O dia 1º de novembro pode ser considerado especial para o distrito de Aricanduva, em Arapongas (PR). Isso porque, há exatos 81 anos, no dia 1º de novembro de 1942, foi inaugurada o que seria um divisor de águas no até então recém-fundado território: a estação ferroviária da Aricanduva. Com 85 anos, a localidade tem personalidade própria. Com berço caingangue na sua formação e localizada na divisa com Apucarana, o distrito tem todas as ruas com nomes ligados aos indígenas, enquanto em Arapongas todas as vias públicas prestam homenagens a pássaros.
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Fundada em 1938 pela Companhia de Terras do Norte do Paraná, a localidade recebeu inicialmente o nome de “Itambé”, em homenagem a um rio que ainda se encontra preservado até hoje. Somente dois anos depois, em 1940, que o nome foi trocado, sendo substituído pela palavra “Aricanduva”, que, no tupi-guarani, significa “Terra das palmeiras doces”.
A mudança de nome e a palavra escolhida foram influenciadas pela grande presença de indígenas caingangues que habitavam a região. Como conta o historiador do distrito, Valter Pontim, era uma imposição da companhia: colocar os nomes dos territórios com coisas diretamente relacionadas ao local, como plantas, passarinhos e, no caso em questão, dos indígenas.
Trabalhadores durante construção de trecho da linha férrea, que passa por Aricanduva
“Como havia muitos indígenas aqui, trocaram o nome para Aricanduva. Tinha também muitas palmeiras nessa região e os indígenas se alimentavam delas. Os indígenas ficavam na estrada de ferro e não queriam sair. Por conta disso, o governo federal criou seis reservas indígenas no Paraná e uma delas foi para esses indígenas que ficavam em Aricanduva”, assinala.
Após a realocação dos indígenas para a Reserva de Apucaraninha, em Tamarana, a estação de trem foi construída. Ela serviu como um ponto de parada estratégica para que a velha Maria Fumaça pudesse abastecer, pois, como precisava de água para gerar o vapor, ela não conseguia percorrer 18 km para sair da estação de Arapongas e ir até Apucarana. Já com relação ao nome, a estação ficou conhecida como “Estação Ferroviária do Km 260”. Isso porque, 260 km era a distância que ela ficava da Estação Ferroviária inicial em Ourinho (SP).
Estação Ferroviária hoje em dia
De acordo com Valter Pontim, a chegada da estação, juntamente com outros marcos econômicos para o território, foi um diferencial em Aricanduva, contribuindo muito com a guinada do distrito. “Ele ajudou muito com um aquecimento logo no início do distrito. Começaram a chegar gente na década de 40, justamente por causa da chegada do trem e por causa da colheita de café. Já na década de 50 começaram a falar que Aricanduva tinha petróleo. Aí a Petrobras veio para cá e furou várias regiões, mas não achou nada porque o basalto da terra roxa, quando teve a erupção, queimou todas as reservas. Teve também uma boa expansão por conta da instalação da Nortox (empresa de defensivos agrícolas) no distrito em 1968”, afirmou.
Foi a partir da chegada do trem e das possibilidades em transportes de cargas e pessoas, que Aricanduva começou a evoluir e construir os pilares do distrito. Foi construída em 1947 o Grupo Escolar Júlio Junqueira e, de 1955 até 1967, foi erguida pelos moradores da cidade a Igreja Matriz.
Hoje, o distrito conta com cerca de 2,6 mil habitantes, que circulam por ruas, que como mais uma marca de suas origens, foram batizadas com nome de indígenas. Atualmente, Aricanduva tem escola, CMEI, posto de saúde e até mesmo uma subprefeitura.
Na visão do subprefeito, Lita Evangelista, o território passou por um processo de urbanização. “O distrito hoje está mais urbanizado. Como foi um distrito criado naquela linha mais de sítio, então era um pouco mais longe da cidade. Porque ficando entre Apucarana e Arapongas, o distrito ficava meio abandonado. O que eu penso dos últimos 10 anos para cá foi, justamente, trazer o distrito mais próximo ao município de Arapongas. Hoje, nós temos várias facilidades”, ressaltou.
Subprefeito de Aricanduva, Lita Evangelista (à esquerda) e o historiador do distrito, Valter Pontim (à direita)
Moradores antigos
Dentre os moradores do distrito, uma das mais antigas é Rosa Alhier, de 72 anos, que mora em Aricanduva desde o ano de 1964. Ela contou que foi para o distrito com 10 anos de idade e, por conta disso, viveu praticamente sua vida toda lá.
“Foi 1964 (que cheguei). Eu vim com meus pais. A gente era em nove irmãos. Viemos tocar um sítio na estrada velha. Moramos 20 anos e casei naquele sítio. Aí vim para Aricanduva, aqui ainda era estrada de chão, tinha o salão de festa de madeira. Tinha também a nossa igreja, que ainda era de madeira. Casei aqui em Aricanduva e tive meus três filhos”, conta ela.
Rosa Alhier dentro da subprefeitura de Aricanduva
Outra moradora de longa data de Aricanduva, que vive no distrito desde o ano de 1975, é Valentina Guzi Pereira, de 82 anos. Segundo ela, antes de morar na casa que reside hoje com o filho Ricardo Guzi Pereira, de 50 anos, a família já morou em outras cinco casas no distrito. Valentina também revelou que gosta muito de morar no local e, quando as filhas sugerem uma mudança de casa, ela rejeita sem pensar duas vezes.
“É gostoso, as minhas meninas querem que eu venda aqui e mude para a cidade. Eu falo: não vou vender, não. Uma que eu tenho as minhas árvores que eu plantei e lutei para cuidar. Agora que as minhas árvores estão dando flor eu vou sair daqui?”, questiona.
Por Gabriel Carneiro
Valentina Guzi com o filho Ricardo Guzi Pereira, em frente a casa onde moram em Aricanduva
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noticia por : UOL