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Por que as lives NPC geram satisfação para quem as assiste? Especialistas explicam


Nas últimas semanas, as lives NPC tomaram conta dos assuntos mais comentados em rodas sociais — seja pelos adeptos e consumidores, ou por aqueles que enxergam o conteúdo com estranheza. Nos vídeos, os criadores agem como personagens de videogame enquanto recebem presentes e interações financeiras. 



Em um vídeo no Tik Tok, a psiquiatra Maria Clara Silveira explicou o porquê de as pessoas gostarem de consumir esse tipo de conteúdo. 


De acordo com a médica, esse comportamento envolve a ativação do sistema de recompensas do cérebro humano.


“Quem está assistindo recolhe uma recompensa virtual, que é a reação daquele criador de conteúdo, e o criador, agindo dessa forma, recolhe uma recompensa em dinheiro. É um circuito de ação e recompensa, que é muito bem coordenado pelo cérebro.”



A psiquiatra Julia Trindade, membro da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) afirma que os circuitos de recompensa cerebrais envolvem a liberação de dopamina, neurotransmissor associado à sensação de recompensa e prazer.


Assim, quando uma pessoa experimenta algo que é percebido como gratificante, como uma refeição saborosa ou alcançar uma meta pessoal, por exemplo, o circuito de recompensa é ativado, liberando a dopamina.


Isso cria um reforço positivo, incentivando a repetição do comportamento que levou à recompensa.


“Ao assistir aos NPCs em situações desafiadoras e emocionantes, é possível experimentar um aumento na frequência cardíaca e uma resposta emocional intensificada. Com isso, a ativação do circuito de recompensa também ocorre, pois o cérebro associa essas experiências emocionais intensas com gratificação e prazer. Em essência, o cérebro humano é programado para buscar experiências que despertem emoções intensas, e os vídeos de NPCs muitas vezes proporcionam exatamente isso”, esclarece.


Num contexto atual, o circuito de recompensas pode ser ativado por um grupo de fatores estimulantes que podem incluir experiências artísticas, entretenimento, conquistas pessoais e até mesmo a busca por gratificação instantânea nas redes sociais.


“Embora a ativação do circuito de recompensa seja normal, a intensidade e a natureza dos estímulos que o ativam podem variar consideravelmente, gerando implicações para a saúde mental e o bem-estar quando essa busca por recompensa se torna excessiva ou desequilibrada.”


Maria Clara opina no vídeo que as relações digitais esmaeceram as reações pessoais, tornando as vulnerabilidades humanas uma fraqueza. Para esclarecer, ela usa o mito grego de Pigmaleão.


“Pigmaleão era um escultor e, por achar que nenhuma mulher estava à sua altura, ele esculpiu uma estátua do que seria a sua ‘mulher perfeita’. Ele se apaixonou pelo objeto e Afrodite, com pena da situação, deu vida para a estátua. No nosso caso, acredito que as pessoas têm se apaixonado pelas versões digitais de si mesmas na internet há muito tempo, e a rede social faz o papel reverso da Afrodite. Não são os personagens que ganham vida. São os vivos que se tornam personagens”, opina. 


Julia alega que, conforme existe a ativação do sistema de de recompensa, pode haver um processo de idealização relacionado ao comportamento, influenciado por normas culturais, sociais e pessoais.


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Ela diz que a idealização está relacionada à busca por recompensas que vão de acordo com valores, aspirações e objetivos pessoais.


Assim, aquilo que uma pessoa idealiza como recompensador pode ser influenciado por sua cultura, ambiente social e experiências de vida, como traumas ou sucessos passados, que podem moldar s ideias de uma pessoa sobre o que é recompensador.


“A idealização permite a criação daquilo que gostamos, do que é inexistente e inalcançável. Logo, se não é real, consequentemente não é algo com defeitos ou que possa oferecer frustrações.”


Julia cita um modelo de como essa idealização pode funcionar: a fictossexualidade, grupo comum no Japão, em que as pessoas criam bonecas baseadas em personagens femininas de videogame. 



“Tal busca por companheiros perfeitos pode derivar de indivíduos que costumam enfrentar dificuldades para manter relacionamentos e lidar com a frustração. Assim, é possível compreender que as pessoas têm usado a internet, e a idealização e/ou busca por personagens de videogame ideais, como uma garantia de ausência de frustração. Afinal, ao encontrar ou criar um personagem exatamente de acordo com as expectativas, não há decepções, o indivíduo se sente no controle total e, assim, o cérebro ativa o sistema de recompensa, bem-estar e prazer, que também é gerado pelas questões envolvendo dinheiro”, finaliza.


Serotonina, dopamina e endorfina: como os neurotransmissores agem no corpo e na mente:


noticia por : R7.com

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