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Lobby anti-JBS replica estratégia contra a Shein nos EUA

A JBS tornou-se alvo de uma campanha de lobby nos EUA contrária à abertura de capital da empresa na Bolsa de Nova York. Intitulado “Ban the Batistas”, em referência aos irmãos Joesley e Wesley, o grupo não revela seus financiadores e diz colaborar com “outras organizações independentes de agricultura, meio ambiente e boa governança”.

A consultoria de lobby contratada, chamada Actum, é a mesma que representou no ano passado um esforço semelhante contra a Shein. A estratégia é a mesma: pressionar a SEC (a Comissão de Valores Mobiliários americana) para barrar o plano das empresas de abrir capital nos EUA.

Nos dois casos, as listagens na Bolsa de Nova York sofrem resistência de concorrentes americanos e ativistas.

Lançada há dois anos, a Actum tem no seu quadro nomes de peso, a começar pelo ex-deputado Mick Mulvaney, que já foi chefe de gabinete interino do ex-presidente Donald Trump, e a ex-senadora democrata Barbara Boxer.

A diretora-executiva da “Ban the Batistas” é uma vice-presidente sênior da Actum chamada Kimberly Spell, descrita no site da consultoria como “expert na criação de narrativas e enredos cativantes”.

A “Shut Down Shein” (feche a Shein), por sua vez, foi chefiada por outro executivo da consultoria, chamado Chapin Fay.

As campanhas compartilham a mesma lobista, Jennifer Kaufmann, segundo registros apresentados ao Congresso americano.

No caso da Shein, a Actum declara ter recebido cerca de US$ 180 mil pelos serviços prestados de abril a outubro de 2023. Pela campanha contra a JBS, iniciada em novembro, a consultoria declara ter recebido US$ 10 mil até dezembro.

A página “Shut Down Shein” não está mais disponível na internet. Uma versão visível arquivada no Internet Archive, datada de dezembro, tem uma estrutura semelhante ao site “Ban the Batistas”.

A mensagem de email disponibilizada na página para ser enviada à SEC e à NYSE caracteriza a JBS como um “gigante dominador, que pratica cartel e monopoliza o mercado, prejudicando continuamente todos os setores da agricultura americana”.

A campanha também acusa a empresa de destruir o meio ambiente e usar trabalho infantil, argumentando que a ampliação de acesso ao capital permitida pela listagem em Bolsa daria escala ainda maior às más práticas.

As críticas são ecoadas em vídeos de duas influenciadoras do TikTok compartilhados pela página da campanha —elas são as únicas na plataforma que usam a hashtag #banthebatistas fora o perfil oficial.

Uma das páginas, intitulada “theberrybestt”, pertence a uma jovem que afirma ser engenheira ambiental e possui mais de 54 mil seguidores.

“Ninguém merece ser tão cancelado quanto esses ‘dirty beef boys'”, diz a influenciadora com uma foto dos irmãos Batista ao fundo, para em seguida explicar quem são eles e quem é a JBS.

Outro vídeo, publicado por um perfil chamado “earthtodezz”, com mais de 31 mil seguidores, usa a mesma imagem dos empresários brasileiros.

No comunicado de lançamento, o grupo contra a JBS se define como um “guarda-chuva de organizações”.

Questionada pela Folha quais são os nomes desses integrantes, Spell não respondeu. Por email, ela disse que a “Ban the Batistas” é “um esforço independente de advocacy que colabora com outras organizações independentes de pecuária, meio ambiente e boa governança”.

A executiva também não respondeu quem financia a campanha. Segundo ela, o grupo é uma organização sem fins lucrativos, sob o código 501(c)(4). Essa categoria é frequentemente utilizada por lobistas nos EUA porque permite receber doações ilimitadas de pessoas físicas e jurídicas sem ser obrigada a revelar os nomes desses financiadores.

O objetivo declarado da “Ban the Batistas” é “proteger os agricultores, pecuaristas, consumidores e investidores americanos dos riscos e da busca desenfreada por poder dos acionistas majoritários da JBS, os irmãos Joesley e Wesley Batista”, conforme comunicado divulgado à imprensa na época de seu lançamento, em novembro.

À Folha Spell diz que “líderes de todo o mundo, desde membros do Parlamento até o Congresso dos EUA, reconhecem a ameaça que o IPO da JBS representa e expressaram sua preocupação à SEC”, em referência às cartas assinadas pelos políticos que reproduzem críticas feitas pelo grupo.

“O fato de os irmãos Batista ganharem quase 90% de controle sobre a JBS através deste IPO fraudulento —enquanto aparentemente protegidos pelos tribunais no Brasil— representa um enorme risco para os investidores. Além disso, há um reconhecimento crescente de que os Batistas têm a capacidade de manipular os tribunais no Brasil, juntamente com os escândalos de corrupção nos mais altos níveis do governo, tornando o investimento no Brasil uma empreitada muito arriscada para empresas e indivíduos americanos”, completa.

Nesta terça-feira (26), em comunicado enviado à CVM, a empresa afirmou que Joesley e Wesley voltarão ao seu conselho de administração, sete anos após terem renunciado por pressão do mercado.

Em 2017, Joesley gravou uma conversa com o então presidente, Michel Temer (MDB), antes de fechar acordo de delação premiada. O mesmo caminho foi seguido por Wesley após investigações da Operação Lava Jato.

Os dois foram presos no ano seguinte, acusados de terem usado informações privilegiadas a respeito das próprias delações para manipular o mercado. Os dois foram absolvidos pela CVM posteriormente.

A JBS é a líder mundial no mercado de carnes. Em 2020, a empresa fechou um acordo para pagamento de US$ 128 milhões pela J&F ao Departamento de Justiça por violações de leis relacionadas à prática de corrupção, e de US$ 27 milhões pela JBS à SEC por falhas nos controles contábeis da Pilgrim’s Pride Corporation.

Questionada sobre a campanha, a JBS afirma em nota que a abertura de capital nos EUA “vai atrair uma base mais ampla de investidores, aumentar a flexibilidade de emissão de ações para financiar oportunidades de crescimento e desalavancagem, reduzir o custo de capital e ampliar ainda mais o escrutínio da já robusta governança da JBS”.

“Nesse processo, é importante separar os fatos dos ruídos externos”, segue a empresa por email enviado à reportagem.

“É fato que o mercado conhece nossas práticas e sabe que estamos liderando uma importante transformação no setor, tanto é que temos recebido importantes manifestações de confiança”, afirma.

noticia por : UOL

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