Sempre que escuta a pergunta se está tudo bem, Alexandre Costa, 53, fundador e CEO da Cacau Show responde: “Tudo doce”. Isso até a segunda-feira (19).
“Agora mudou. Vou dizer que está tudo doce e divertido”, disse à Folha.
Por um valor não revelado, ele anunciou nesta terça-feira (20) a compra do Grupo Playcenter, complexo de entretenimento e parque de diversões que possui dois modelos de negócio: os Playlands e o Playcenter Family. Ambos exploram o conceito de lazer indoor, especialmente em shopping centers.
Mas a marca da companhia está sempre associada ao Playcenter, parque inaugurado em 1973 e que ocupou espaço de 85 mil metros quadrados na marginal Tietê, em São Paulo.
Por problemas financeiros, o complexo, que chegou a ser o maior da América Latina, fechou em 29 de julho de 2012.
“É o parque de maior memória afetiva do país. Creio que a [compra da Cacau Show] é um divisor de águas e está nascendo um grande grupo de entretenimento”, afirma Vanessa Costa, presidente da Adibra (Associação das Empresas de Parque de Diversões do Brasil).
Parte do terreno que foi do parque de diversões original está desocupado, mas trechos foram transformados em escola, posto de gasolina e edifício residencial.
Assim que o anúncio da negociação foi feito, a principal pergunta passou a ser: o Playcenter vai voltar?
Segundo Alexandre Costa, esta é a ideia, não necessariamente em um futuro próximo. É um desejo, até porque a negociação precisa ser ainda aprovada pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
“Temos o sonho de ter um grande parque outdoor. Parte do processo de ter comprado uma empresa de 50 anos é que os funcionários que estão lá há 20, 30 anos vão nos ajudar a pensar no projeto. Precisamos analisar a viabilidade econômica. A gente pretende voltar a ter o Playcenter. Mas isso está no plano do sonho. Por enquanto, é manter os pezinhos no chão”, diz o fundador da Cacau Show.
Com faturamento de mais de R$ 100 milhões, o Grupo Playcenter ainda era controlado pelo seu fundador Marcelo Gutglas, 82. Na cerimônia de anúncio da venda, ele disse estar tranquilo por ter visto “brilho nos olhos” do novo dono.
Não é o primeiro investimento da Cacau Show no ramo. A empresa tem um hotel em Campos do Jordão e nos próximos meses vai inaugurar outro, em Águas de Lindoia (as duas cidades no interior de São Paulo).
Também montou parque de diversões na mega store de 3.000 metros quadrados da sua fábrica, em Itapevi (na região metropolitana da capital).
Os planos imediatos da companhia são fazer uma relação sensorial, nas lojas atuais do Grupo Playcenter, entre a diversão e o chocolate.
“Vamos cuidar da parte de alimentos e bebidas, colocar mais produtos nas lojas, trabalhar com propriedades intelectuais e envelopar algumas atrações. O mesmo cacau que faz um chocolate faz a manteiga de cacau usada nas massagens nos nossos hotéis. É o mesmo cacau com que fazemos caipirinhas. O cacau vai ser um tema [dos parques de diversões]”, completa o CEO.
As conversas começaram no ano passado, quando ele estava em Orlando, nos Estados Unidos, para uma feira internacional de entretenimento. Vanessa Costa achou que deveria apresentá-lo a Marcelo Gutglas.
Os dois se entenderam bem, mas não havia negociação aberta porque, até onde se sabia, o Grupo Playcenter não estava à venda.
Eles almoçaram juntos algumas vezes até que Gutglas disse que a idade estava chegando e não tinha herdeiros interessados em assumir a empresa. Costa estaria interessado em comprá-la?
“Se for por um preço justo, eu compro”, afirmou o dono da Cacau Show.
“Se for por um preço justo, eu vendo”, confirmou o antigo proprietário do Playcenter.
“É um grupo que normalmente buscaria um banco de investimento para procurar comprador. Foi um negócio feito entre dois homens. Ele me entregou uma joia e vou cuidar com carinho”, constatou Costa.
Nascido no bairro da Casa Verde, zona norte da capital, Alexandre Costa cresceu a poucos quilômetros do Playcenter original. Passar pela marginal Tietê, ao lado do parque, era rotina. Conseguir dinheiro para entrar e se divertir nos brinquedos, nem tanto.
“Este é um dia muito especial para mim. Na minha infância, meus pais guardavam dinheiro para uma vez a cada ano eu conseguir ir ao Playcenter.”
Por isso, antes de deixar o escritório da maior rede de chocolates finos do mundo, com cerca de 4.200 lojas no país e mais de 22.000 funcionários, ele telefonou para casa e pediu um prato especial para jantar: ovo com bolinha.
“Sabe o que é? Você estala [frita] os ovos, coloca ervilha e fecha [cobre] a frigideira. Deixa fritar no molho. Isso é ovo com bolinha. Era o que eu comia na idade em que meus pais juntavam dinheiro para eu ir no Playcenter.”
noticia por : UOL