Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Javier Milei estão se aproximando de um encontro inevitável, ainda que, até aqui, ambos pareçam querer evitar um cara a cara.
O argentino, que chega a seus seis meses de governo nesta segunda-feira (10), terá um pepino para resolver caso o Brasil peça, de fato, a extradição de foragidos investigados por participarem dos ataques de 8 de janeiro de 2023 em Brasília. Milei permitirá que os apoiadores de seu amigo, o ex-presidente Jair Bolsonaro, sejam devolvidos para que enfrentem a Justiça ou lhes dará refúgio?
Desde que teve início, a gestão Milei tem levado as relações internacionais de um modo pouco convencional. Ele tem dado as costas para o Mercosul e para a região, enquanto deixa claro que seu foco está em estabelecer uma relação próxima com os Estados Unidos —onde já revelou ter preferência por Donald Trump para as próximas eleições— e com Israel. Deste modo, diz, estaria se afirmando como “um dos líderes mais importantes na defesa da liberdade”.
Milei já tomou, neste semestre, vários banhos de realidade. A saber: não está sendo nada fácil aprovar no Congresso a sua Lei Ônibus, pois seu governo não tem maioria entre os parlamentares. Não foi possível eliminar todos planos assistencialistas como imaginava, afinal, muitos argentinos não têm conseguido chegar ao fim do mês por causa da inflação. Tampouco conseguiu conquistar os corações e os apoios dos governadores, todos de oposição, para realizar o tão desejado pacto de aliança nacional.
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O caso dos fugitivos brasileiros em solo argentino mostra a Milei que, ainda que prefira manter contato próximo apenas com líderes, políticos e jornalistas alinhados a ele, não poderá entrar em uma fricção com o Brasil. Os dois países, além de serem sócios econômicos, compartilham uma fronteira que demanda atenção. Além disso, a chuva de investimentos que Milei previa para a Argentina não tem acontecido, e há uma pressão para que esteja mais presente no Mercosul.
Com isso em mente, Milei enviou uma carta ao presidente Lula. Demasiado informal, a missiva fugia do protocolo e era bastante seca e direta. Basicamente, algumas linhas propondo um encontro para falar de comércio bilateral.
O brasileiro, por sua vez, não respondeu de modo formal. É compreensível que Lula tenha se sentido ofendido pelas declarações de campanha de Milei —quando o argentino chamou o brasileiro de corrupto—, e mais ainda pelo fato de Milei ter recebido Bolsonaro quase como um chefe de Estado em exercício em sua posse.
Por outro lado, como líder mais experiente, Lula poderia ser o adulto da sala e se posicionar acima das declarações infelizes e dos arroubos do vizinho.
Se o argentino confirmar sua viagem ao G7, na Itália, é possível que ambos finalmente se vejam frente a frente. O porta-voz de Milei, Manuel Adorni, porém, afirmou que não há uma bilateral prevista para essa data. A melhor expectativa de um encontro será na reunião do Mercosul, em julho.
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Milei não está correto quando afirma que a relação pessoal entre chefes de Estado não influi nem impacta a relação comercial entre os países. O comércio bilateral entre Argentina e Brasil caiu 28,1% em relação ao mesmo período em 2023. Lula tampouco, ao se mostrar indignado e ao não mostrar interesse em alimentar a relação, que é necessária para ambos os lados.
É hora de deixar as cartinhas e as birras de lado. O bom clima de cooperação entre os países depende, sim, da proximidade de suas lideranças.
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noticia por : UOL