A viagem da Europa até a Índia através do Cabo da Boa Esperança feita pelo explorador português Vasco da Gama, cuja morte completa 500 anos nesta terça-feira (24), abriu caminho para uma rota marítima que dominou o comércio global por quase quatro séculos.
Entre o descobrimento da rota por Vasco da Gama, no final do século 15, até a abertura do Canal de Suez, no final do século 19, viagens da Europa à Ásia aconteciam majoritariamente pelo Cabo da Boa Esperança. Antes disso, o comércio entre os dois continentes era realizado pelo mar Mediterrâneo e depois por terra, sendo controlado pelas cidades-estado italianas, principalmente Veneza, e pelo Império Otomano.
Com o descobrimento da chamada Rota do Cabo por Vasco da Gama, as trocas comerciais entre Europa e Ásia dispararam, em especial o comércio de especiarias, que deixou de ser monopolizado pelos italianos e enriqueceu o Império Português. Mais tarde, a colonização da Índia e da Indonésia por potências europeias como o Império Britânico tornou viagens pelo Cabo da Boa Esperança indispensáveis para a economia mundial.
Novas inovações na rota continuaram a ser descobertas antes que o Canal de Suez a tornasse obsoleta. Em 1611, o navegador holandês Hendrik Brouwer descobriu como utilizar fortes correntes de vento no sul do oceano Índico para encurtar a viagem entre a Holanda e a Indonésia através do Cabo da Boa Esperança de 12 para 6 meses.
Pouco tempo depois, em 1652, os holandeses fundaram na região a colônia da Cidade do Cabo, o primeiro povoamento europeu no sul da África. A cidade, que inicialmente era um forte, funcionava como um entreposto para navios que utilizavam a rota entre a Europa e a região da Indonésia, onde operava a Companhia Holandesa das Índias Orientais.
Entretanto, da mesma forma que a viagem de Vasco da Gama à Índia tornou a rota terrestre e pelo Mediterrâneo obsoleta, a inauguração do Canal de Suez em 1869 diminuiu consideravelmente a importância do Cabo da Boa Esperança para as rotas comerciais globais.
Construído por engenheiros franceses no Egito, o Suez ligou o Mediterrâneo ao mar Vermelho e encurtou a distância entra a Ásia e a Europa. Por causa do padrão das correntes de vento no mar Vermelho, barcos movidos a vapor que não dependiam de velas se tornaram comercialmente mais atrativos. Assim, a abertura do Suez também contribuiu para o fim dos veleiros no comércio mundial.
Hoje, um navio moderno demora em média 49 dias para sair do porto de Roterdã, na Holanda, e chegar em Singapura utilizando a Rota do Cabo. Viajando por Suez, esse tempo cai para uma média de 34 dias, tornando as viagens muito mais baratas.
De acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), cerca de 15 mil navios cargueiros passam pelo Cabo da Boa Esperança todo ano, com um volume médio de 1,6 bilhão de toneladas de 2020 a 2023. Em comparação, quase 20 mil navios e 1 bilhão de toneladas de mercadorias passaram pelo Canal de Suez somente em 2019, segundo o governo egípcio. Nos últimos anos, 10% do comércio mundial passava pelo canal, de acordo com dados da ONU.
A Rota do Cabo teve, no entanto, sua importância revivida recentemente. Com os repetidos ataques dos rebeldes houthis, do Iêmen, contra navios que passam pelo mar Vermelho em direção ao Canal de Suez, empresas passaram a enviar seus cargueiros pelo sul da África com mais frequência.
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Essa decisão, por sua vez, aumentou o preço do transporte marítimo mundial —no espaço de um ano, o frete de um contêiner da China para a Costa Oeste dos Estados Unidos aumentou 217%. Se a crise perdurar, é provável que os preços de mercadorias vindas da Ásia aumentem em todo o mundo, apontam especialistas.
noticia por : UOL