A repórter Camila Brandalise passou três meses investigando o submundo dos procedimentos estéticos no Brasil e, entre a descoberta de casos gravíssimos de complicações, conta que se assustou também com a facilidade em burlar as regras.
Teoricamente, só é permitido vender substâncias como botox a quem é da área da saúde e tem especialidade em estética.
“Mas fiz o teste. Entrei em um site, me passei por alguém que queria comprar, criei um boleto e, em três dias, poderia estar aplicando botox em outras pessoas. Sem nenhuma comprovação de qualificação”, conta a jornalista.
Para explicar como funciona esse universo paralelo da estética no Brasil, o podcast UOL Prime, apresentado por José Roberto de Toledo, ouviu Camila Brandalise sobre a reportagem “Do botox ao PMMA, Brasil concentra intervenções que são caso de polícia”.
O problema, segundo Camila, é que muita gente sem formação nenhuma tem se aventurado na área pela facilidade de adquirir produtos e pela falta de fiscalização e punição, em caso de imperícia.
Até com quem tem formação é arriscado. Hoje em dia, há uma infinidade de cursos online, de 20 horas e sem regulamentação, que emitem certificado aos participantes.
Na falta de conhecimento profundo sobre anatomia humana e atendimento ao paciente, o que seriam algumas injeções simples viram cegueira, necrose, infecção bacteriana severa, entre outras complicações.
“Um dos casos mais graves que encontrei foi o de uma médica que ficou cega após um procedimento de rinomodelação com ácido hialurônico. Ela procurou um cirurgião-dentista para realizar o procedimento e a aplicação atingiu uma artéria. Isso causou um AVC e, depois, a perda da visão do olho esquerdo”, conta a repórter.
“Ela registrou um boletim de ocorrência e relatou para a polícia que, na hora, ouviu o dentista dizer: ‘Eu tenho a enzima para reverter o efeito do ácido, mas não sei se está na validade’.”
O Brasil vive uma queda de braço entre vários conselhos de classe.
A lei diz que só médicos podem fazer procedimentos invasivos, e os médicos dizem que botox e preenchimento, por exemplo, são invasivos. Mas dentistas, biomédicos e esteticistas dizem que não.
Enquanto isso, o número de procedimentos estéticos não-cirúrgicos no Brasil só cresce: entre 2018 e 2023, foram 56% mais intervenções.
O dado é da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética e diz respeito somente aos médicos, o que significa que esse crescimento deve ter sido ainda maior.
Ocupamos a vice-liderança mundial em intervenções injetáveis, perdendo somente para os Estados Unidos.
“Só entre 2022 e 2023, houve um aumento de 23% no Brasil. Nos EUA, o número caiu 24% no mesmo período. Somos obcecados pela aparência.”
O podcast UOL Prime é publicado às quintas-feiras no YouTube do UOL Prime, Spotify, Apple Podcasts, Amazon Music, Deezer e em todas as plataformas de podcast.
noticia por : UOL