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Mulheres na ciência: 5 pesquisadoras brasileiras que fazem a diferença

Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência
Divulgação

Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência

As estatísticas apontam que a ciência ainda é um setor dominado pelo gênero masculino. Dados da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura), mostram que as mulheres estão presentes em apenas 3 de cada 10 ocupações em ciência, tecnologia, engenharia e matemática no Brasil, ainda que representem 44% da força de trabalho no país, de acordo com dados de 2020 da Relação Anual de Informações Sociais – RAIS.

Dados do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), indicam que as mulheres brasileiras atuantes na área de pesquisa são altamente qualificadas, sendo mais numerosas do que os homens. Levantamento recente, extraídos da Base Lattes em 21 de janeiro de 2024 em atendimento a consulta da Embrapii, indica haver um total de 822.550 currículos atualizados, entre mestres e doutores em atividade no país, nos últimos cinco anos. As mulheres são maioria nesse universo, com 441.849 currículos (53,72%), contra 380.701 (46,28%) dos homens.

Apenas no ano de 2023, foram registrados 42.852 grupos de pesquisa ativos no CNPq, atuando em 156.386 linhas diferentes, que envolveram o trabalho de um total de 247.455 pesquisadores. Destes, 129.090 são mulheres, representando 52% do total. Entre essas pesquisadoras, 65% já concluíram o doutorado. As principais áreas de atuação são: Ciências Humanas, Ciências da Saúde, Sociais Aplicadas, Letras e Artes, Ciências Biológicas, Engenharias e Computação, Ciências Exatas e da Terra, entre outras.

Apesar da alta qualificação, os cargos de liderança ainda são pouco ocupados pelas mulheres. Dos grupos de pesquisa, apenas 17.985 são coordenados pelo gênero feminino, segundo dados do CNPq. Ou seja, apenas 13,5% das 129.090 pesquisadoras estão chefiando equipes. E essa é a reflexão proposta pelo Dia Internacional das Meninas e Mulheres nas Ciências, celerado em todo o mundo no dia 11 de fevereiro. A data foi criada pela Unesco e pela ONU-Mulher para promover a igualdade de gênero na ciência.

“As estatísticas revelam uma significativa disparidade de gênero na ciência. Apesar de representarem a maioria de mestres e doutores ativos nos últimos 5 anos, a presença das mulheres diminui conforme ascendem nas posições hierárquicas, enfrentando desafios como menor acesso a financiamento e oportunidades de destaque. Precisamos de políticas públicas robustas para que essa discrepância, que é histórica, se afaste da cada vez mais e que os espaços sejam ocupados de forma equitativa. E a ciência tem papel relevante nesta construção”, destaca a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos.

Para homenagear aquelas que representam a força feminina da instituição, a Embrapii traz para os holofotes cinco pesquisadoras que contribuem para os projetos de desenvolvimento tecnológico que envolvem o órgão e impulsionam a inovação brasileira. A partir deste ano, a instituição pretende criar meios para incentivar que as pesquisadoras das 95 Unidades Embrapii venham a assumir posições hierárquicas, de forma mais igualitária aos homens.

“É um problema percebido, especialmente em áreas que lidam com conhecimento e inovação, essa assimetria entre a participação das mulheres na sociedade e a presença delas nesses ambientes de trabalho. A Embrapii se soma a essa preocupação global e pretende desenvolver uma estratégia própria de estímulo, em parceria com as Unidades Embrapii, para ampliação da participação das mulheres nesses ambientes. Temos que trabalhar para equalizar e não fazer nenhuma concessão generosa. A mulher tem toda capacidade.”, comenta o presidente da Embrapii, Chico Saboya.

