POLÍTICA

Grupos que lideram a greve da USP se comportam como facções

(J. R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 7 de outubro de 2023)

As facções que controlam o acesso dos estudantes da Universidade de São Paulo à suas aulas e cursos, através da intimidação e da violência física, introduziram um novo tipo de greve no Brasil. É a greve sem reinvindicação — ou, mais exatamente, que exige da reitoria o atendimento de demandas já atendidas. Os chamados “líderes” querem que a USP contrate mais professores. Está sendo preparada, desde o ano passado, a contratação de 879 novos profissionais — um processo que leva tempo, considerando-se que a admissão de um professor de universidade não pode ser feita de hoje para amanhã. Na verdade, a USP vai contratar mais de mil docentes. Querem, também, aumento nas verbas de auxílio aos alunos tidos como carentes. O orçamento da USP em 2023 reservou quase R$ 190 milhões para este atendimento; é o maior e o melhor avaliado programa de ajuda financeira a estudantes em todo o Brasil, atendendo hoje a 15 mil matriculados. Para que a greve, então?

Nos discursos em torno da admissão de mais professores, os chefes da greve apontaram a necessidade de se garantir o prosseguimento dos cursos de coreano, de formação de atores e de coisas parecidas. Tumultuar as aulas de uma universidade com 75 mil alunos por exigências como essa? Pois aí está — é esse o nível mental do “movimento estudantil” na USP de hoje. A greve que foi imposta aos estudantes, naturalmente, não está interessada em nada disso — nem no ensino do coreano nem no restante de uma lista de reivindicações infantis, mal-informadas e sem sinais visíveis de vida inteligente. O que os chefes quiseram, mesmo, foi atacar o “governo Tarcísio”. É um disparate. O que iriam dizer se fosse feita uma greve contra o “governo Lula”?

J. R. Guzzo: ‘Greve do Metrô é uma agressão estúpida ao cidadão’

Governos começam e acabam com eleições livres — não há nenhum outro meio conhecido de se fazer isso numa democracia. Mas o problema dos condutores do “movimento estudantil” é justamente esse: a sua recusa em aceitar as regras básicas de qualquer sociedade democrática. Não querem diálogo. Não admitem que haja posições diferentes suas. Não levaram em conta, em nenhum momento, se os alunos queriam ou não queriam a sua greve. Obviamente não queriam: as faculdades só foram paralisadas porque os grevistas fecharam as suas portas de entrada com barricadas. Se os estudantes tivessem tido a mínima possibilidade de decidir, e de ir, fisicamente, para as salas de aula, não haveria greve nenhuma.

A USP vai custar quase R$ 8,5 bilhões este ano; quase 90% disso está saindo diretamente do bolso do pagador de impostos de São Paulo, que entrega para a universidade 5% de toda a arrecadação do ICMS.

noticia por : R7.com

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