Recursos considerados universais, como o esquema de cores do semáforo, nem sempre são tão eficientes assim. Para deficientes visuais, por exemplo, esses códigos precisam ser adaptados. É aí que entra o sinal sonoro, emitido para comunicar o status das cores a pessoas cegas ou com baixa visão.
Em Campinas, a 93 quilômetros da capital paulista, um sistema está em fase de testes nos últimos três anos. Uma pequena tag se conecta via bluetooth ao semáforo, que soa um alerta ao mudar de cores.
O projeto foi criado por Paulo Eduardo de Oliveira Conde, 49, coordenador de manutenção e implantação de semáforo da Emdec (Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas), responsável por gerenciar o trânsito na cidade.
Com a nova tecnologia, quando uma pessoa com deficiência visual se aproxima com a tag, o semáforo emite um alerta sonoro avisando que a acessibilidade foi acionada. Assim que o sinal abrir, outro som, também proveniente do semáforo, indica que o pedestre pode passar. “Se ele atravessou e se distanciou, o sistema não emite mais nenhum som.”
Os semáforos sonoros são configurados para reconhecerem a tag a uma distância de 5 até 10 metros de distância.
O servidor público trabalha há 30 anos na empresa e afirma que desde os anos 2000 busca melhorar a travessia de pessoas com deficiência visual.
Na época, surgiram os semáforos com botoeiras —botões que acionam a acessibilidade— que emitem ruído. “Começamos a instalar as botoeiras e tentamos colocar essa acessibilidade em uma avenida inteira, mas as pessoas que enxergam também acabavam apertando e a todo momento o som era emitido”, lembra.
Moradores e comerciantes vizinhos dos locais onde havia esses semáforos passaram a reclamar do barulho, principalmente à noite. “É um ruído de dez decibéis mais ou menos, incomoda. Aí começaram muitos pedidos para desligar o sistema. Foi quando passaram a depredá-lo.”
A Emdec inibiu o som no período noturno, e aí foi a vez de as pessoas com deficiência se queixarem da falta de acessibilidade. O servidor passou, então, a pesquisar soluções.
“O ideal seria não ter o botão e o sistema funcionar somente na presença de uma pessoa com deficiência visual”, pensou. Mas, se o sistema seria “escondido”, como acionar a funcionalidade?
“Tentei com wifi, porque todo mundo tem celular, mas tinha o risco de assalto.” E voltou a pesquisar. Até que chegou aos dispositivos bluetooth.
“Criei um sistema em que o semáforo faz essa busca por dispositivos emissores do sinal ao redor e encontra os que estão cadastrados.” Deu certo. O dispositivo escolhido foi uma tag em formato de chaveiro.
De acordo com o servidor, a instalação do novo sistema gera um acréscimo de custo, que é compensado pela redução do gasto com manutenção das botoeiras.
“Ficou mais econômico colocar esse sistema que aciona somente quando realmente precisa e que não está à vista das outras pessoas, porque não tem o vandalismo. Temos o custo um pouquinho maior de implantação, mas sem o custo da depredação”, diz.
A instalação de cada botoeira sonora comum custa cerca de R$ 1.500, segundo a Emdec. Os valores de manutenção dependem do serviço necessário e giram em torno de R$ 600 por ponto, além da mão de obra realizada pela equipe técnica da empresa. Já a instalação do sistema acionado com a tag custa cerca de R$ 5.000.
Nesse modelo, uma caixinha de metal é acoplada ao semáforo. Dentro dela é colocado o equipamento emissor de sinal bluetooth programado para identificar os dispositivos cadastrados.
Campinas tem hoje 25 semáforos adaptados com o sistema, todos na região central.
“Colocamos onde elas realmente passam. Os próximos vão ser instalados próximo à rodoviária e a shoppings.” A meta, segundo ele, é instalar 25 novos semáforos por ano. Nas ruas onde o sistema foi instalado é retirada a botoeira, e deficientes visuais que não tiverem a tag não conseguem acionar a acessibilidade.
Até o momento, cerca de 110 tags foram distribuídas gratuitamente pelas secretarias e institutos que contribuíram com o projeto.
Benedito Antônio Pazinatti, 56, foi o primeiro a testar, ainda em 2021. Ele, que preside o Conselho Municipal da Assistência Social, considera que a tag facilitou o deslocamento na cidade.
“Não precisa procurar onde está a botoeirinha para apertar. Só chegar próximo e o próprio dispositivo já fala: ‘Travessia solicitada’. Melhorou também para evitar vândalos. Antigamente lá em frente ao centro cultural os botões eram danificados e ficavam sem funcionar. Dava uma maior confusão [para atravessar]”, afirma.
De acordo com Conde, há 500 tags disponíveis para retirada. Dispositivos como relógios inteligentes também podem ser cadastrados no sistema. Para mais informações, é possível procurar a Emdec —188 (no caso de chamadas feitas a partir do DDD 19) ou para 19 3731-2910.
Cruzamentos onde os sinais estão instalados
Av. Washington Luiz x tv. ICCT
Av. Dr. Antônio Carlos Sales Jr X tv. Centro Cultural Louis Braille de Campinas
Av. Jorge de Figueiredo Corrêa X tv. Instituto CPFL
Av. Francisco Glicério x r. Barreto Leme
Av. Francisco Glicério x av. Benjamin Constant
Av. Francisco Glicério x r. Bernardino de Campos
Av. Francisco Glicério x r. General Osório
Av. Francisco Glicério x r. Campos Sales
Av. Francisco Glicério x r. Treze de Maio
Av. Francisco Glicério x r. Conceição
Av. Francisco Glicério x r. Ferreira Penteado
Av. Francisco Glicério x av. Dr. Moraes Sales
Av. Francisco Glicério x r. Cônego Cipião
Av. Adão Focesi x av. Se Antônio Lacerda Franco
Av. Anchieta x r. Barreto Leme
Av. Anchieta x av. Benjamin Constant
Av. Andrade Neves x av. Benjamin Constant
Av. Andrade Neves x r. Dr. Sebastião de Souza
Av. Orosimbo Maia x r. Delfino Cintra
Av. Dr. Moraes Sales x r. Irmã Serafina
Av. Orosimbo Maia x a. Francisco Glicério
Av. Benjamin Constant x tv. Terminal Mercado
Av. Benjamin Constant x r. Dr. Ernesto Khulmann
Av. Arlindo Joaquim de Lemos X r. Bofete
Av. Benjamin Constant x r. José Paulino
noticia por : UOL