Nos últimos dois anos, meus colegas e eu documentamos várias operações ilegais de agências do governo dos Estados Unidos, incluindo a Agência Central de Inteligência (CIA), o Federal Bureau of Investigation (FBI) e o Departamento de Segurança Interna (DHS).
Documentamos como a CIA, seus aliados e intermediários criaram a farsa do conluio de Donald Trump com a Rússia, organizaram esforços rigorosos para controlar a censura e a moderação de conteúdo no Twitter e em outras plataformas de rede social, e interferiram nas eleições de 2020 ao aprovar a publicação de uma carta de 51 ex-oficiais da CIA e de outras agências de inteligência que alegavam falsamente que havia provas de que a notícia do laptop de Hunter Biden era desinformação russa.
Relatamos a perseguição do FBI a delatores internos, sua investigação inadequada de uma suposta bomba no 6 de Janeiro e sua interferência ilegal nas eleições de 2020, espalhando desinformação e incentivando a censura sobre a notícia do laptop de Hunter Biden.
Finalmente, documentamos como o DHS, criado pelo Congresso americano após o 11 de Setembro para combater o terrorismo, conduziu várias operações para desinformar, exigir censura e interferir em eleições. Esses esforços envolveram membros atuais ou antigos do Departamento de Defesa dos EUA, do Ministério da Defesa britânico e da CIA. Mostramos que o DHS também criou as chamadas “parcerias público-privadas” com grupos de censura, como o Observatório da Internet de Stanford.
Agora, meus colegas e eu descobrimos que agências do governo dos EUA, incluindo o FBI e intermediários conhecidos da CIA, têm financiado a defesa da censura e aconselhado o governo brasileiro sobre como praticá-la.
Isso me afeta pessoalmente, pois o governo brasileiro está atualmente me perseguindo por expor sua censura ilegal e por denunciar sua transformação em uma ditadura. A Polícia Federal escreveu dois relatórios sobre meu suposto crime de publicar os Twitter Files Brasil, que expuseram a censura ilegal pelo governo. O governo de Lula seguiu com um relatório do Advogado-Geral, recomendando minha acusação.
Isso deveria ser importante não apenas para mim, mas para todos os americanos, pois é um abuso flagrante de poder pela administração Kamala Harris-Joe Biden e mais uma prova de que as chamadas agências do “Estado Profundo” (Deep State) dos EUA estão promovendo censura ilegal e outros ataques totalitários às liberdades fundamentais.
Seria impreciso concluir que o governo dos EUA é o único responsável pela repressão à liberdade de expressão no Brasil ou que Kamala Harris e Joe Biden estão supervisionando pessoalmente essas operações. Como a maior nação da América do Sul, grande exportador global de carne bovina e soja, e lar da maior parte da Floresta Amazônica, o Brasil não é facilmente controlado. O país estabelece sua política em relação à China, ao Oriente Médio e à Europa, frequentemente contrariando o consenso EUA-Europa e agindo mais como a Índia do que como outras nações menores da América Latina. E, no Brasil, é o Judiciário, não o Executivo (como é comum nos EUA, Canadá e outros países), que tem tomado a frente na aplicação da censura.
No entanto, qualquer envolvimento do governo dos EUA em censura em qualquer parte do mundo constitui interferência eleitoral estrangeira, e Harris e Biden são, em última análise, responsáveis pelas políticas e atividades das agências que supervisionam.
E muitas das diferenças entre a censura nos EUA e no Brasil são superficiais. Embora o Judiciário tenha realmente assumido um papel incomumente grande no Brasil em comparação com outras nações, alguns legisladores brasileiros e o presidente Lula buscaram, respectivamente, expandir radicalmente a censura governamental e perseguir jornalistas por meio da Advocacia-Geral da União.
Por fim, os grupos brasileiros financiados pelo governo dos EUA estão realizando atividades quase idênticas às dos defensores da censura nos Estados Unidos, Europa e nas nações da aliança de inteligência “Cinco Olhos” (Austrália, Canadá, Nova Zelândia, Reino Unido e EUA).
