Não tardaram a ter razão aqueles que evocaram o fantasma do efeito mimético do Hamas na Europa. Na França, em 13 de outubro, um jovem checheno de 20 anos, Mohamed Mogouchkov, respondeu positivamente ao apelo da organização terrorista para uma “sexta-feira de fúria” e aproveitou a oportunidade para fazer o que talvez já estivesse planejando há algum tempo. A vítima sacrificada foi Dominique Bernard, um professor de literatura francesa em uma escola de ensino médio em Arras, com cerca de 40 anos. Dois ficaram feridos pela faca do agressor.
Mogouchkov já era inevitavelmente conhecido pelas autoridades como alguém em risco de radicalização. Seu irmão mais velho está na prisão por planejar um ataque terrorista ao Palácio do Eliseu. Assim, o jovem checheno decidiu seguir fielmente os passos de seu compatriota Abdullakh Anzorov, o degolador do professor Samuel Paty no subúrbio de Conflans-Sainte-Honorine, perto de Paris, em 16 de outubro de 2020, exatamente quatro anos atrás.
Os antecedentes que levaram ao seu ato bárbaro ainda não foram reconstruídos com precisão e, portanto, não sabemos se Mogouchkov nutria um ódio tão extremo pelo Prof. Bernard por algum motivo específico, como foi o caso da discussão em sala de aula sobre as charges de Charlie Hebdo, que se mostrou fatal para o professor Paty. Anzorov agiu instigado pelo ISIS, Mogouchkov pelo Hamas, embora ele também tivesse simpatia pelo suposto Estado Islâmico: apesar das diferenças, o resultado não muda. Continua sendo o terrorismo jihadista no coração da Europa.
Há uma preocupação crescente com a persistência desse fenômeno na África Subsaariana, e certamente com razão. Por outro lado, concentrar a atenção quase que exclusivamente no que está acontecendo além das fronteiras europeias nos leva a subestimar os problemas muito sérios que afligem a Europa internamente, entre os quais certamente a presença bem enraizada de bolsões de radicalismo islâmico, agora espalhados por toda parte, inclusive na Itália. Um problema entrelaçado com a imigração, a integração e a militância de uma parte significativa da segunda geração, a qual também devemos acrescentar a recepção de “refugiados” como Anzorov e Mogouchkov, que se juntam na lista negra do terrorismo a seus compatriotas Dzokhar e Tamerlan Carnaev, autores do ataque à Maratona de Boston em 15 de abril de 2013.
A Alemanha proibiu todas as atividades relacionadas ao Hamas no país, depois do clamor suscitado pelas manifestações exultantes em Berlim a favor da organização terrorista que, lembremos, é um dos muitos frutos amargos gerados pela Irmandade Muçulmana e se beneficia do apoio político da Turquia e do Catar, bem como de mísseis e treinamento do regime khomeinista iraniano. Manifestações semelhantes às da capital alemã ocorreram nas ruas de “Londonistão”, conforme denunciado pela escritora J. K. Rowling.
Na Itália, até o momento, os islamitas locais não gritaram abertamente seu apoio ao Hamas, mas isso é apenas prudência misturada com astúcia, que não esconde sua complacência com o que aconteceu em Israel, como no caso dos muitos jovens “influenciadores” barbados que estão na moda nas mídias sociais. São indivíduos que nasceram ou chegaram muito cedo à Itália, graduados e inseridos profissionalmente, que não têm nada de aparentemente perigoso, mas exploram sua aparência à primeira vista tranquilizadora para transmitir a propaganda ideológica fundamentalista da Irmandade no atual contexto italiano.
Suas lições de história online sobre a questão palestina servem apenas para promover aos recém-chegados a visão do Hamas sobre o conflito, juntamente com as metas estabelecidas em seu estatuto de fundação (a destruição de Israel), instrumentalizando, assim, a verdadeira situação dos palestinos, que já dura décadas.
Entre os alvos de suas atividades de proselitismo, encontramos, sem surpresa, a esquerda estudantil neo-sessentaeoitista, com a qual se reuniram em Milão para a “Sexta-Feira de Fúria”, exaltando a “Resistência” palestina com tempero islâmico.
Se estivessem mais conscientes dessa dinâmica, os grupos de jovens de direita que causaram incidentes nas manifestações em Roma talvez tivessem adotado uma postura mais equilibrada e menos parecida com a de torcedores de futebol do que os antagonistas de esquerda. A “Resistência” inclui também o Hezbollah, que, a mando do Irã, está cuidando para que o pobre Líbano seja mais uma vez envolvido no conflito em grande escala, apesar do fato de que 70% da população se opõe totalmente a essa perspectiva absurda.
É preciso sempre se distanciar do islamismo radical, seja qual for a causa que ele representa. A ameaça de bomba em Versalhes e a abalada escola em Arras dizem-nos que as “sextas-feiras de fúria” estão destinadas a continuar.
Souad Sbai é jornalista, política e ensaísta italiana. Nascida em Marrocos, mas cidadã italiana desde 1981, formou-se em Letras com uma tese sobre direito islâmico na Universidade de Roma “La Sapienza”. Doutorada em ensino superior europeu e mediterrânico pela Seconda Università degli Studi di Napoli.
© 2023 La Nuova Bussola Quotidiana. Publicado com permissão. Original em italiano: “Come l’Europa si alleva la serpe islamista in seno”.
noticia por : Gazeta do Povo