Nos diversos grupos de trilhas, a mais recorrente reclamação é sobre os maus bofes do tempo neste verão. É chuva sobre chuva, mais chuva e outra chuva ainda. E mesmo assim vemos, aqui e ali, notícias de trilheiros que precisam ser resgatados de situações absurdas em que se colocam ao desafiarem os elementos e se enfiarem no mato. Só desde o começo deste ano, segundo o Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, foram atendidas 20 ocorrências de resgates em matas, com 23 vitimas. No ano passado inteiro, haviam sido 225 resgates em áreas de natureza, com 175 vítimas e, infelizmente, 11 mortes.
Será que as atividades de aventura representam um risco tão grande assim? Sim e não. Sim, porque a natureza é cheia de surpresas, a meteorologia, de tanto falhar, está quase se mudando da área das ciências exatas para a da astrologia, e para seres acostumados a caminhar pelas ruas asfaltadas das grandes cidades, esse negócio de andar em terrenos naturais, com seu barro, seus galhos inoportunos, seus insetos e primos peçonhentos pode reservar jornadas indesejadas.
Mas também vale o não. E o não mora na prudência e no bom senso de todo trilheiro que procura, antes de nada, prestar atenção ao que lhe alerta a natureza e que, quando desconhece a área que vai percorrer, busca o máximo de prevenção. Assim, tipo um guia credenciado que saiba alertá-lo para os riscos. Ou um grupo que aumente as chances de obter socorro caso algum acidente aconteça.
Acidentes, diga-se de passagem, podem ser desde um simples escorregão numa pedra mal apoiada (minhas calças de trilha que o digam, todas têm algum rasgão pra me recordar de cada experiência…) até a surpresa de uma cabeça d’água que leva tudo e todos pela frente. Esta, aliás, é a maior fonte de problemas nestes tempos de chuvas torrenciais.
“A gente prega bastante que esses esportes de aventura outdoor sejam feitos sempre com apoio de empresas e guias locais, com as devidas autorizações dos parques e o máximo de informação, que hoje pode ser obtida pela internet facilmente”, explica o capitão André Elias, do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo.
Além de boa companhia, o capitão ressalta a importância de ir sempre bem equipado. “Dependendo de para onde estou indo, tenho que ter alguns equipamentos específicos, abrigo, calçados, tenho que levar água, alimentação para o período que pretendo ficar fora e um plano de segurança que envolva um telefone celular, pessoas que saibam para onde estou indo, quando pretendo voltar, enfim, que possam emitir um alerta ao menor sinal de que algo está fora do esperado”, acrescenta.
Mas algo que ele faz questão de dizer, nesta época principalmente, é que não deve se limitar a consulta à previsão do tempo na véspera no local desejado. “Especialmente em lugares que têm cachoeira ou que são à beira de rios”, destaca, “temos que saber não só da meteorologia do local, mas das áreas onde estão as nascentes desses rios, porque a enxurrada se forma sempre acima do local e vem aquele volume grande de água”.
Além de consultar o tempo nas imediações, o capitão alerta para alguns sinais que podem prenunciar encrenca da grossa: “Tem que ficar de olho na coloração da água e no seu nível”, explica. “Se você vê que o nível aumentou de nada, que a cor mudou, que está mais barrenta, com mais detritos, galhos e até lixo trazido de um lugar mais alto, é sinal de que uma enxurrada vem por aí”. Ou seja: cai fora logo para o ponto mais alto que você identificar. Se não dá para levar canja de galinha para a trilha, a cautela que a mamãe recomendou nunca é demais.
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noticia por : UOL