Alvo da Operação Vigilância Aproximada, da Polícia Federal (PF), o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) foi entrevistado pelo canal GloboNews nesta quinta-feira, 25. Ele conversou com os jornalistas Nilson Klava e Octavio Guedes.
Durante a entrevista, Ramagem criticou parte da corporação responsável pela operação de hoje. De acordo com o parlamentar, “há um núcleo da PF que quer incriminar sem provas”.
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Deputado federal em primeiro mandato, Ramagem foi o diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) de julho de 2019 a abril de 2022, durante parte do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo as investigações da PF, ele teria, supostamente, participado de monitoramento ilegal. Ele nega as acusações.
Os desdobramentos da operação que teve Ramagem como alvo foi o tema central de sua entrevista à GloboNews.
Confira trecho da entrevista de Alexandre Ramagem à GloboNews
Klava pergunta sobre a instrumentalização da Abin
Queríamos o acesso aos autos. Houve um mandado de busca e apreensão na minha residência e no gabinete. Como de praxe, só veio o mandato explicando a busca. E mais do que isso: depois de efetuadas, quando perguntei ao delegado e à escrivã, não havia intimação para interrogatório. Não quiseram ter a minha oitiva. Foi anunciado, mas não fui intimado, em que eu saberia o que teria sido imputado a mim, e não pela imprensa. Quando tive acesso à decisão, o que vemos é uma salada de narrativas antigas e superadas para imputar criminalmente no nome da gente sem provas. Nós, da direção da Polícia Federal (PF), além dos policiais federais que estavam comigo, nunca tivemos utilização, gestão ou senha desse sistema.
Guedes pergunta sobre o acesso às informações da Abin e a apreensão de seus equipamentos
O que tenho são documentos da minha gestão, do meu computador, da Abin, que eu não revelo. Se já estão na PF, ótimo, só mostram como fiz correição ordinária e enviei para corregedoria com tudo detalhado. Já saiu na imprensa. O jornal Folha de S.Paulo entrou em contato comigo com determinadas imputações a mim. Estão usando o nome da PF e, se isso é verdade, está havendo uma quebra de sigilo de vocês. Eram balbúrdias, falácias. No texto que estou vendo, há algumas coisas que levaram para mim.
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O que levaram da minha residência, tenho telefones de três, cinco anos. Se havia o computador e o telefone da Abin, foram trocados por novos e sem utilização. Eu não utilizo há mais de três anos. Estão no canto, tecnologia antiga. Poderia devolver, mas estavam ali e pensei que eram da PF antiga. Tenho direito à custódia. Telefone e computador antigos, sem nenhuma utilização há anos, sem sistema da Abin. Eu não tenho contato nenhum com quem faz esse tipo de investigação. Se houver vazamento de informação, tem que ser apurado lá de dentro. Não tem nenhum documento comigo.
Klava questiona a respeito dos equipamentos da Abin apreendidos com Alexandre Ramagem
Não tenho informações de investigação. Tenho procedimentos da época da minha gestão, que demonstram tudo o que eu fiz. O sistema não é de interceptação, não é de invasão, é um sistema grosseiro de localização, que diz se está em Copacabana, Brasília. Foi adquirido com análise técnica, teve controladoria interna, externa e confirmação do Tribunal de Contas da União (TCU). Essa ferramenta é legal dentro da Abin. E foi vendida a diversas instituições no Brasil, inclusive estaduais. Estão apurando justamente quem fez a correição. Por que fizemos a correição? Porque acreditava que ali estava uma bagunça. A PF não tinha acesso, nunca pedimos. A direção-geral tem mecanismos para fazer plano de operação para cada operação e dizer com que tecnologia se trabalha.
Guedes pergunta sobre a “Abin paralela”
Um sistema, quando é comprado, o delegado-geral da PF compra as armas. Se o policial usa a arma equivocadamente, não é culpa do delegado. Então, a gente foi fazer uma auditoria para se trabalhar. Quanto a essa questão do Jair Renan Bolsonaro, eu não tenho intimidade com ele. Não sei se as pessoas da Abin têm contato com ele. Com Flávio, tenho contato. Eles têm proteção do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), enquanto filhos do presidente. Jair Renan foi acusado de ter recebido um carro.
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Quanto ao Flávio Bolsonaro, foi resolvido há muito tempo. Demonstrou que o que o jornalista colocou à época não foi produzido pela Abin, se foi utilizada tecnologia da Abin. Era um papel de pão mal escrito que se dizia ter sido escrito pela Abin para Flávio Bolsonaro. Foi aberta e resolvida sindicância e foi levada à Procuradoria-Geral da República, que arquivou, demonstrando que a Abin estava correta.
Nilson pergunta sobre os possíveis alvos políticos de espionagem
A Abin é enorme e os departamentos são independentes. A gente queria organizar uma ferramenta e fizemos uma auditoria específica para isso. Quando fomos ouvir o diretor responsável pelas senhas e gestão para demonstrar como funciona… Para um agente da PF ir à rua, ele cumpre a missão e faz o relatório. A Abin não estava tendo isso. Quando se negaram a me informar como trabalhavam a ferramenta, exonerei o responsável e encaminhei para a corregedoria. A corregedoria é autônoma. Tudo foi feito com base na nossa correição. Quando eu analiso o que foi feito aqui, essa salada de narrativas, eu vejo que o Ministério Público (MP) e o Judiciário foram envolvidos por um núcleo da PF que está querendo, sem provas, incriminar. O que se vê aqui é essa nova PF, de governo, perseguidora, contra os policiais que eram responsáveis pelos grandes trabalhos da antiga PF.
Octavio pergunta se a Abin agiu nos casos de Jair Renan e Flávio Bolsonaro
O Jair Renan, sim. Fomos saber que carro era esse que estava imputado a ele. Inteligência de proteção tem essa função. O senador Flávio Bolsonaro, ao contrário. Fizeram assassinato de reputação com seis meses. Apareceram com uns inscritos “pede para fazer um cafezinho”. Nunca teve essa elaboração de relatório. Quando se fala de Abin paralela, o próprio presidente Bolsonaro colocava. Não era o caso aqui. Esse é um sistema comprado pela Abin, legalmente, usado dentro da Abin e apenas por servidores da Abin. É a Abin real e tem que se verificar a maneira de usar. Quem fez a correição, quem jogou para a corregedoria, feita para padronizar e punir. A gente queria padronizar o sistema e saber quem estava fazendo errado.
Octavio questiona sobre a promotora do caso de Marielle Franco
Quando veio a mim a questão de Marielle Franco, eu fiquei até “como é possível?”. Eu verifiquei que não tem nada a ver com sistema. É um currículo da promotora, uma informação que circulou ali. A inteligência é uma coleta de dados e informações. Tem que verificar quem colocou e retirou e perguntar para essa pessoa. A Abin é uma organização de procedimentos. Se você analisar uma pessoa, tem que ter uma provocação de uma chefia, de uma direção.
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noticia por : R7.com