POLÍCIA

Avanços no estudo da tomada de decisão comportamental

VALDINEY DE ARRUDA

Por décadas, a teoria econômica baseou-se na suposição de que as pessoas abordam as decisões com racionalidade e lógica. No entanto, na década de 1950, Herbert Simon, um economista e psicólogo laureado com o Prêmio Nobel, desafiou essa suposição ao reconhecer que a racionalidade humana é limitada, o que prejudica nossa capacidade de tomar decisões verdadeiramente lógicas.

Herbert Simon, em 1957, desafiou a noção de que as pessoas tomam decisões de forma racional, argumentando que a capacidade humana para resolver problemas complexos é limitada em comparação com a complexidade dos problemas do mundo real. Essa teoria da “racionalidade limitada” enfatiza as restrições impostas pelo ambiente, como a quantidade limitada de tempo e recursos disponíveis para tomar decisões.
Na década de 1970, Amos Tversky e Daniel Kahneman deram um passo adiante ao identificar vieses cognitivas específicas que levam as pessoas a desviar da racionalidade de maneiras previsíveis. Esse trabalho pioneiro lançou as bases para um novo campo de estudo: a pesquisa da tomada de decisão comportamental.

Estudos mais recentes sobre motivação, emoção e ética continuam a ampliar nossa compreensão das limitações humanas na tomada de decisão.

Keith E. Stanovich e Richard F. West, em 2000, exploraram como processamos informações usando dois sistemas cognitivos: Sistema 1 e Sistema 2. O Sistema 1, intuitivo e emocional, nos permite agir rapidamente em situações de perigo, enquanto o Sistema 2, consciente e lógico, nos ajuda a tomar decisões ponderadas.

O Sistema 1 é caracterizado por ser rápido, automático, e intuitivo. Ele opera de forma inconsciente, respondendo instantaneamente a estímulos com base em experiências passadas, emoções e heurísticas, que são atalhos mentais. Esse sistema é particularmente útil em situações que exigem uma resposta imediata, como escapar de um perigo iminente ou tomar decisões rápidas em ambientes familiares.

Por exemplo, ao dirigir em uma estrada e perceber um obstáculo repentino, o Sistema 1 entra em ação, permitindo que você reaja instantaneamente pisando no freio sem a necessidade de um processo deliberado de pensamento. Este sistema é eficiente e consome pouca energia mental, o que o torna essencial para a sobrevivência em situações que demandam respostas rápidas. No entanto, essa mesma eficiência pode levar a julgamentos precipitados ou decisões baseadas em vieses, já que o Sistema 1 não se engaja em uma análise profunda ou crítica dos dados disponíveis.

Em contraste, o Sistema 2 é lento, deliberado e analítico. Ele entra em ação quando enfrentamos problemas complexos que requerem raciocínio lógico, planejamento e tomada de decisões informadas. Esse sistema exige maior esforço cognitivo e é ativado em situações que não podem ser resolvidas automaticamente, como fazer cálculos matemáticos, planejar um projeto ou tomar decisões estratégicas de longo prazo.

Por exemplo, ao decidir sobre um investimento financeiro, o Sistema 2 analisa dados, compara opções e avalia riscos e benefícios de maneira meticulosa. Este sistema é fundamental para situações que exigem ponderação e onde o erro pode ter consequências significativas. No entanto, devido à sua natureza exigente, o Sistema 2 é mais lento e pode ser propenso a fadiga, o que às vezes leva as pessoas a evitarem seu uso, preferindo o caminho mais fácil proporcionado pelo Sistema 1.

Embora os Sistemas 1 e 2 sejam distintos, eles não funcionam de forma isolada. Na prática, esses sistemas interagem constantemente. O Sistema 1 frequentemente lida com as decisões cotidianas, mas o Sistema 2 pode ser chamado a intervir quando uma situação é reconhecida como complexa ou crítica. Por exemplo, em uma negociação importante, você pode inicialmente confiar em sua intuição (Sistema 1), mas então recorrer ao raciocínio analítico (Sistema 2) para revisar e validar suas escolhas.

Entender a dinâmica entre esses dois sistemas é crucial para melhorar a tomada de decisões. Ao reconhecer quando estamos usando o Sistema 1 e quando seria mais adequado ativar o Sistema 2, podemos mitigar os efeitos dos vieses cognitivos e tomar decisões mais racionais e informadas. A conscientização dessa dualidade também nos ajuda a desenvolver estratégias para melhorar o uso de ambos os sistemas, equilibrando a intuição com a análise lógica em nossas escolhas diárias e profissionais.

Para tomar decisões mais racionais, é crucial nos conscientizarmos dos vieses cognitivos e emocionais que influenciam nosso julgamento. Identificaram-se centenas desses vieses, como a heurística da representatividade, da disponibilidade e a armadilha da confirmação, que podem obscurecer nosso pensamento racional.

As emoções desempenham um papel fundamental na tomada de decisões, influenciando nossas reações a estímulos internos e externos. Moldadas pela seleção natural ao longo da evolução, as emoções ajustam nossas respostas para aumentar nossa adaptação em desafios recorrentes. A interação complexa entre emoção, comportamento e cognição impacta nossa tomada de decisão em cada aspecto da vida.

Esses avanços no estudo da tomada de decisão comportamental destacam a necessidade de reconhecer e superar os vieses cognitivos e emocionais que afetam nossas escolhas, promovendo uma abordagem mais racional e informada à tomada de decisões em todas as áreas da vida.

Valdiney de Arruda é MBA em ESG (Environmental, Social, and Governance) e Auditor-Fiscal (AFT) do Ministério do Trabalho.

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FONTE : ReporterMT

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