Essas atividades incluem a criação de uma histeria em torno de “fake news” e “desinformação”, sem qualquer base em pesquisas acadêmicas de alta qualidade ou outras, e o apoio a “checagens de fatos” supostamente neutras, que, na realidade, visam a desacreditar e censurar candidatos políticos populistas, particularmente o ex-presidente Jair Bolsonaro, seus apoiadores, jornalistas independentes e políticos independentes.
Esses grupos, muitos dos quais são financiados pela Open Society Foundations de George Soros, então coordenaram campanhas de pressão contra plataformas de rede social e anunciantes.
Em 5 de março de 2018, agentes do FBI e do Departamento de Justiça se reuniram com um conselho especial do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) brasileiro para discutir esforços de combate às “fake news”. O TSE também implementou políticas de censura da “desinformação” sugeridas por várias ONGs financiadas pela USAID (Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional) e pelo Departamento de Estado. A National Science Foundation, apoiada pelo Congresso dos EUA, também concedeu subsídios para financiar “pesquisas” sobre o combate à “desinformação” no Brasil.
A administração Biden-Harris foi explícita em seu apoio às iniciativas de censura e “antidesinformação” no Brasil. Em 10 de fevereiro de 2023, o presidente Joe Biden se encontrou com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, em Washington, D.C., onde ambos “condenaram o discurso de ódio e reafirmaram sua intenção de construir resiliência social contra a desinformação”.
E agora, um novo relatório escrito por meus colegas Phoebe Smith, Alex Gutentag, Eli Vieira (editor de Ideias da Gazeta do Povo) e David Ágape para minha organização sem fins lucrativos Civilization Works, anteriormente chamada Environmental Progress, revela que o Complexo Industrial de Censura do Brasil, uma rede de ONGs, checadores de fatos e atores estatais, recebe “instruções, treinamento e apoio financeiro de seus homólogos dos EUA”. Ao apoiar a censura no Brasil, o governo federal dos EUA e seus subsidiários têm se envolvido em intervenções externas impróprias, visando especificamente eleições e políticas públicas.
“As entidades dos EUA envolvidas direta e indiretamente no Complexo Industrial de Censura do Brasil”, escrevem os autores do relatório, “incluem o Atlantic Council, o Congresso americano, o Federal Bureau of Investigation (FBI), o Fundo Nacional para a Democracia (NED), a National Science Foundation (NSF), o Departamento de Estado, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), a Casa Branca e mais”.
Essas são organizações com raízes profundas e de longa data na CIA. Os ex-diretores da CIA David Petraeus, Robert Gates e James Woolsey estão no Conselho de Diretores do Atlantic Council, que é o think tank da OTAN e é financiado tanto pelo Pentágono quanto pelo Departamento de Estado. O Congresso dos EUA criou o Fundo Nacional para a Democracia (NED) para realizar publicamente e de forma ostensivamente legal o trabalho que a CIA costumava fazer. Muitos analistas referem-se ao NED como uma organização “de fachada” ou intermediária, feita para esconder o controle e o envolvimento da CIA. A CIA há muito tempo toma o controle ou cria organizações não governamentais falsas, incluindo empresas e sindicatos.
Dessa forma, os indícios são claros que o governo dos EUA e seus aliados têm exigido censura desde 2016 por medo de ver políticos populistas assumindo o poder e minando a ordem global. Esses altos funcionários do governo dos EUA no Departamento de Estado, CIA e outras agências de inteligência e segurança deixaram claro que veem a capacidade de controlar as redes sociais como um recurso indispensável para seu domínio sobre as sociedades ocidentais. Essas pessoas e organizações exigem incansavelmente a censura.
Expusemos vários de seus laços com a CIA, a OTAN e o Pentágono. Na medida em que responderam, o fizeram por meio de assassinato de reputação contra nós.
