Incorporadoras estão ampliando para imóveis de médio padrão e até mesmo para edifícios populares a oferta de serviços de personalização, algo que antes era restritos apenas aos empreendimentos de alto custo.
Antes da entrega do imóvel, compradores já podem escolher itens que vão do tipo de piso e acabamento das paredes à integração e distribuição dos ambientes. A oferta depende de cada incorporadora e quanto maior o valor do imóvel, mais opções.
O piso, por exemplo, pode ser de porcelanato brilhante ou fosco, cerâmica, cimento queimado ou marmorizado. Para as paredes, o proprietário pode escolher a cor, os azulejos ou outros revestimentos.
Com recursos de tecnologia 3D e realidade virtual, o comprador personaliza também serviços de mobiliário, marmoraria e decoração, que simulam desde o tipo do armário até a roupa de cama que irá compor os quartos do imóvel.
Há cerca de um ano, o Ekko Group —incorporadora especializada em imóveis de alto e médio padrão na capital e região metropolitana de São Paulo— criou a subsidiária Ekko Dekkor para cuidar das personalizações dos clientes.
Somente no ano passado, a adesão ao serviço ocorreu em 28% das vendas. O novo braço do grupo fechou o caixa com faturamento de R$ 8 milhões, valor que ficou aproximadamente 10% acima do esperado, com a venda de mais de 400 unidades personalizadas.
De acordo com a diretora de incorporação do Ekko Group, Juliana Zogbi, a Dekkor surgiu como uma resposta à demanda crescente dos clientes por personalização e a necessidade da empresa de dividir com eles esse momento.
A subsidiária oferece o serviço de marcenaria, de marmoraria para bancadas, pisos, louças, metais e até enxoval fino, com roupas de cama e banho. Pagando a personalização, o cliente entra no apartamento basicamente com os objetos pessoais.
Folha Mercado
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“A vantagem para o cliente é ter uma equipe integrada com arquiteto, engenheiro e decoradores que conhecem o imóvel e têm conhecimento dos melhores acabamentos, da infraestrutura, da marcenaria e da decoração que serão previamente escolhidas para aquele imóvel. E a gente tem um relacionamento maior com o comprador”, afirma a diretora.
O engenheiro e agente de viagens, Carlos Alberto Abud, 61, comprou um apartamento de 140 metros quadrados em Barueri, na região metropolitana de São Paulo. Já estão escolhidos o acabamento, piso, forro e cores das paredes do imóvel, previsto para ser entregue até o início do ano que vem.
No imóvel que que custou R$ 1,6 milhão, essa personalização acrescentou mais R$ 150 mil ao investimento —e está sendo paga mensalmente, junto com as parcelas do financiamento.
Não foi a primeira vez que Abud comprou um imóvel no qual opta pela personalização. Para ele, é muito melhor decidir antes do que depois fazer uma nova obra quando o apartamento já está pronto.
“É muito transtorno [fazer obras depois da entrega]. Escolhendo antecipadamente, eu não preciso me preocupar com a obra e o resultado final é muito melhor. Ao fazer isso com bastante antecedência, tem também a facilidade do resultado e do pagamento. Vou pagando mensalmente até ficar pronto”, afirma o engenheiro.
Personalização de imóveis populares
Os imóveis populares construídos e financiados pelos programas de habitação popular Minha Casa, Minha Vida limitam algumas alterações na parte estrutural dos imóveis devido ao tipo de construção de alvenaria.
Apesar disso, a Rio8 Incorporações, empresa especializada em empreendimentos que vão desde alto padrão até populares, criou uma forma de personalizar os apartamentos de baixo custo.
Em 2019, a incorporadora lançou o Cenário da Montanha, no bairro Itaipava, em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, o primeiro empreendimento popular com possibilidade de personalização.
O projeto com 672 apartamentos de 57 metros quadrados, por R$ 230 mil, poderia oferecer a sala e a cozinha integrados.
A arquiteta Mariliz Fontes Pereira, CEO da Rio8, percebeu que a mudança de uma única parede não encareceria o imóvel e poderia propiciar a sensação de mais amplitude com a integração dos dois espaços. Cerca de 90% dos compradores optaram pela cozinha americana.
De acordo com a empresária, ainda são poucas as empresas que oferecem a personalização de imóveis mais econômicos. Isso porque, como são muitas unidades para alterar, dá mais trabalho para administrar.
“Essa mudança no imóvel popular não é só uma questão mercadológica, é também você oferecer um ganho na qualidade de vida, com uma mudança muito simples, para um cliente que não pode pagar mais”, afirma Pereira.
Ela acrescenta que, no caso dos apartamentos de luxo, entre 40% e 50% dos clientes fazem personalização. No econômico, a opção é somente na hora da venda, quando o cliente opta por unidades com ou sem a cozinha americana.
“No empreendimento de Petrópolis, alguns clientes se arrependeram e pediram para alterar após verem o dos vizinhos, mas, depois do imóvel pronto, não dá mais para mudar”, explica.
Há quase três anos morando em Petrópolis, a enfermeira Marinara Peixoto, 28, diz que a sala integrada com a cozinha é a área favorita do apartamento, que atualmente está com o valor de mercado em torno de R$ 400 mil.
“Nós gostamos porque tem espaço, tem iluminação é confortável. Eu já vi os apartamentos que não têm cozinha americana e não gostei. Parecem bem menor”, compara a proprietária.
noticia por : UOL