Represas ou barragens são estruturas para conter água e, na maioria dos casos, disponibilizá-la à irrigação ou produção de eletricidade. No entanto, milhares delas pelo mundo afora necessitam de reparos, e muitas têm se provado fracas demais para proteger as comunidades locais, em caso de chuvas pesadas e continuadas.
Um exemplo é o ocorrido nesta quinta-feira (02/05) no Rio Grande do Sul, quando a barragem 14 de Julho se rompeu parcialmente devido aos temporais que atingem o estado. As chuvas na região já deixaram pelo menos 30 mortos, dezenas de desaparecidos e mais de 300 mil moradores sem luz. Ao menos 19 barragens no estado estão em estado de alerta ou atenção.
No fim de abril, outra represa colapsara no norte de Nairóbi, capital do Quênia, após chuvas pesadas e inundação com recorde histórico de níveis da água. Esse tipo de desastre está se tornando constante. Quando, em setembro de 2023, caíram as barragens Abu Mansour e Derna, na Líbia, em decorrência do ciclone tropical Daniel, peritos frisaram que há anos vinham avisando que, se houvesse uma inundação, o resultado seria catastrófico para os moradores abaixo. E assim ocorreu: a contagem de mortos e desaparecidos chegou a milhares.
O Escritório da ONU para Coordenação de Assuntos Humanitários (Unocha, na sigla em inglês) expressou apreensão quanto a duas outras represas líbias, de Jaza e de Qattara, próximas a Benghazi, citando “relatos contraditórios” quanto a sua estabilidade.
Tais contradições não são exclusividade da Líbia. Também alegaram-se ter havido avaliações conflitantes em torno do rompimento da barragem de rejeitos da mina em Brumadinho, Minas Gerais, em 25 de janeiro de 2019, causando uma avalanche de lama tóxica que resultou em 270 mortes. Um ano antes, a subsidiária da firma alemã de avaliação de risco TÜV Süd no Brasil declarara a construção segura.
Para que servem represas e como resistem à pressão da água?
Uma represa serve a coletar e armazenar água, que pode ser natural, destinada à irrigação ou como reserva para criação de gado, controle de poluição, geração de energia ou recreação. A água pode também ser residual, oriunda de uma mina próxima. Nesse caso, conterá rejeitos, compostos por metais, substâncias químicas e resíduos líquidos decorrentes da extração do minério.
Do ponto de vista do material de construção, há dois tipos principais de barragens artificiais: de aterro ou de concreto. Outras possibilidades são aço e madeira.
As barragens de aterro são as mais comuns, erguidas com solo e rochas naturais, ou resíduos de operações de mineração e perfuração, compactados. Sua capacidade de conter água e resistir à pressão depende da massa e constituição dos materiais empregados.
Barragens de concreto se dividem em três subtipos: de gravidade, de contrafortes e em arco. As mais comuns são as de gravidade, feitas com blocos verticais de concreto e seladas por juntas flexíveis, em que a pressão da água bate no muro da represa e é forçada para baixo.
As de contrafortes têm forma semelhante, mas exigem menos material, pois as forças hídricas são desviadas para baixo pela construção em declive. As represas em arco têm forma de semicírculo, com paredes relativamente delgadas. Nelas, a pressão da água é conduzida lateralmente até lagos artificiais (albufeiras).
Como evitar que represas transbordem? Por que elas falham?
Quando uma represa se rompe e transborda, há potencial de inundação, destruição e morte em massa, além de bloqueio do acesso a estradas, comida e serviços essenciais. Porém há mecanismos para evitar que as barragens excedam o nível seguro.
Estruturas de escoamento permitem a passagem de um fluxo constante até um rio abaixo da represa ou a um sistema hidroelétrico, ou o seu desvio para a irrigação de campos. Por sua vez, vertedouros são, basicamente, calhas ou poços por onde a água escapa ao atingir o nível de um orifício aberto no alto.
A idade é uma das causas mais comuns para a falha de uma represa. Em 2021, um relatório da United Nations University indicava que “dezenas de milhares de grandes represas existentes alcançaram ou excederam o limite de ‘alerta’, de 50 anos, e muitas outras logo farão 100 anos”.
A barragem de Brumadinho foi construída em 1976, portanto se aproximava do fim de sua vida útil. As de Abu Mansour e Derna, na Líbia, datam igualmente da década de 1970. Portanto, embora o ciclone Daniel tenha desencadeado sua falha, é possível que já estivessem prestes a se romper.
Contudo as estruturas também podem apresentar defeitos devido a mau design e manutenção irregular. Se a construção do vertedouro é inadequada às chuvas fortes ou se o orifício superior fica obstruído, pode ocorrer transbordamento.
Nas barragens mais antigas, o processo natural de sedimentação pode ser excessivo. Se as encostas circundantes tornam-se instáveis e os materiais de construção começam a erodir, é provável que ocorra infiltração.
Outras causas naturais para uma falha são terremotos, enchentes, condições meteorológicas extremas e deslizamentos de terra. Além disso, há os efeitos das guerras, como bombardeio e sabotagem.
Para evitar a falha de represas, é necessário manutenção regular e aplicação das recomendações técnicas. Isso não é substituto uma estratégia de emergência eficaz e bem divulgada, para a eventualidade de uma falha. Como adverte a Agência Americana de Gestão de Emergências (Fema), nenhuma represa é a prova de enchentes.
noticia por : UOL