MUNDO

Batons mentirosos minimizam a gravidade da violação da democracia no Brasil

O nível global de democracia em 2023, segundo o Instituto V-Dem (Universidade de Gotemburgo), é o menor desde 1985. O relatório, elaborado com a colaboração de 4.200 especialistas, analisa mais de 600 atributos democráticos. Atualmente, 71% da população mundial —cerca de 5,7 bilhões de pessoas— vivem sob regimes autocráticos, um aumento de 48% em apenas dez anos. Em 2003, apenas 7% viviam em processos de autocratização; em 2023, esse número saltou para 35%.

Segundo o Democracy Index 2024, divulgado pela The Economist Intelligence Unit, o Brasil recuou seis posições, ficando na 57ª colocação entre 165 países —atrás do Suriname. O índice avalia aspectos como processo eleitoral, pluralismo, funcionamento do governo, participação política, cultura política e liberdades civis. Por aqui, assistimos ao sucateamento do debate democrático, com a normalização das urgências de votação no Congresso —de 22, em 2008, para mais de 400, em 2024.

A Noruega é o país mais democrático do mundo, seguida pela Nova Zelândia e pela Suécia —os mesmos que também lideram o ranking de controle da corrupção. No extremo oposto estão Afeganistão, Myanmar e Coreia do Norte.

De forma igualmente enganosa à narrativa sobre o caso Daniel Silveira —que, ao contrário do que foi dito, não foi condenado apenas por “xingar ministros”—, assistimos recentemente ao uso hábil do “batom retórico” para minimizar a gravidade da violação à ordem democrática. Trata-se de um dos crimes mais severos do nosso ordenamento, motivo central das condenações tanto do deputado quanto de Débora Rodrigues dos Santos.

Impostores fantasiados de super-heróis e suas “balas de prata” iludem a população, enquanto enfrentamos uma sabotagem grave e contínua às políticas de combate à corrupção. Precisamos de transparência como estratégia e de instituições sólidas e estáveis —fundamentais para o desenvolvimento e a riqueza das nações, como destacou Daron Acemoglu, Nobel de Economia.

*Roberto Livianu, procurador de Justiça de São Paulo, é presidente do Inac (Instituto Não Aceito Corrupção)

noticia por : UOL

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