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Investigação sobre causa de acidente e identificação dos mortos viram prioridade após fim do resgate

A conclusão do resgate dos 62 mortos na queda do avião da Voepass no início da noite deste sábado (10) desloca as atenções envolvendo a tragédia para a identificação das vítimas e a investigação das causas da queda.

A aeronave caiu na tarde de sexta-feira (9) na cidade de vinhedo, no interior de São Paulo, matando todos os 58 passageiros e 4 tripulantes. Inicialmente, a companhia aérea havia contado 61 vítimas, mas corrigiu o número neste sábado.

Ao todo, 34 corpos masculinos e 28 femininos foram retirados do local da tragédia e encaminhados para a unidade central ao IML (Instituto Médico Legal) de São Paulo para a identificação e liberação às famílias, segundo o governo estadual. A última vítima foi retirada dos destroços pouco antes das 19h.

Além de colaborar para a célere retirada dos restos mortais, a queda em local de fácil acesso também contribuiu para a investigação. O relatório preliminar está previsto para ser concluído em 30 dias, segundo a FAB (Força Aérea Brasileira).

Dois gravadores de voo —conhecidos como caixa-preta— foram recuperados e transferidos para o Labdata (Laboratório de Análise e Leitura de Dados de Voo) do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáutico) ainda na manhã deste sábado. Com isso, a análise dos dados começou.

Os gravadores têm diferentes funções. O primeiro, identificado pela sigla em inglês CVR (Cockpit Voice Recorder), registra o que foi conversado na cabine. O outro, o FDR (Flight Data Recorder), anota dados do voo, como altitude, meteorologia e velocidade.

Preparação, extração e degravação de dados devem prosseguir de maneira ininterrupta. A análise poderá dar detalhes sobre o funcionamento do equipamento e fatores humanos que podem ter provocado a queda.

A aeronave viajava de Cascavel (PR) para Guarulhos (Grande São Paulo) quando caiu bruscamente no condomínio Recanto Florido, no bairro Capela, em Vinhedo.

Imagens feitas por moradores mostram que o avião sofreu uma queda praticamente vertical, quase sem deslocamento horizontal, embora o som dos motores indique que poderiam estar funcionando.

A forma como o avião despencou manteve tripulantes e passageiros relativamente próximos aos seus assentos. “Os corpos estão como se estivessem sentados em seus respectivos assentos”, disse o capitão Michael Cristo, porta-voz do Corpo de Bombeiros.

O resgate começou pela parte da frente da aeronave, menos atingida pelo fogo após a queda. Piloto e co-piloto foram os primeiros identificados, ainda no condomínio.

“Para quem viu imagens aéreas, o avião caiu como se estivesse chapado no chão. A gente está com o desenho da aeronave no chão”, explicou Cristo.

Três métodos não invasivos de identificação estão sendo aplicados. A impressão digital é o mais rápido deles. Os outros dois são por meio da arcada dentária ou exame de DNA, esses mais demorados, segundo Carlos Palhares, diretor do Instituto Nacional de Criminalística.

“Estamos na fase de coleta de informações que vão permitir na identificação”, disse ele. “Praticamente todos os corpos retirados até agora são passíveis de análises com impressão digital, que é mais célere”, disse Palhares, fazendo referência ao trabalho realizado na parte frontal e menos destruída da aeronave, de onde 31 corpos foram recuperados. O perito disse não saber como seria a identificação dos demais corpos.

Famílias de vítimas cumpriam desde sábado etapas como coleta de material genético, entrevistas para colher informações que possam ajudar na identificação, além de orientação jurídica e psicológica, segundo o tenente Araújo Monteiro, da Defesa Civil. “É um processo trabalhoso. Cada entrevista, por exemplo, pode levar mais de uma hora”, explicou.

Familiares ficarão em hotéis na capital e serão concentrados no auditório do Instituto Oscar Freire, próximo do IML.

Nas primeiras horas após o acidente, especialistas em aviação ouvidos pela Folha levantaram duas hipóteses principais para o caso com base nos primeiros detalhes, ressaltando que é cedo para determinar as causas.

Vídeos do momento da queda mostram que a aeronave desceu rodopiou no ar, mantendo-se em posição horizontal, manobra conhecida como “parafuso chato”.

Essas condições, segundo especialistas indicam que o piloto havia perdido o controle da aeronave e as condições de arremeter —ou seja, apontar o nariz da aeronave para baixo e usar os motores para ganhar novamente sustentação no ar.

O especialista em segurança de voo Roberto Peterka levantou a possibilidade de que gelo tenha se acumulado nas asas da aeronave.

Já o engenheiro Hildebrando Hoffman, professor aposentado de Ciências Aeronáuticas da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), citou a hipótese de que tenha ocorrido uma falha na posição das hélices.

Ambas as hipóteses teriam afetado a capacidade de tração da aeronave. Eles descartaram a possibilidade de falha elétrica ou no motor, pois há sistemas auxiliares que normalmente não fariam com que o avião caísse em queda livre, como se vê nas imagens. A pane seca também está descartada, uma vez que o combustível queimou no solo, após a queda.

O piloto não teria declarado emergência ou reportado estar sob condições meteorológicas adversas.

A Voepass, dona da aeronave, disse que ainda não tem informações sobre a causa do acidente.

O avião era um ATR-72, fabricado em 2010 e tinha certificados de matrícula e de aeronavegabilidade válidos, segundo a Anac (Agência Nacional de Avião Civil).

“A aeronave estava regular, em todas as condições de aeronavegabilidade. Temos a rastreabilidade desde que a aeronave foi construída e isso será levantado e a informação será prestada à investigação feita pelo Cenipa”, disse o diretor da agência, Luiz Ricardo.

O acidente foi considerado de alta complexidade e havia uma preocupação de que altas temperaturas pudessem ter danificado os equipamentos, segundo a Força Aérea Brasileira.

A queda do avião em Vinhedo está entre os dez desastres aéreos mais mortais a ocorrer em território nacional. O mais letal aconteceu em 17 de julho de 2007, nos arredores do aeroporto de Congonhas, na zona sul da capital, e causou 199 mortes. O voo 3054 da TAM tinha partido de Porto Alegre com 187 pessoas a bordo.

noticia por : UOL

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