Larrisa Soares de Souza não consegue nem mesmo se lembrar de quando foi a primeira vez que escutou as músicas de Taylor Swift. A admiração pela cantora dura anos, mas foi na pandemia, com o lançamento do disco Folklore, que a voz da americana se tornou companhia diária para a jovem universitária. O sonho de ver Taylor Swift se apresentar ao vivo parecia quase impossível de concretizar. Milhares de fãs disputaram os poucos ingressos disponíveis, mas Larrisa não conseguiu apenas um, e sim dois ingressos para ver a artista. Faltando três meses para realizar o sonho, ela foi surpreendida pelo cancelamento das passagens aéreas pela 123milhas.
A jovem de 23 anos estuda em Natal, no Rio Grande do Norte. Apesar de ter família em São Paulo — onde a cantora norte-americana também vai se apresentar —, ela escolheu assistir ao show no Rio de Janeiro, nos dias 25 e 26 de novembro. A universitária ia acompanhada de quatro amigos, que também compraram passagem pela 123milhas, ida e volta, por cerca de R$ 400. Os jovens chegaram a reservar um apartamento para ficar na cidade.
Com o cancelamento dos pacotes promocionais sem previsão de reembolso, anunciado em agosto pela empresa, os fãs ficaram no prejuízo. Com parcelas a ser pagas até novembro e sem dinheiro para uma nova passagem, os amigos desistiram de ir. Larissa escolheu manter a viagem, mas a decisão não foi fácil. “Eu pensei muito. Pensei em cancelar, não tenho dinheiro, sou bolsista, estagiária. Pensei: ‘Será que eu vou?’, vou gastar muito. Mas depois pensei: ‘Quando vou ter essa oportunidade novamente?’.”
A jovem comprou uma nova passagem por quase R$ 1.000 e ajuda de milhas. Para reduzir o prejuízo, ela tenta vender um dos ingressos, mas conta que está difícil conseguir. “Tem muita gente vendendo, muita gente passou pela mesma coisa.”
Além das passagens para o show, Larissa havia aproveitado a promoção e comprado de presente para a mãe uma passagem para Curitiba em agosto deste ano, além de uma outra viagem para Foz do Iguaçu em 2024. Ela agora paga a prestação de três passagens sem saber quando será reembolsada. “Não pensei que isso poderia acontecer. Era uma empresa de confiança”, desabafou. A universitária já entrou em contato com uma advogada e analisa quais medidas pode tomar.
Esta é a segunda vez que Taylor Swift vem ao Brasil. Em 2012, a cantora esteve em solo brasileiro e realizou um pocket show fechado para convidados com duração de cerca de 30 minutos. Os fãs tiveram que esperar mais de dez anos para o retorno da artista. Em 2019, a cantora anunciou sua vinda ao país, com shows marcados para 2020. Os ingressos foram vendidos, mas a turnê foi cancelada devido à pandemia de Covid-19. No início de 2023, os fãs brasileiros receberam a notícia de que a cantoria finalmente voltaria ao país e tinha seis apresentações marcadas.
Os fãs da cantora americana não são os únicos a passar por essa situação. Fãs da banda RBD têm vivido a mesma coisa. A banda mexicana anunciou seu retorno aos palcos no início de 2023. A turnê vai contar com oito apresentações nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. Os fãs que esperaram 15 anos pelo retorno da banda e conseguiram ingresso estão desolados com o cancelamento das passagens.
Desde que a 123milhas anunciou a crise financeira, diversos internautas passaram a relatar o fim do sonho nas redes sociais. Boa parte das postagens é de pessoas que anunciam a venda dos ingressos. “123milhas cancelando todos voos dos meses de setembro, outubro e novembro. Justamente nos meses de shows do RBD e Taylor”, disse uma fã. “Que bom que não entrei nessa de comprar passagem por 123milhas pra ir pro show do RBD. Ia arruinar tudo por tentar economizar com essas coisas”, disse outro fã.
Aqueles que chegaram a comprar as passagens tentam agora vender o ingresso, uma vez que não têm dinheiro para arcar com uma nova compra. As publicações de venda são, geralmente, acompanhadas pela frase: “Motivo: 123milhas cancelou minha passagem”.
E o que pode ser feito?
O advogado Thiago Augusto de Freitas, presidente da Comissão de Direito do Consumidor da OAB-MG (Ordem dos Advogados do Brasil de Minas Gerais), explica que os clientes podem cobrar indenização que vai além do valor pago pelos pacotes suspensos.
“O que a 123milhas fez foi um ato ilícito. Todo ato ilícito deve gerar indenização. Quem comprou passagem e teve danos subsequentes, de qualquer motivo, tem a possibilidade de pleito judicial — seja ele material ou moral”, explica. “Neste caso dos shows, poderia se pedir dano moral por causa do planejamento e sonho envolvidos pelos fãs. Eles vão perder o show da vida deles”, completou.
O especialista, no entanto, acredita que o ressarcimento pode demorar para acontecer. Ele explica que o processo de recuperação judicial suspende todos os processos de cobranças da empresa.
“Minha orientação é que o cliente junte toda documentação que prove o dano sofrido. Se vender o ingresso, pegue o email ou o comprovante da transação feita. Junte tudo para que, no momento oportuno, seja feito o pedido judicial”, sugeriu.
“A decisão judicial sobre a recuperação ainda é confusa, mas sugiro que o cliente aguarde um pouco para entender como vai ficar o processo, que atualmente está suspenso. Até o Judiciário está brigando, mas o momento oportuno é quando o plano de recuperação for cumprido”, avaliou o advogado.
Pagamento no cartão
O advogado Thiago Augusto de Freitas dá outra orientação às pessoas que não conseguiram viajar com o pacote da 123milhas e das outras companhias do grupo. Segundo o especialista, os consumidores que ainda estão pagando parcelamentos dos serviços podem pedir o estorno diretamente com a operadora do cartão de crédito.
“Quem tem parcela a vencer pela frente deve pedir o bloqueio dos repasses. O pedido precisa ser feito junto à operadora do cartão. Aconselho a anotar o número do protocolo, uma vez que provavelmente vão negar o pedido. Então, pode-se acionar a Justiça em seguida para conseguir o estorno”, detalhou.
noticia por : R7.com