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Biden condiciona relação EUA-Israel a mudança de posição de Tel Aviv em Gaza

Pela primeira vez desde o início da guerra Israel-Hamas, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, falou publicamente em condicionar o apoio a Tel Aviv a uma mudança de postura do aliado na Faixa de Gaza.

Em um telefonema nesta quinta-feira (4), o americano afirmou ao primeiro-ministro Binyamin Netanyahu que o país precisa adotar passos “específicos, concretos e mensuráveis” para lidar com danos a civis, sofrimento humanitário e segurança de trabalhadores humanitários em Gaza.

Biden cobrou de Netanyahu um cessar-fogo imediato para estabilizar a região, proteger civis e combater a crise humanitária na região. É a primeira vez que o líder americano defende a cessação das hostilidades sem condicioná-la à libertação de reféns pelo Hamas.

“Biden enfatizou que os ataques contra trabalhadores humanitários e a situação humanitária em geral são inaceitáveis”, afirmou a Casa Branca em nota sobre o telefonema, que durou cerca de 30 minutos. “Ele deixou claro que a política dos EUA em relação à Faixa de Gaza será determinada pela nossa avaliação da ação imediata de Israel sobre essas medidas.”

O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, questionado por jornalistas em Bruxelas, enfatizou o condicionamento presente no comunicado da Casa Branca. “Se não virmos as mudanças que precisamos ver, haverá mudanças na nossa política.”

Blinken seguiu em tom duro ao comentar a conversa entre as duas lideranças. Disse, por exemplo, que o que distingue democracias de grupos terroristas é o valor dado à vida humana —as menções foram indiretas, mas o recado da comparação entre Israel e Hamas foi evidente. “Se perdermos essa reverência pela vida humana, corremos o risco de nos tornarmos indistinguíveis daqueles que confrontamos”, afirmou o secretário de Estado.

Após a conversa, Tel Aviv anunciou a abertura temporária do porto de Ashdod para a entrada de ajuda humanitária no território palestino. A passagem de Erez, ao norte da Faixa de Gaza, também deve ser reaberta pela primeira vez desde os ataques do Hamas. O gabinete do primeiro-ministro israelense prometeu ainda ampliar a ajuda humanitária vinda da Jordânia pela passagem de Kerem Shalom.

“O aumento da ajuda evitará uma crise humanitária e é fundamental para garantir a continuação dos combates e alcançar os objetivos da guerra”, afirmou o gabinete.

As declarações americanas marcam a posição mais dura adotada pelo país até agora em relação a Israel, a quem Biden prometeu “apoio total” no início do conflito —que completa seis meses no próximo domingo (7). O presidente americano, que tem uma longa trajetória de alinhamento a Israel, chegou a se definir como sionista em discursos.

Mas a relação entre Washington e Tel Aviv vinha se desgastando nas últimas semanas. A diplomacia americana, por exemplo, tem feito reiterados alertas relacionados à iminente ofensiva planejada por Tel Aviv em Rafah, cidade no extremo sul do território onde hoje estão abrigados mais de 1 milhão de palestinos forçados a se deslocar pelo conflito.

Sob pressão, Netanyahu até aceitou enviar a Washington uma delegação israelense para discutir com os americanos o plano da incursão terrestre, mas a viagem foi cancelada devido a outra rusga entre os dois países.

Os EUA, que sempre blindaram Tel Aviv no Conselho de Segurança da ONU com vetos a resoluções que poderiam limitar a ação militar israelense, abstiveram-se na votação do texto que determinou um cessar-fogo imediato em Gaza.

Isso abriu caminho para que a proposta fosse aprovada, embora Israel não tenha dado nenhum sinal de que pretende respeitá-la, e mesmo os EUA tenham dito que o caráter da resolução não é vinculante —uma distorção do propósito de existência do Conselho de Segurança.

Outro ponto de tensão na crise entre os aliados históricos foi o ataque a um comboio da ONG World Central Kitchen (WCK) por forças israelenses na segunda-feira (1º). Morreram sete funcionários da entidade que distribuía alimentos aos palestinos no território em conflito, e isso gerou enorme repercussão negativa internacional, além de renovar o fôlego dos opositores domésticos de Netanyahu.

A Casa Branca se disse “indignada” com o ataque e cobrou do aliado uma “investigação ampla” e responsabilização dos culpados. Mas o tom mais duro por enquanto não se traduziu em ações concretas de Washington, e mesmo a base democrata apontou a falta de medidas concretas contra Israel.

Em seu perfil no X, por exemplo, Ben Rhodes, conselheiro de segurança nacional durante o governo Obama, apontou que os EUA ainda estão fornecendo bombas e munições em apoio a Tel Aviv. “Enquanto não houver consequências substantivas, essa indignação não quer dizer nada. Bibi obviamente não se importa com o que os EUA falam, mas com o que os EUA fazem”, afirmou.

Biden, que disputa a reeleição em novembro contra Donald Trump, vem enfrentando protestos de sua própria base nas primárias democratas, sobretudo de eleitores mais jovens, devido a seu apoio a Israel. A releitura do pleito de 2020 até aqui se mostra mais favorável ao candidato republicano, e o democrata não pode se dar o luxo de perder força política com esse desgaste se quiser se manter na Presidência.

Apesar de todo esse cenário, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, afirmou nesta quinta que o apoio dos EUA a Israel segue “inabalável”.

Mais de 33 mil palestinos foram mortos em Gaza desde a eclosão do conflito, em 7 de outubro, segundo o Ministério da Saúde local —cerca de dois terços das vítimas são mulheres e crianças. Entre trabalhadores humanitários, foram mais de 180 mortes, afirma a Organização das Nações Unidas.

Todos os mais de dois milhões de habitantes de Gaza estão em situação de insegurança alimentar. Na região norte da Faixa, o cenário é considerado “catastrófico” pela escala IPC (Classificação de Fase Integrada de Segurança Alimentar). Até julho, a projeção feita pela ONU é que metade da população de Gaza estará passando fome e outras 854 mil pessoas estarão em situação de emergência.

noticia por : UOL

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