A Federação Luterana Mundial e a Igreja Ortodoxa anunciaram um acordo sobre o debate em torno da cláusula Filioque do Credo Niceno, que motivou o cisma entre as igrejas ocidentais e orientais há mais de 1.000 anos.
Significando “e o Filho” em latim, Filioque foi adicionado ao Credo Niceno durante a Era Medieval para fazer a declaração de fé dizer que o Espírito Santo procedeu tanto de Deus Pai quanto do Filho.
A disputa sobre se o Espírito Santo procedia de ambas as personagens da Trindade ajudou a levar ao Grande Cisma de 1054, que dividiu o cristianismo em uma Igreja Ocidental e uma Igreja Oriental.
Em uma declaração conjunta, os líderes da Federação Luterana Mundial (FLM) e da Igreja Ortodoxa explicaram que concordaram em “sugerir que a tradução do original grego (sem o Filioque) seja usada na esperança de que isso contribua para a cura das antigas divisões entre nossas comunidades e nos permita confessar juntos a fé dos Concílios Ecumênicos de Nicéia (325 d.C.) e Constantinopla (381 d.C.)”.
“O foco renovado na redação original do Credo Niceno-Constantinopolitano pode encorajar uma reflexão teológica renovada sobre a Trindade e o papel do Espírito Santo”, diz o pronunciamento.
“Além disso, ambos afirmamos que em nossa doutrina trinitária o Pai é a causa (αἴτiος) da geração do Filho e da processão do Espírito”, acrescenta o texto.
Também conhecida como Declaração Comum da Comissão Internacional Conjunta sobre Diálogo Teológico entre a FLM e a Igreja Ortodoxa, a declaração é o resultado de uma iniciativa de diálogo iniciada nos últimos 40 anos.
Credo Niceno
A FLM e os líderes ortodoxos também veem a Declaração Comum como “ um sinal de reconciliação” antes de 2025, que marcará o 1.700º aniversário da realização do Concílio de Niceia.
Nomeado em homenagem a Niceia, uma antiga cidade localizada na atual Turquia, o Credo Niceno foi originalmente escrito em 325 e posteriormente revisado no Concílio de Constantinopla em 381.
O credo foi formulado em resposta ao arianismo, uma heresia da igreja primitiva que afirmava, entre outras coisas, que Deus Pai criou Jesus e, portanto, não eram coiguais como parte da Trindade.
A cláusula filioque teria sido adicionada pela primeira vez ao Credo Niceno no Terceiro Concílio de Toledo em 589, como uma forma de enfatizar ainda mais a igualdade de Deus Pai e Deus Filho.
No entanto, muitas igrejas orientais discordaram da frase, acreditando que ela não refletia adequadamente o relacionamento entre as três Pessoas da Santíssima Trindade. Isso, junto com preocupações sobre o poder que o bispo de Roma estava tentando exercer sobre outros corpos regionais, levou ao Grande Cisma de 1054 d.C.
Em 1999, a FLM assinou um acordo com a Igreja Católica Apostólica Romana conhecido como “Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação”, que buscava resolver diferenças teológicas entre os dois órgãos sobre a natureza da justificação pela fé.
Mais tarde assinada por representantes da Comunhão Mundial das Igrejas Reformadas em 2017, a Declaração Conjunta diz que católicos e protestantes “agora são capazes de articular um entendimento comum de nossa justificação pela graça de Deus por meio da fé em Cristo”.
“Ela não abrange tudo o que ambas as igrejas ensinam sobre justificação; abrange um consenso sobre verdades básicas da doutrina da justificação e mostra que as diferenças restantes em sua explicação não são mais motivo para condenações doutrinárias”, diz um trecho da declaração, em parte.
A FLM foi fundada em 1947 e está sediada em Genebra, Suécia. Ela tem 150 igrejas-membro relatadas em quase 100 países, representando mais de 77 milhões de luteranos, de acordo com informações do portal The Christian Post.
FONTE : Gospel Mais