Meninas na ciência

Apaixonada pela área de STEM – termo da engenharia que engloba física, matemática, ciência e tecnologia -, Jorsiele Damasceno Cerqueira, 34 anos, gerente da área tecnológica de automação industrial do Senai Cimatec, conta com empolgação sobre o Garotas 4.0, uma iniciativa do Senai Cimatec, que conta com o apoio da Embrapii, onde meninas têm contato pela primeira vez com robótica, ciência e tecnologia. Muitas alunas se imaginavam atuando em áreas como direito, empreendedorismo, entre outras, mas nunca tinham pensado na possibilidade de serem pesquisadoras e cientistas, até a chegada do projeto.

Hoje, a iniciativa cresceu e conta com incentivos de órgãos internacionais, como o Instituto Alemão, do Google, além de conseguir bolsas de estudos para as estudantes e intercâmbio de conhecimento com alunas da Universidade Purdue, nos Estados Unidos. “Falo com brilho nos olhos deste projeto, pois abriu uma perspectiva de vida para muitas meninas, principalmente, para alunas carentes que viram que é possível ter mais uma oportunidade. Ganhamos alguns prêmios e reconhecimentos com este projeto, além de publicações sobre esse tema tão importante, mulheres na área de STEM”, finaliza a pesquisadora.

Pioneirismo na fibra óptica e liderança em quântica

Nos anos 90, a introdução da World Wide Web e uso comercial da internet levou a um crescimento exponencial da demanda nas redes de comunicação, que contempla a área de óptica, da física aplicada. Na época, a pesquisadora Valéria Loureiro da Silva, 60 anos, já estudava fibra óptica antes de virar uma febre por conta da internet. Ela investigava sobre os efeitos que poderiam ajudar a aumentar a quantidade de dados transmitidos pela tecnologia.

Com vasta experiência em pesquisa e desenvolvimento adquiridas nos Estados Unidos, Valéria voltou para o Brasil e há 11 anos é líder do Laboratório de Engenharia Óptica e Fotônica e, atualmente, coordenadora do Centro de Competências Embrapii em Tecnologias Quânticas no Senai Cimatec, em Salvador (BA). A Embrapii foi destaque em um levantamento da Qureca, empresa britânica de capacitação e de fomento empresarial em tecnologia quântica, como a única iniciativa na América Latina de desenvolvimento de uma tendência global da indústria do futuro.

“O Senai Cimatec foi um ótimo casamento para mim, pois na Corning, uma das maiores fabricantes de fibra óptica do mundo, eu trabalhava muito com desenvolvimento de produto e pesquisa aplicada, e hoje em dia faço ações similares junto com meus alunos, e sinto muita satisfação quando vejo a física aplicada para resolução de problemas”.

Valéria ressalta que, na prática, o cliente ou empresa chega com alguma defasagem que ocorre na operação do dia a dia, e ela, juntamente com seus alunos, desenvolve a instrumentação, os sensores óticos, a aplicação e o andamento do projeto, para chegar à solução do desafio imposto.

Atualmente, a pesquisadora e professora lidera pesquisas e aplicações nas áreas de tecnologias quânticas realizadas no Centro de Competência Embrapii. Os estudos em técnicas de criptografia quânticas tornarão a transmissão de dados mais seguras, dificultando o hackeamento e a invasão. Essa tecnologia se torna cada vez mais importante em um mundo digital, em ações que contemplam desde transações bancárias, dados pessoais, de saúde, até de segurança nacional.

Valéria enxerga a força feminina na área de pesquisa. “Acho que pelo fato de eu ser mulher, acabo influenciando para que alunas procurem nosso projeto para estudar e colaborar”, conta.

Maternidade e ciência

Natural de João Pessoa, na Paraíba, Samara Nascimento é uma mulher que não desiste dos seus sonhos e da ciência. Mãe de três filhos, ela interrompeu os estudos por algum tempo, em razão das gestações, mas, agora, aos 31 anos e com uma experiência acumulada de diversos estágios na área de pesquisa científica, está prestes a concluir o ensino superior e se tornar, oficialmente, pesquisadora na Unidade Embrapii do Polo de Inovação do Instituto Federal da Paraíba (IFPB), na área de sistemas de manufatura e automação.

