A Polícia Civil e o Ministério Público estadual do Rio de Janeiro (MP-RJ) descobriram mensagens de texto em telefones celulares que reforçam a suspeita de que a deputada Flordelis (PSD-RJ) planejou matar o marido, o pastor Anderson do Carmo, executado com mais de 30 tiros em 16 de junho de 2019, na porta de casa, em Niterói.
“André, pelo amor de Deus, vamos pôr um fim nisso. Me ajuda. Cara, estou te pedindo, te implorando. Até quando vamos ter que suportar esse traste no nosso meio? Falta pouco. Me ajuda, cara. Por amor a mim”, escreveu Flordelis em uma mensagem enviada em outubro de 2018 ao filho André Luiz de Oliveira.
Nesta segunda-feira (24), oito pessoas foram presas envolvimento no crime. Entre elas, estão cinco filhos e uma neta de Flordelis, acusada de ser mandante do assassinato. Ela, que nega participação, não pôde ser presa por causa da imunidade parlamentar.
O plano para matar Anderson, segundo as investigações, começou em maio de 2018, com um envenenamento por arsênico ou cianeto, e terminou com a execução.
Segundo a polícia, foram diversas tentativas de matar o pastor Anderson – uma delas estaria comprovada em uma mensagem de fevereiro de 2019, quatro meses antes da morte dele. O aparelho nunca foi encontrado.
Em uma das mensagens, a deputada escreveu ao filho Carlos Ubiraci Silva:
“Dez mil depois do serviço feito, mas as outras pessoas do carro não podem ser atingidas. Simula um assalto, ele foi para o Rio hoje e aproveita e já espera ele na volta. Se voltar no [carro] dele, melhor ainda. Vou mandar ele enviar a foto, nós vamos saber qual o carro e qual a placa”.
Em outra troca de mensagens, de dezembro de 2018, Flordelis conversou com o filho André Luiz de Oliveira, que escreveu: “Mãe, eu estou com a senhora. Não dá pra eu fazer muita coisa, mas estou com a senhora”.
E Flordelis respondeu: “Vamos sofrer pra caramba mas vai passar… Só essa ajuda que preciso que você faça ele comer ou beber alguma coisa, um arroz fresquinho com um franguinho que não faz mal. Só isso”.De acordo com as investigações, a deputada prestou auxílio material e moral no crime. Ela teria dado dinheiro para a compra da arma, já que um dos filhos, Flávio dos Santos Rodrigues, recebia menos de R$ 2 mil como motorista de aplicativo.
A pistola e a munição custaram cerca de R$ 10 mil, e Flávio sempre tentou sustentar a versão de que dividiu essa quantia com Lucas Cezar dos Santos, também filho de Flordelis e Andarson.
Segundo as investigações, a deputada – que teria avisado ainda da chegada de Anderson ao local do crime, na casa do casal em Niterói – arregimentou, incentivou e convenceu os outros denunciados, além de ter forjado a simulação
Filhos de Flordelis são presos por suspeita no envolvimento na morte do pastor Anderson do Carmo — Foto: Reprodução / TV Globo
O envenenamento
Os investigadores consideram que, em pelo menos seis ocasiões, Flordelis e seus filhos Carlos Ubiraci Silva, André Luiz de Oliveira, Simone dos Santos Rodrigues e Marzy Teixeira da Silva manipularam com veneno os alimentos e bebidas de Anderson – e fizeram isso de forma continuada e sucessiva.
Pareceres médicos anexados no inquérito detalharam que isso provocou intoxicação em Anderson.
Para a polícia, a deputada arregimentava cúmplices da casa para colocar os “remédios” momentos antes de Anderson comer ou beber, com a desculpa que seriam medicamentos para ansiedade.
Nesse plano, Simone e Marzy foram atuantes, segundo a denúncia, uma vez que auxiliaram na busca e aquisição das substâncias tóxicas. Ambas procuraram na internet por cianeto.
Em outras frentes, os outros cúmplices eram importantes para incentivar a vítima a ingerir os alimentos e bebidas ministradas com veneno ou evitar que pessoas próximas do núcleo familiar consumissem os alimentos já envenenados, o que de vez em quando não era possível.
Em pelo menos dois episódios, dois moradores da casa passaram mal ao beber um suco e leite fermentado que estavam na geladeira de Anderson.
O pastor passou dias internado e se recuperou. Segundo o Ministério Público, Flordelis adotou um plano mais eficaz já que não obteve resultado.
Para a polícia, essa trama está relacionada ao final de 2018, quando depoimentos e conversas remetem à contínua manutenção de medicamentos na bebida e comida do pastor. Neste sentido, os boletins de atendimentos hospitalar do período corroboram as versões.
O que diz a defesa de Flordelis
A jornalistas na delegacia, o advogado Anderson Rollemberg disse ter ficado surpreso.
“A defesa foi surpreendida com essas prisões preventivas das cinco filhas da deputada e da neta. Tomaremos conhecimento do que há de indícios para que essas prisões fossem feitas e para o indiciamento da deputada, já que na primeira fase da investigação, passou longe de qualquer prova que a apontasse como mandante”, afirmou.
Segundo o advogado, Flordelis não tinha ingerência sobre o dinheiro da família. “Ela é cantora gospel, líder religiosa e parlamentar federal. A questão dela sempre foi dar o melhor para os necessitados. Por isso tinha mais de 50 filhos. Na opinião da defesa, está havendo um grande equívoco no desfecho desta investigação”.