POLÍCIA

A estratégia política da taxação do aço e do alumínio, os impactos econômicos e as contradições na relação com o Brasil

LUIZ HUGO QUEIROZ

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta segunda-feira a reimposição de tarifas de 25% sobre a importação de aço e alumínio, repetindo uma medida adotada em seu primeiro mandato (2017-2021). Justificada como uma ação para proteger a indústria americana, essa decisão tem implicações econômicas severas para o Brasil, um dos principais exportadores desses materiais para os EUA. No entanto, para além do impacto comercial, a medida expõe contradições no discurso da direita brasileira, que frequentemente enxerga os Estados Unidos como um aliado natural, apesar das repetidas barreiras impostas por Trump ao país.

Em 2024, o Brasil exportou aproximadamente 4,08 milhões de toneladas de aço para os Estados Unidos, representando 15,5% do total importado pelos norte-americanos, gerando cerca de US$ 3 bilhões em receitas. No setor de alumínio, o Brasil enviou 72,451 mil toneladas ao mercado americano, o equivalente a 25% do total exportado pelo país, movimentando quase R$ 4,5 bilhões. Esses números evidenciam o peso dos EUA como um destino estratégico para as exportações brasileiras nesses setores e demonstram o tamanho do impacto que a nova taxação pode causar.

A taxação afeta diretamente as regiões Sudeste e Sul do Brasil, que concentram a maior parte da produção siderúrgica e de alumínio. Estados como Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, no Sudeste, e Rio Grande do Sul, no Sul, devem ser os mais prejudicados. As siderúrgicas dessas regiões podem sofrer com a redução da demanda, impactando empregos e o crescimento econômico local.

Para além da justificativa econômica, a medida faz parte de uma estratégia política deliberada. Segundo Steve Bannon, ex-estrategista de Trump e ideólogo do “Trumpismo”, ações como essa servem para testar os limites do Executivo e desestabilizar a oposição democrata. A enxurrada de anúncios e medidas polêmicas visa sobrecarregar o debate público, fazendo com que a mídia e os adversários políticos se desgastem ao tentar reagir a cada nova ação.

Além disso, ao ressuscitar medidas protecionistas, Trump reforça seu discurso de “América Primeiro”, fortalecendo sua base eleitoral em estados industriais como Pensilvânia, Michigan e Ohio, que desempenharam um papel crucial em sua vitória anterior.

A decisão também evidencia um paradoxo na relação entre Trump e a direita brasileira. Apesar da frequente defesa dos EUA como modelo político e econômico, a realidade demonstra que Trump vê o Brasil mais como um concorrente do que como um aliado.

Desde seu primeiro governo, ele já adotou barreiras contra produtos brasileiros, como aço, alumínio e etanol, além de endurecer restrições para a entrada de brasileiros nos EUA. Sua retórica nacionalista é clara: “América Primeiro” significa menos espaço para o Brasil na economia global.

Mesmo diante desse cenário, parte da direita brasileira continua a enxergar Trump como um parceiro estratégico, ignorando o fato de que sua política econômica não favorece o Brasil. Essa contradição levanta um questionamento importante: até que ponto vale a pena insistir em uma aliança que, na prática, resulta em prejuízos comerciais e diplomáticos?

A nova taxação sobre aço e alumínio não é apenas uma decisão econômica, mas um movimento político estratégico de Trump para fortalecer sua posição e minar seus adversários. Enquanto os EUA buscam fortalecer sua indústria nacional, o Brasil sofre impactos diretos, especialmente em suas regiões mais industrializadas.

Além disso, a medida expõe as contradições na relação da direita brasileira com os EUA, mostrando que, para Trump, o Brasil é mais um competidor do que um parceiro. A defesa incondicional de uma aliança que, repetidamente, impõe barreiras ao Brasil deveria levar a uma reflexão mais profunda sobre os reais interesses dos EUA e o papel do Brasil no cenário global.

Luiz Hugo Queiroz é jornalista especializado em Marketing Político.

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FONTE : ReporterMT

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