Bruno Spada / Câmara dos Deputados
Em depoimento à Câmara dos Deputados nesta terça, Neri se limitou a reclamar que ficou chateado com Fávaro pela forma como foi demitido.
Bruno Spada / Câmara dos Deputados
Em depoimento à Câmara dos Deputados nesta terça, Neri se limitou a reclamar que ficou chateado com Fávaro pela forma como foi demitido.
RENAN MARCEL
DO REPÓRTER MT
Quebrando as expectativas de que iria “explodir” o governo Lula dando detalhes do “escândalo do arroz”, o ex-secretário de Políticas Agrícolas do Ministério da Agricultura, Neri Geller (PP), optou por uma postura branda e colocou “panos quentes” na situação, em depoimento na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados, na manhã desta terça-feira (18). Na ocasião, Neri se limitou a reclamar que ficou chateado com o ministro Carlos Fávaro (PSD) pela forma como foi demitido do governo federal após vir à tona a fraude no leilão de importação de arroz.
Os rumores de que poderia “delatar” o governo petista ganharam força por conta da postura de Neri após sua demissão. Já nos primeiros instantes depois da suspensão do leilão, na semana passada, Geller declarou à imprensa que o certame foi feito de forma apressada e sem ouvir o setor produtivo. Caso mantivesse a postura e desse mais detalhes das irregularidades no leilão do arroz, fortaleceria a oposição e o pedido de abertura de CPI que já conta com mais de 140 assinaturas.
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No depoimento desta terça, Neri reclamou da forma como foi demitido. Disse que foi comunicado da exoneração por e-mail e respondeu à notificação solicitando que a exoneração não fosse publicada como se tivesse sido a pedido.
Não saio atirando, não é meu perfil e não faço politicagem
Mesmo diante disso, afirma que não deve sair “atirando” contra o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Não saio atirando, não é meu perfil e não faço politicagem. Não caio atirando, caio colocando os fatos como eles efetivamente são”.
Ex-deputado federal por Mato Grosso e ex-ministro da Agricultura, Geller respondeu aos questionamentos sobre sua demissão dizendo que não tem nada a esconder.
Ele admitiu a mágoa com Fávaro e argumentou que poderia ter sido simplesmente afastado do governo até que tudo fosse esclarecido.
“Falei isso para o ministro Fávaro e falei isso para membros do PT, parlamentares. Porque eu não que seria justo comigo”, reclamou.
Leia mais: Lula anula leilão e exonera Neri Geller após denúncias de fraude com assessor
Questionado sobre o “alto preço” que está pagando por ter o nome envolvido no escândalo, Neri respondeu: “sei o momento delicado que estou passando na minha vida pública e não vou ceder. Não tenho nenhuma vírgula para esconder. Sai mesmo chateado, proque eu não devia e não devo. Poderia ter me afastado tranquilamente, não seria justo eu simplesmente sair”, disse.
Apesar da declaração, o ex-secretário do Mapa afirmou que não viu má-fé na realização do leilão, mas sim um equívoco político. Neri contou aos deputados que havia sugerido a redução da alíquota do arroz diante da crise climática no Rio Grande do Sul, principal produtor brasileiro do cereal, mas foi voto vencido nas discussões sobre o abastecimento interno.
Segundo o depoimento de Neri, de dentro da comissão técnica formada pela Casa Civil, Conab, Ministério do Desenvolvimento Agrário e Mapa, saiu a decisão pelo leilão. Ele pontuou ainda que sugeriu então a compra de 100 mil toneladas de arroz, quantidade que depois passou para 300 mil, já sem a presença dele, enquanto secretário de Políticas Agrícolas, nas discussões.
“No nosso entendimento não houve má-fé, houve equívoco político na condução desse leilão, na questão de cuidar da inflação, do preço do arroz. O presidente Lula foi mal orientado em relação a isso”.
Sobre as suspeitas de irregularidades encontradas nas empresas vencedoras do leilão, Neri confirmou que elas foram representadas pelo seu ex-assessor, Robson Luiz de Almeida França, mas descartou qualquer relação com a atuação de Robson.
Disse ainda que os editais da Conab permitem a participação das empresas pré-habilitadas, mas caso elas não tenham condições financeiras e documentos para comprovarem a aptidão, são desclassificadas após o leilão e não recebem.
“Não tenho vínculo com qualquer empresa. E elas, pelas regras, tem prazo de cinco dias para apresentar a documentação e fazer o aporte de 5% do valor”, argumenta.
Durante os questionamentos, os deputados federais de oposição ao governo federal defenderam a convocação de outros ministros, como Rui Costa, da Casa Civil, e também membros da Conab. Carlos Fávaro deve ser ouvido na quarta-feira (19). Os parlamentares ainda prometeram empenho em conquisar novas assinaturas para tirar do papel a CPI do Arroz. Todos querem ir mais a fundo no assunto.
FONTE : ReporterMT