VARIEDADES

Nobel de Medicina vai para pioneiros da regulação do genoma

A Academia Sueca iniciou nesta segunda-feira (7) a entrega dos prêmios Nobel deste ano. Victor Ambros, da Faculdade de Medicina da Universidade de Massachusetts, e Gary Ruvkun, da faculdade homóloga de Harvard, compartilharam o prêmio na categoria de Fisiologia ou Medicina por sua descoberta de pequenas moléculas que regulam os genes, os microRNAs.

Nosso organismo é formado por células, e cada célula tem exatamente as mesmas instruções do material genético recebidas dos nossos pais. Os microRNAs são casos especiais de RNA, uma molécula prima do DNA dos cromossomos, que ajudam a explicar como é que as mesmas instruções podem dar coisas tão diferentes quanto um fio de cabelo e um coração.

 O princípio geral de “leitura seletiva” das instruções do DNA em cada tecido e cada órgão é conhecido na biologia como regulação de genes. Outros aspectos da regulação de genes, como a interferência de proteínas chamadas “fatores de transcrição”, já eram conhecidos. Os microRNAs — cuja variedade em humanos conhecida já conta mais de mil tipos — são um aspecto completamente novo que conhecemos graças aos trabalhos de Ambros e Ruvkun.

Os microRNAs têm uma sequência de seus blocos que é complementar a RNAs mensageiros específicos. Como a função desses mensageiros é levar as instruções do DNA para serem traduzidas em proteínas que têm funções “executivas” no organismo, eles podem inibir ou incentivar a produção dessas proteínas, assim influenciando a forma e a função de cada tecido e órgão.

Boa parte do trabalho pioneiro da dupla foi feito nos anos 1980, utilizando como modelo o pequeníssimo verme nematoide C. elegans, que veio a se tornar um modelo tão popular de laboratório entre os biólogos quanto a mosca das frutas.

“Queremos enfatizar a importância da compreensão das funções básicas, que é sempre o primeiro passo para a utilização desse conhecimento”, disse Gunilla Karlsson, presidente do Comitê do Nobel de Medicina, em entrevista coletiva, ao explicar a relevância do prêmio.

As inovações de Ambros e Ruvkun

O foco principal dos dois cientistas eram os genes que controlam a ativação de diferentes programas genéticos para que as células se desenvolvam no momento certo, e eles se concentraram em duas linhagens mutantes de vermes (lin-4 e lin-14).

Posteriormente, Ambros descobriu que o gene lin-4 produzia uma molécula de RNA excepcionalmente pequena que não possuía um código para a produção de proteínas e que isso era responsável pela inibição do lin-14.

Em paralelo, Ruvkun provou que não era a produção de mRNA do lin-14 que era inibida pelo lin-4, mas que a regulação ocorria mais tarde, quando a produção de proteínas cessava.

Os dois compararam suas descobertas e realizaram novos experimentos que lhes permitiram revelar um novo nível de regulação de genes, publicando suas descobertas em 1993.

A princípio, esse mecanismo incomum foi considerado irrelevante para os seres humanos, até que o grupo de pesquisa de Ruvkun publicou, em 2000, outro microRNA codificado pelo gene lin-7, presente em todo o reino animal, abrindo caminho para a descoberta subsequente de centenas de microRNAs diferentes e uma nova dimensão da regulação gênica.

Para Olle Kampe, vice-presidente do Comitê Nobel de Medicina e Fisiologia, esse é “um dos grandes prêmios Nobel porque é um mecanismo fisiológico completamente novo que ninguém esperava e mostra que a curiosidade é muito importante na pesquisa”.

Graças a essa pesquisa, “temos uma compreensão muito melhor de como as células funcionam”. Na maioria dos tumores, as “redes de microRNA são perturbadas, de modo que o tumor se aproveita disso”, declarou Kampe, que espera que haja aplicações no futuro.

Kampe enfatizou a importância de compreender as funções básicas, que “é sempre o primeiro passo para a utilização desse conhecimento”.

A carreira dos laureados

Victor Ambros (Hanover, EUA, 1953) formou-se em biologia pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), onde obteve seu doutorado, e atualmente leciona na Escola de Medicina da Universidade de Massachusetts. Gary Ruvkun (Berkeley, 1952) estudou biologia em Harvard, depois aprofundou seus estudos no MIT e leciona Genética na Harvard Medical School.

Os dois sucedem a húngara Katalin Karikó e o americano Drew Weissman, que receberam o Prêmio Nobel em 2023 por lançarem as bases para o desenvolvimento de vacinas de RNA mensageiro contra a covid-19 e outras doenças infecciosas.

O secretário do Comitê do Nobel, Thomas Perlmann, disse que deu a notícia a Ruvkun por telefone. Nos EUA, era noite e ele estava dormindo, mas quando viu do que se tratava, “ficou animado e feliz”, e até sua esposa pegou o telefone.

Ambros, no entanto, não conseguiu ouvir o anúncio diretamente de Perlmann, pois quando este telefonou para ele, a ligação foi para o correio de voz. “Deixei uma mensagem em seu celular e espero que ele me ligue de volta em breve”, disse Perlmann.

Os ganhadores dividirão os 11 milhões de coroas suecas (R$ 6 milhões na cotação atual), quantia com a qual todos os prêmios Nobel são agraciados neste ano.

O prêmio de Medicina ou Fisiologia, que como sempre abre a rodada de vencedores do Nobel, será seguido nos próximos dias, nessa ordem, pelos prêmios de Química, Física, Literatura, Paz e Economia.

Esta reportagem contou com informações da Agência EFE.

noticia por : Gazeta do Povo

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