MUNDO

A foto que causou um debate racial na Inglaterra

Em um dia de sol em Londres, 27 mulheres posam sorridentes para uma foto.

Elas têm motivo para estarem felizes e orgulhosas de si mesmas. Fazem parte do time profissional do Arsenal, são as estrelas da Women’s Super League (WSL), primeira divisão do futebol feminino inglês na temporada 2023/2024. Entre elas, inclusive, está a brasileira Gio Queiroz. Não há dúvidas de que merecem estar ali. Mas nem todo mundo ficou satisfeito quando viu a tal foto. O motivo? Todas as jogadoras são brancas.

O fato de o elenco não ter negras ou atletas de minoria étnica gerou críticas ao clube que tradicionalmente preza pela diversidade entre funcionários e no time masculino. O Arsenal rapidamente se manifestou, reconhecendo a questão e afirmando que diversidade e inclusão são uma prioridade.

Ambos são fundamentais em todos os setores das nossas vidas. Mas o incidente gerou um debate sobre o ambiente extremamente competitivo do esporte profissional. Ao falar sobre o caso, uma comentarista negra de um canal conservador britânico disse: “Se você quer vencer, escolhe as melhores jogadoras. Simples assim. No atletismo você precisa ter um branco? Claro que não”.

Discussões sobre inclusão no futebol feminino acontecem há alguns anos no Reino Unido, e vejo similaridades com o Brasil. A treinadora da seleção inglesa, Sarina Wiegman, já foi questionada sobre a falta de diversidade de seu elenco –com só três jogadoras que não são brancas. “Isso não vai se resolver de um dia para o outro”, lamentou a técnica da equipe campeã da Euro e finalista mundial. Emma Hayes, treinadora do Chelsea feminino, lembrou, em tom de crítica, que o futebol para mulheres na Inglaterra é um “esporte de classe média,” majoritariamente branca no país.

Há algumas explicações para essa falta de diversidade.

Quando falamos de talento nacional, o grande problema não é o fim da linha, o esporte profissional, mas quem tem chances de chegar até lá. É a origem.

O futebol masculino inglês é tão diverso também porque sempre foi popular. Mulheres foram proibidas de jogar profissionalmente na Inglaterra por quase 50 anos, até 1970. O investimento pesado no feminino começou há pouco mais de dez anos. Iniciativas da federação de futebol de, por exemplo, identificar meninas talentosas em áreas menos favorecidas mostram a vontade de fazer o esporte chegar a todas as classes.

Dados da Associação de Jogadores Profissionais indicam que só 15% das jogadoras da WSL são negras ou de minorias étnicas. Em muitos clubes, a estrutura de recrutamento no feminino é menor do que no masculino. Ao contratarem para o profissional, o foco, claro, é tentar trazer as melhores do mundo. Isso ainda esbarra, por exemplo, no fato de alguns locais da África e da América do Sul ainda estarem desenvolvendo seu futebol feminino, o que dificulta a identificação dos talentos.

Outro desafio é incentivar meninas a praticar esportes. Estudos britânicos mostram que elas têm mais chances de abandonar atividades físicas do que os meninos, por falta de apoio dos pais e de confiança, por vergonha do corpo na adolescência, por dores quando começam a menstruar.

Quando gestores e governos criarem oportunidades de acesso ao esporte desde a infância, meninas de todas as origens poderão competir com igualdade ao tentarem uma vaga no alto rendimento. Faltam alguns anos para que diversidade e inclusão estejam de fato presentes no futebol profissional feminino, mas o caminho por aqui parece estar sendo trilhado.


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noticia por : UOL

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