Em João Pessoa, Samara casou e teve o primeiro filho 2017. Um ano depois, conseguiu se colocar no mercado de trabalho. Em 2018, engravidou novamente e, em 2019, decidiu voltar ao curso superior de Automação Industrial no Instituto Federal da Paraíba – IFPB. Quando já havia retomado as aulas, descobriu a gestação do terceiro filho, que nasceu em 2020, durante a pandemia do coronavírus.

“Lembro de ouvir as aulas enquanto amamentava ou dava banho no bebê, quando as atividades da faculdade retomaram de forma on-line. Não era fácil, mas nunca usei meus filhos como desculpa para deixar de ir atrás de meus sonhos e objetivos. Pelo contrário, tudo o que faço é pensando neles. Posso dizer que não sou uma pessoa que desiste facilmente de nada”, destaca.

Com o fim da pandemia, Samara retornou à Universidade e se candidatou a uma vaga de estágio na Unidade Embrapii, na área de sistemas para manufatura. Concorrendo com mais quatro colegas, todos do gênero masculino, foi aprovada para trabalhar no Laboratório Assert. Inicialmente, ficou alocada na área de desenho mecânico, mas em razão de sua curiosidade e proatividade, foi transferida para atuar na área de automação, onde faz trabalho pesado na montagem de painéis e instalação de componentes em máquinas industriais.

Samara concluiu a grade de disciplinas e agora está em fase de elaboração do Trabalho de Conclusão do Curso (TCC). O próximo passo, segundo ela, é buscar uma vaga efetiva na Universidade. “Há uma boa chance de ser contratada como pesquisadora, depois que me formar. Tenho orgulho da minha trajetória e destaco que só cheguei até aqui por causa do apoio do meu esposo, que sempre me incentivou a estudar e trabalhar, e da minha família que sempre me ajudou no cuidado com as crianças e em diversos outros aspectos”.

Mais mulheres negras na ciência

A pesquisadora Adriana Correa da Silva nasceu em Porto Alegre e, com apenas 36 anos, já trilhou um longo caminho de sucesso profissional e acadêmico. Hoje ela é pesquisadora de pós-doutorado na Unidade Embrapii-Ceinfar/USP (Centro de Inovação em Fármacos do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo) e atua em um projeto para identificação de novos fármacos para doenças negligenciadas como, por exemplo, doença de Chagas, leishmaniose e chikungunya. Mulher, negra e com origem de classe média baixa, ela é um exemplo para jovens meninas que desejam ingressar no mundo da ciência.

Adriana estudou em escola pública e tentou ingressar na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) por dois anos, após se formar no curso de Auxiliar de Laboratório. Em 2009, conquistou uma vaga no curso de Biomedicina, através da política de Ações Afirmativas implementada pela universidade. Inicialmente, teve dificuldades com o alto nível de estudos exigidos no curso – um dos mais concorridos da UFRGS.

Porém, por meio dos Programas de Apoio à Graduação (PAG), mantidos pela Universidade para auxílio aos estudantes ingressantes pela Ações Afirmativas, entre outros, conseguiu superar as barreiras da diferença de qualidade entre o ensino médio e o ensino superior. “Durante a faculdade, cheguei a fazer estágios em banco de sangue e em laboratórios de análises clínicas. Mas a bolsa de iniciação científica me deu a oportunidade para que, bastante cedo, já pudesse perceber que a área de pesquisa era algo de que gostava. A consolidação da minha carreira veio a partir dessa experiência”, conta Adriana.

