes não cantam bem.

Yang também observou, a certa altura, que “os adoráveis clientes se foram”. Ao que parece, era referência à sua perda de mais um patrocínio, há três meses. Agora foi a gigante de comércio eletrônico JD.com, que a tinha contratado para a campanha visando o 11 de novembro, o Dia do Solteiro, data central para as vendas do final de ano na China.

Ela apareceu no lançamento em outubro e, passados quatro dias de ataques no Weibo, a JD.com soltou nota se desculpando com os usuários e e dizendo que não teria “mais cooperação com a comediante”.

O problema volta sempre para uma de suas primeiras piadas de impacto, em 2020, numa competição de stand-up em que terminou em quarto lugar.

Em quadro curto sobre mulheres e homens, ela falou: “Eu não consigo entender por que eles podem parecer tão comuns, mas ainda assim serem tão confiantes”. A reação de muitos homens à piada, com ameaças às marcas patrocinadoras, acabou levando a Intel a se afastar de Yang meses depois.

A expressão é retomada desde então, para os ataques, como agora após o programa de fim de ano. “Como é que ela consegue ser tão comum e confiante?”, ironizou outro usuário do Weibo, questionando que ainda seja chamada para programas. Yang segue em frente sem se abalar, com novos quadros sobre as relações entre mulheres e homens.

Dias antes de perder o contrato com a JD.com, estava no palco no programa O Rei da Comédia Stand-up, na iQIYI, avisando que voltaria ao assunto: “Vou falar só disso a partir de agora e, se você realmente se sente ofendido, por que não vai assistir outra coisa?”.

É uma das redatoras do programa, tarefa em que se especializou desde que começou em stand-up, oito anos atrás. Nascida na zona rural de Hebei, província próxima à capital, ela se formou em animação no Instituto de Tecnologia da Moda de Pequim, tentando vários empregos após a faculdade.

Chegou a trabalhar com design, mas desistiu por não se achar capaz. Foi vendedora no Taobao, outra plataforma chinesa de comércio eletrônico, e depois assistente de plateia no Centro de Artes Tianqiao, de musicais e outros espetáculos.

“É impossível acreditar em si mesma quando você está sempre fracassando em fazer as coisas”, descreveu ela ao site Huxiu, sobre os cerca de três anos que passou assim. Morando em Pequim, com os pais enviando dinheiro, ficava em casa assistindo programas de variedades. Foi quando viu cenas de stand-up e decidiu tentar. “Eu tinha tempo e depressão e queria expressar isso.”

A primeira vez em que subiu ao palco, no microfone aberto, a marcou pela extrema tensão. “Mas depois daqueles três minutos, eu me senti muito excitada.” Tinha opinião demais, “sem risadas”, mas se apresentou dia após dia, à exaustão.

Para dar o passo adiante e se profissionalizar, procurou a produtora Xiaoguo, criada em 2014 e que monopolizou stand-up no país por uma década. Seu cofundador e CEO, He Xiaoxi, a levou para shows em Xangai e aconselhou-a a escrever. Com a produtora, vieram os programas e os homens “comuns, mas confiantes”.

Em entrevista posterior à GQ chinesa, sobre a repercussão online da piada, ela disse: “Aquilo realmente me assustou. Eles usavam linguagem violenta e ameaçadora. Mas eu sou uma pessoa que dificilmente recua. Falei desses tópicos outras vezes. Eu sou muito persistente”.

No Weibo, acumulou 2,5 milhões de seguidores. Não é à toa que grandes patrocinadores acabam se voltando para ela.

noticia por : UOL

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