GOSPEL

Jesus e o Lenço

Da Redação – Jonas Mendes

Comumente ouvimos mensagens baseadas no texto de Jo 20:6,7. Por vezes, essas mensagens giram em torno da segunda vinda de Cristo e baseiam-se numa suposta tradição judaica. Esses versos – Jo 20:6,7 – estão inseridos no contexto da ressurreição de Jesus. João relata que, após serem avisados por Maria Madalena sobre o aparente roubo do corpo de Jesus, Pedro e o discípulo amado correm em direção ao sepulcro, onde se deparam com as faixas de linho, que cobriam o corpo de Jesus, no chão; e o lenço, que outrora cobria a face de Jesus, dobrado à parte. A passagem nos leva a indagar: O que isso significa? Por que o lenço estava dobrado à parte? Para explicar isso, alguns recorrem a uma suposta “tradição judaica”, que pode ser encontrada em inúmeros blogs e sites. Segundo essa tradição, o lenço era usado pelo Amo para sinalizar ao servo se ele havia terminado ou não sua refeição. Deixar o lenço embolado sobre a mesa significava: “Eu terminei”. Deixar o lenço dobrado significava: “Eu voltarei!” A associação decorrente é clara, se o lenço dobrado deixado pelo Amo ao servo dizia: “Eu voltarei”; o lenço dobrado deixado por Jesus aos discípulos diz o mesmo. Nessa perspectiva, o lenço dobrado possui uma simbologia de imenso valor, pois fortalece a esperança da volta de Cristo para buscar Sua Igreja. Mas, será que podemos afirmar, convictamente, que esse era o real significado do lenço dobrado? Me parece que não, simplesmente porque não há evidências suficientes que sustentem a afirmação de que Jesus usou tal tradição.

Sobre a expressão “dobrado” em Jo 20:7, não há consenso quanto a melhor tradução da palavra grega ἐντετυλιγμένον; ela foi traduzida como: “enrolado” (NAS); “envolto” (KJV); “embrulhado” (WBT); e, “dobrado” (INT). Essa mesma palavra é usada em Mt 27:59 e Lc 23:53, com o sentido de envolver (NAS e KJV), e de embrulhar (INT). Diante disso, fica difícil dizer se o lenço – originalmente – estava dobrado, embrulhado ou enrolado, o que, consequentemente, lança um desafio à utilização da “tradição” do lenço dobrado, pois talvez o lenço no túmulo de Jesus estivesse enrolado, ou embrulhado. Outro fator que precisa ser levado em conta, é a ausência de fontes confiáveis que falem sobre a referida tradição. Nenhum dos sites ou blogs que mencionam a suposta tradição, citam fontes primárias ou secundárias confiáveis sobre ela. Não consigo visualizar um só comentarista do Evangelho de João, que faça menção à tradição. Será que os comentaristas desconheciam tal tradição? Ou será que não a consideraram verdadeira? Ou talvez, ainda que verdadeira, sem relevância para o entendimento do texto? A ausência de elementos comprobatórios, seja internos ou externos, deveria – no mínimo – servir de alerta para que não sejamos apressados em construir mensagens sobre fundamento tão inseguro. Para podermos afirmar, peremptoriamente, que Jesus uso tal tradição, teríamos que provar a veracidade da mesma, e, além disso, que Jesus recorreu-se a ela.

Temos ainda o desafio de conciliar a volta do Amo com a volta de Cristo. Pois, a associação entre elas se mostra inadequada. O lenço dobrado na mesa indicava o retorno do Amo à mesa. Mas, e o lenço no túmulo? Indicaria que Jesus voltaria ao túmulo, assim como o Amo voltaria à mesa? Perceba que a associação parece funcionar inadequadamente. Qual era a intenção do lenço dobrado então? Evidenciar que o corpo de Jesus não tinha sido roubado. Afinal, um ladrão não se daria ao trabalho de dobrar ou enrolar o lenço antes de fugir. O lenço tinha sido enrolado com cuidado e colocado de lado por alguém que não mais precisava dele. Ao olhar as roupas fúnebres de linho e o lenço adicional que estivera ao redor da cabeça de Jesus enrolado no canto, a única explicação possível era de que o Jesus que fora sepultado nesse túmulo novo — tinha ressuscitado dos mortos.

JONAS MENDES: Ministro do Evangelho, Pedagogo, Bacharel em Teologia, Pós-Graduado em Teologia do Novo Testamento. Possui Licenciatura e Mestrado em Filosofia pela UFMT. Professor de filosofia e sociologia no curso de Direito da faculdade Fasipe – CPA, Cuiabá.

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