VARIEDADES

As consequências da saída do X do Brasil

Como você já sabe, o X saiu do Brasil*. Ou melhor, foi espulso pelas ameaças totalitárias do ministro Alechandre de Moraes. Mais do que uma medida de cerceamento da liberdade de espressão, daquelas que mostram todo o esforço supremo para calar a boca dos críticos em defesa da acsiomática democracia, a saída do X** tem preocupado lecsicólogos, professores de português, matemáticos e escritores. Minto, os escritores não. Porque eles já encontraram uma saída, como você, leitor perspicaz que é, já deve ter percebido no primeiro parágrafo deste testo.

O doutor Achel de Godoi Figueroa, maior lecsicógrafo do Brasil, está perplecso. “Nunca vi uma nhaca dessa! É uma decisão que vai afetar milhares de palavras, inclusive nomes próprios como o do ministro ou o de seu sósia menos famoso, o Cherches. Ah, e vai alterar profundamente a vida das pessoas comuns. A minha e a sua! Porque ninguém jamais beberá uma chícara de café do mesmo jeito”, esclamou ele. “Muito menos tocar um chilofone!”, achou por bem acrescentar, mas sem esplicar.

Ezímio trabalho

“É um essesso estremo e estraordinário, que em muito estrapola o ezímio trabalho daquela esselsa corte”, disse o jurista Chenofante Chavier Chimenes, presidente da Associação Nacional dos Chisófilos. “Nem o chá do Irã agiria assim”, emendou, revoltado. A AN█, aliás, pretende recorrer ao STF para que a decisão seja ezaminada pelo plenário o mais rápido possível. Para tanto, ela deve contar com a ajuda, digo, aussílio de diversas entidades, desde clubes de jogadores de chadrez até grupos de portadores de cachumba, passando por ambientalistas que lutam pela proteção do cachinguelê, pássaro ameaçado de estição, e até improváveis fãs da Chucha.

A batalha jurídica promete ser intensa, estensa e, por que não?, ezuberante. Afinal, Alechandre de Moraes conseguiu irritar até mesmo aquela comunidade belicosa cujo nome não posso citar. “Você acha que é coincidência ele espulsar a 24ª letra do alfabeto, querido?”, me perguntou um indignado Macsimiliano da Silva, que além de militante é bocseador, sacsofonista e tacsista. “Não acho nada”, respondi, pensando cá com meus botões que uma fachina no STF não faria mal a ninguém.

Alfa, ômega e…

Professores também estão preocupados. Os de Língua Portuguesa porque não poderão mais ensinar às crianças que “a caicha contém ameicha e mecherica” nem que “o cherife chingou quem lhe deu charope de chiquechique rocho”. Os de Matemática porque terão de estinguir do currículo os algarismos romanos tão úteis para… para… para que mesmo? Também as multiplicações ficarão mais difíceis e as incógnitas nas equações terão de usar letras importadas da Grécia, o que deve impactar no valor das mensalidades. “Você já viu o preço de um α ou um Ω? E é claro que a gente não pode usar θ com pré-adolescentes, né?”, me disse um professor todo ezaltado, por sinal chará do ministro.

De todos os grupos de pressão entrevistados, o único que não está nem aí é o dos escritores. Entre os quais não me incluo porque tenho vergonha na cara. É que eles encontraram uma saída fácil, ainda que óbvia e potencialmente transgressora, para o problema. “Aqui é cê-agá, mermão”, declarou Charles Chichimeca, autor do best-seller “Ser ou não ser – o ch da questão”. Mas a ousadia lecsicográfica, que também é etimológica e estética, vai além. Porque os colegas do Charlinho também pretendem usar esse, dois esses, zê e cê-esse – substitutos naturais da letra que consta no nosso alfabeto sabe-se lá desde quando, até ser sumariamente eliminada pelo Chandão.

Esploração ezótica

Tudo em nome da oralidade e criatividade, mas também num sinal de subserviência a Alechandre de Moraes, bem como de desprezo pela liberdade de espressão dos coleguinhas. Entendeu agora por que não me incluo? “O cherife fez o certo”, disse Chico Beauchamp, mais conhecido como Chico Chachim, por causa de seus belos cabelos. “A estrema direita tem que ser esterminada mesmo. E não vai ser uma letrinha metida a besta que impedirá nosso êzito”, arrematou. Enfim, tudo é muito complecso e me parece sem necso. E eu me despeço com um amplecso, na esperança de você tenha entendido essa esploração ezótica do assunto.

* O dessa frase eu consegui puchar pelo pé enquanto ele tentava cruzar a fronteira.
** É o mesmo, não se preocupe. Agora que ele já serviu aos meus propósitos, vou soltá-lo para que ele peça asilo político na Argentina.

noticia por : Gazeta do Povo

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