VARIEDADES

OMS agora é enfática em não recomendar máscaras generalizadas para doenças como a Covid

Com baixa repercussão, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou no último dia 18 um novo relatório técnico produzido após consulta com agências de saúde pública ao redor do mundo. O documento, dedicado à “terminologia proposta para patógenos que se transmitem pelo ar”, trata timidamente o uso de máscaras, em contraste com manifestações anteriores da entidade durante a pandemia de Covid-19.

Nas 52
páginas do relatório, máscaras são citadas apenas três vezes em listas de “medidas
de mitigação” que “podem reduzir o risco de patógenos que se transmitem pelo
ar”: “distanciamento, máscaras, ventilação/diluição e padrão de circulação de
ar adequados em espaços fechados”. Não há menções à medida exata do
distanciamento, antes especificado como de um ou dois metros nas diretrizes
publicadas durante a pandemia.

O texto diz enfaticamente que “não há nenhuma sugestão
deste processo consultivo que para mitigar o risco de transmissão pelo ar a
curtas distâncias as ‘precauções para ar’ (como são chamadas atualmente)
completas devem ser usadas em todas as situações, para todos os patógenos”.  As precauções desnecessárias para o caso
geral são esclarecidas em uma nota de rodapé: “colocar o paciente em uma sala
isolada contra infecções pelo ar, uso de equipamento de proteção pessoal por
profissionais de saúde (incluindo respirador), limitar transporte e movimento
dos pacientes e pedir ao paciente que use uma máscara quando apropriado”.

O documento
também deixa claro que doenças transmitidas pelo ar são um problema
principalmente em ambientes fechados, não espaços abertos. Embora a OMS não
tenha sido enfaticamente a favor de máscaras obrigatórias durante a pandemia, houve
por parte da organização um “silêncio eloquente” a respeito de proibições que
afetavam até espaços abertos, como foi o caso das regras draconianas em muitos
lugares pelo mundo, inclusive o Brasil, que levaram a punições contra
pessoas que caminhavam ou corriam em espaços abertos sem máscara.

O próprio
reconhecimento por parte da OMS de que a Covid se transmite pelo ar já é um
avanço. Havia um consenso espúrio na medicina que levou a um atraso nas
recomendações de que esse tipo de vírus precisaria de gotículas grandes de
fluido para se transmitir, por isso houve ênfase em superfícies e em lavar as
mãos no início da pandemia. Esse consenso foi derrubado em agosto de 2021 graças ao trabalho da especialista
em aerossol Lindsay Marr
, da instituição Virginia Tech. Ela relatou ter sofrido resistência para
ser ouvida por autoridades da medicina.

Por que máscaras
obrigatórias foram má ideia

Enquanto há
indícios “mecânicos” (como o tamanho dos poros) que corroborem especialmente os
respiradores para uso individual, o uso social das máscaras, imposto ou não,
não dispõe de evidências suficientes a seu favor. Este já era o caso quando a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) insistiu em máscaras
obrigatórias nos aeroportos no início de 2023, atraindo uma crítica dura de
José Hiran da Silva Gallo, presidente do Conselho Federal de Medicina. “Máscaras
como sinalização de virtude ou como medida de sensação de pertencimento social
jamais podem ser impostas a pessoas que não compartilham de tais ideologias ou
comportamentos”, disse Gallo na época.

A falta de
indícios que justificassem máscaras obrigatórias, até de tecido, para toda a
população já era conhecida logo antes da pandemia, como afirmou o jornalista
científico John Tierney em artigo de setembro de 2023. A ineficácia para uso social foi
confirmada em duas revisões da Cochrane, respeitada organização dedicada a
avaliar e resumir evidências de eficácia de tratamentos médicos. A Gazeta do
Povo
cobriu todo este debate e as críticas contra o maior estudo
pró-mascaras feito no período da pandemia, realizado em Bangladesh.

A evolução de posições da
OMS sobre as máscaras

Janeiro
de 2020:

inicialmente, a organização declarou que o público em geral não precisava das
máscaras, exceto as pessoas que apresentavam sintomas ou que cuidavam de quem
estivesse com sintomas, como os profissionais médicos.

Abril de
2020:
numa guinada,
a OMS recomendou que máscaras fossem usadas em situações específicas, como o
transporte público, onde o distanciamento entre as pessoas fosse difícil. Houve
a ressalva de que o uso de máscaras poderia criar uma falsa sensação de
segurança com negligência quanto a outras medidas tais como lavar as mãos. A
recomendação de lavar mãos, contudo, estava associada à posição equivocada de
que o vírus da Covid precisava de gotículas grandes para se transmitir, em vez
de se transmitir pelo ar.

Junho de
2020:
a OMS
reconheceu que havia portadores assintomáticos do vírus e revisou suas
recomendações sobre as máscaras, endossando aquelas feitas de tecido
(alternativamente às cirúrgicas e aos respiradores como N-95), com três
camadas, para uso do público. “Você deve também manter uma distância física
mínima de um metro dos outros”, dizia a organização, uma recomendação também
baseada na falsidade da transmissão preferencial da Covid via gotículas
grandes.

Agosto de 2020: as diretrizes da OMS junto com a UNICEF não recomendavam máscaras para crianças até os cinco anos de idade, por potenciais problemas que seriam impostos pelo uso ao seu desenvolvimento. Para crianças dos seis aos 11 anos, deixavam a cargo de cada país decidir com base na intensidade da transmissão viral local e outros fatores. Para crianças a partir dos 12 anos, valeriam as mesmas regras aplicadas para adultos.

Dezembro
de 2020:
a entidade
dessa vez entrou em mais detalhes sobre tipos de máscaras, para ajustar
recomendações por situação.

Dezembro de 2021: última data de atualização das recomendações da OMS especificamente sobre o uso de máscaras contra Covid, feita quatro meses após Lindsay Marr conseguir voz na imprensa através da revista Wired. A entidade continuava recomendando máscaras de tecido e divulgava na mesma página um podcast de título “mandem cinco bilhões de máscaras, por favor”.

noticia por : Gazeta do Povo

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