A mera quantidade de pessoas e instituições poderosas exigindo mais censura é assustadora. Essa lista agora inclui Bill Gates, George Soros, Biden, Harris, Tim Walz, Hillary Clinton, Barack Obama, a imprensa tradicional, o FBI, CIA, DHS, a União Europeia, o governo brasileiro e partidos governistas em todas as nações anglófonas da aliança “Cinco Olhos” que compartilham inteligência. Eles deixaram claro que estão desesperados para censurar a internet, e não estão mais escondendo isso. O ex-secretário de Estado, John Kerry, defendeu a censura no início desta semana. Gates produziu um documentário da Netflix para promover a censura, incluindo a participação de um suposto “ex”-oficial da CIA.
Em outras palavras, essas agências governamentais, atores do Deep State e filantropos engajados estão trabalhando com a grande mídia para normalizar e convencer o público a querer mais censura. Assim, estamos vivendo em um momento extremamente perigoso.
A boa notícia é que muitas pessoas estão acordando. Há algumas semanas, no 7 de Setembro, centenas de milhares de pessoas protestaram no Brasil em uma das maiores manifestações pela liberdade de expressão da história.
E agora, membros do Congresso americano estão exigindo o fim do financiamento à censura no Brasil. “A administração Biden-Harris tem usado programas de assistência externa dos EUA e outros meios para promover a censura no Brasil e reprimir a liberdade de expressão que seria protegida pela Constituição dos EUA aqui em casa”, disse o deputado Chris Smith. Smith é um membro sênior do Comitê de Relações Exteriores da Câmara, que presidiu uma audiência para examinar o totalitarismo incipiente no Brasil em maio passado.
O deputado Jim Jordan e a deputada María Elvira Salazar propuseram conjuntamente o Projeto de Lei de Proibição de Financiamento ou Aplicação de Censura no Exterior (HR 9850). O projeto pretende:
- Proibir a assistência externa a entidades que promovam a censura de expressões que seriam protegidas nos Estados Unidos;
- Proibir a assistência externa a entidades que apoiem as diretrizes de censura do governo brasileiro às empresas de internet dos EUA;
- Proibir a cooperação de autoridades de segurança dos EUA com países estrangeiros para “causar, facilitar ou promover a censura online” de discursos políticos; e
- Proibir a cooperação de autoridades de segurança dos EUA com as diretrizes de censura do governo brasileiro contra empresas de internet com sede nos Estados Unidos.
“O Comitê Judiciário da Câmara dos Estados Unidos e o Subcomitê Seleto sobre a Instrumentalização do Governo Federal descobriram como o FBI, sob a administração Biden-Harris, facilitou os pedidos de censura de um governo estrangeiro contra americanos”, disse o deputado Jordan. “Este projeto de lei é crucial para impedir que censores de governos estrangeiros usem o DOJ [Departamento de Justiça] ou o FBI para silenciar opiniões desfavorecidas.”
“Os Estados Unidos precisam defender os princípios de sua Constituição e apoiar seus cidadãos sempre que enfrentarem censura no exterior”, disse a deputada Salazar.
Sou profundamente grato a Smith, Jordan e Salazar por defenderem a liberdade de expressão no Brasil e no mundo. E, mesmo que você não se importe com o Brasil, todos devemos ser gratos a eles por exigirem responsabilidade de um Deep State fora de controle que está violando nossos direitos da Primeira Emenda e abusando de seus poderes, assim como o Deep State fez com a farsa do conluio com a Rússia, a censura nas redes sociais, a notícia do laptop de Hunter Biden, a interferência eleitoral do FBI e do DHS, a falsa bomba de 6 de Janeiro e outros escândalos.
Michael Shellenberger é editor-chefe do Public.News e colaborou com a Gazeta do Povo na publicação da série de reportagens “Twitter Files Brasil”.
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noticia por : Gazeta do Povo