CUIABÁ

Famílias retiradas de residencial voltam a viver em áreas de risco

Tábuas de madeira e telhas montadas como se fossem um quebra-cabeça à beira do córrego Ouro Fino, em Cuiabá, hoje servem de casa para 4 pessoas. Às margens do córrego do Barbado, a preocupação é que o imóvel seja levado caso venha uma chuva forte. Em outro ponto da cidade, uma quitinete abriga mãe e filho que foram acolhidos de favor. Essa é a realidade de famílias retiradas do residencial Jonas Pinheiro 3, após reintegração de posse com decisão judicial.

Edlaine Garcia Gonçalves, 40, e os 3 filhos dividem hoje um barraco à beira do córrego Ouro Fino, no bairro Serra Dourada. A peça foi cedida por um homem por intercessão de conhecidos. Porém, outras pessoas apareceram se dizendo proprietárias do terreno. “Agora vamos esperar para ver como resolve essa parte”.

Após se instalar no barraco, na primeira noite choveu e a cama ficou toda molhada. “Antes tinha só uma peça, conseguimos doações e catamos o material para montar essa outra parte, colocar o telhado mais alto e tentar proteger da chuva. Mas precisamos fazer um banheiro”. Por enquanto, conta com a bondade dos vizinhos.

Em um dos cômodos está a cama onde a mulher e os filhos Raiane, 11, Emanuelly, 8, e Enzo dormem. “Às vezes, pego um colchão ali de fora, forro com o lençol e durmo no chão. Mas vigio para as crianças não ficarem perto das paredes porque tenho medo de bichos, como cobras”.

Perto da cama, um pequeno armário está com algumas peças de roupas. Ao lado, em uma mesa, a televisão antiga ajuda a entreter as crianças. Próximo à entrada, os objetos da cozinha estão empilhados em prateleiras improvisadas com madeiras. O fogão, com apenas duas bocas funcionando, está com o gás prestes a acabar. A geladeira doada fica aos pés da cama. Antes vazia, agora tem ao menos um pouco de carne, leite e iogurte para alimentar a família. “Ganhamos isso. Antes da mudança já passávamos por dificuldades e agora ficou ainda mais complicado”.

Raiane acompanha a mãe de perto e complementa os relatos. No dia da mudança, segundo a mulher, os materiais escolares das crianças se perderam. “Eu estou no 4º ano, minha irmã no 2º e o meu irmão no pré”, diz a garota.

A família morava há um ano e 7 meses no residencial e, no último dia 6, teve que juntar parte das coisas que tinha e se mudar. “Eu ainda perguntei para onde eu iria, expliquei que não tinha onde ficar”.

Edlaine ainda tentou falar com a assistente social que direcionava as famílias para o aluguel social. Soube que houve uma desistência, portanto, tentariam incluí-la. Porém, no dia seguinte, precisou sair do imóvel porque não havia mais água e energia. “Vim para cá (no Serra Dourada). Recebi uma ligação e disseram que eu teria a assistência, mas por 3 meses. O que eu faria depois?”.

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