Terminando a graduação, já iniciou o mestrado em Biologia Molecular e Celular, também na UFRGS. Logo em seguida, ingressou no doutorado em Biotecnologia e Biociências na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Como parte das atividades do curso, ela conquistou uma bolsa de doutorado sanduíche da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e estudou na London School of Hygiene and Tropical Medicine, em Londres, na Inglaterra, onde realizou um trabalho de pesquisa utilizando um método inovador, a bioluminescência para avaliação de tratamentos para doenças negligenciadas.

“Durante o período em que estudei em Londres, tive contato com mais pessoas etnicamente diversas, como mulheres e homens árabes, africanos e asiáticos, no ambiente acadêmico do que no Brasil. Tive que ir a um país europeu para me sentir mais confortável e melhor recebida, para me sentir fortalecida do ponto de vista das diversidades raciais e de gênero.”, avalia Adriana. “No Brasil, existe preconceito e a mulher é subjugada. Ainda é muito comum que me perguntem se trabalho na faxina ou na administração. Pouco me perguntam se sou pós-doutoranda ou se tenho uma posição de liderança”, relata.

Adriana destaca que o assunto precisa ser debatido para que as novas gerações encontrem menos barreiras pela frente. “Ainda desmerecem o valor científico e profissional da mulher. Ela sempre precisará ter um currículo impecável para se destacar. O peso de uma falha de uma mulher sempre será maior do que uma falha de um homem branco. A gente precisa de outras mulheres negras falando sobre ciência e se expressando para criarmos uma normalidade no ambiente científico”, pontua.

A partir de todas as experiências acadêmicas e profissionais que acumulou, há pouco mais de dois anos, Adriana foi contratada para atuar como pesquisadora na parceria firmada com a Drugs for Neglected Diseases initiative (DNDi) e a Unidade Embrapii-Ceinfar/USP. Hoje, busca soluções inovadoras para o combate às doenças comuns em países tropicais, classificadas como negligenciadas pela OMS (Organização Mundial de Saúde), pelo baixo grau de investimento por parte das agências de pesquisa mundiais e indústria farmacêutica, em comparação com o alto índice de pessoas afetadas. A pesquisadora a satisfação de poder contribuir para a busca de soluções nessa área, que é um desafio para a saúde pública brasileira e mundial.

No mundo de TICs

Moradora do município de Formiga, no interior de Minas Gerais, e pertencente a uma família de baixa renda, Thaciane Nayara Oliveira, 19 anos, estudou em escolas públicas durante toda a vida. Com boas notas, foi aprovada conquistou uma vaga para cursar o ensino técnico no Instituto Federal Minas Gerais (IFMG), campus Formiga. Ela acaba de concluir o curso de informática e pretende continuar os estudos para trabalhar com desenvolvimento de websites.

Thaciane conta que quando ingressou no ensino técnico encontrou uma sala de aula composta predominantemente por meninos. “De um total de 30 alunos, pouco mais de dez eram meninas. E ainda podemos dizer que a minha turma foi uma exceção, com número de meninas acima da média. A maioria delas, no entanto, pretende atuar em áreas mais voltadas para humanas. São poucas que, como eu, vão migrar para o desenvolvimento de sistemas.”, avalia.

Durante os três anos do curso, contou com auxílio permanente oferecido pelo IFMG para alunos de baixa renda, tendo recebido R$ 150 por mês nos dois primeiros anos e R$ 400 por mês no ano de conclusão. Thaciane se destacou na área de desenvolvimento e, por esse motivo, foi selecionada para um estágio na Unidade Embrapii do IFMG. Ela atuou no projeto “Plataforma Prumo de Inteligência Operacional”, que prevê a construção de um sistema que permitirá que a empresa possa identificar oportunidades de negócios de forma automatizada.

Atualmente, Thaciane estuda para ingressar no curso de Ciências da Computação, no próprio IFMG. Ela espera que, no futuro, as mulheres sejam mais valorizadas e encontrem menos barreiras ao trabalhar em áreas predominantemente ocupadas por pessoas do gênero masculino.

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Fonte: Mulher

FONTE : MatoGrossoNews

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