POLÍTICA

Congresso: obstrução pelo marco temporal foi só o começo?

Na última terça-feira 26, um grupo de representantes de 18 frentes parlamentares, mais o Partido Liberal (PL) e o partido Novo anunciaram que iriam obstrução na pauta no Congresso Nacional. Foi uma surpresa e uma reação, depois de anos de inércia, dos congressistas ante o atropelo do Supremo Tribunal Federal (STF) — que insiste em legislar.

A ideia era fazer um protesto em resposta às recentes decisões e julgamentos do Supremo Tribunal Federal (STF), em especial sobre a aplicação do marco temporal em terras indígenas, a legalização do aborto e a descriminalização do porte de drogas.

“Cabe o Legislativo zelar por suas atribuições”, disse o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Pedro Lupion (PP-PR), na quarta-feira 27. “A usurpação de competência pelo STF tem que cessar. Isso significa um basta: seja na relativização do direito de propriedade, legalização do aborto, garantia da legítima defesa, regularização das redes sociais, etc. Essas pautas, que são caras à sociedade, inclui a nós todos. Não aceitamos interferências no Poder Legislativo.”

Dos três temas, o STF já derrubou a tese do marco temporal. Em relação ao aborto, a Corte pautou, na semana passada, o julgamento da matériaa então ministra Rosa Weber votou a favor da descriminalização do aborto até 12 semanas de gestação. O desfecho do julgamento foi adiado.

A Corte também analisa a descriminalização do porte de maconha para uso pessoal. O placar está perto de formar maioria: 5 votos favoráveis e 1 contrário. O julgamento está suspenso por pedido de vista do ministro André Mendonça. 

A obstrução paralisou as comissões da Câmara e do Senado, fazendo com que a Comissão de Constituição e Justiça funcionasse apenas para aprovar o projeto de lei do marco temporal. A aprovação recorde se estendeu ao plenário do Senado, onde a matéria foi aprovada na quarta-feira 27.

Placar da votação do PL do marco temporal das terras indígenas no Senado – 27/09/2023 | Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado

Para minar a obstrução na Câmara, na noite da quarta-feira, a ala governista convenceu o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), a pautar uma Medida Provisória que beneficiaria os ruralistas — uma vez que a FPA encabeçou a paralisação.

A MP foi aprovada, mas o PL e o Novo continuaram em obstrução, apesar de seis deputados do PL votarem a favor da medida. Diferentemente dos partidos, as frentes parlamentares não possuem previsão legal para obstrução, elas apenas orientam os deputados.

Obstrução no Congresso continua na próxima semana?

Foto: Maryanna Oliveira / Câmara dos Deputados

Contudo, conforme apurou Oeste, as principais bancadas do Congresso: Agronegócio, Evangélica e Segurança Pública devem manter o bloqueio da pauta na próxima semana.

Na terça-feira 3, os dois partidos e as bancadas se reúnem para discutir as prioridades da semana e se devem continuar em obstrução. Sem o apoio das frentes, apenas o PL e o Novo não travam votações — vide a apreciação da MP na quarta-feira.

A bancada do agro ainda tem questões a serem resolvidas pelo Congresso, como, por exemplo, o PL do marco temporal. Apesar de o Legislativo ter aprovado a matéria nesta semana, o presidente Lula indicou a aliados que não deve sancionar a proposta.

“Por óbvio, essa matéria será levada ao veto do presidente da República, mesmo que os vetos sejam derrubados, por óbvio, acionaremos novamente a Suprema Corte, pois ela existe para isso, para ser acionada quando a Constituição é descumprida”, avaliou o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), na quarta-feira.

Caso isso aconteça, parlamentares do Congresso dão como certa a derrubada do veto. Além disso, eles ainda pressionam Lira para instalar uma comissão para analisar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que trata sobre o marco temporal, como uma forma de insistir no tema.

A oposição ainda redigiu uma PEC que dá ao Congresso o poder de anular decisões da Suprema Corte. A ideia também é pressionar para que o mérito da proposta comece a andar com celeridade na Câmara, onde foi protocolada.

No Senado, os parlamentares também devem se reunir na próxima semana a fim de deliberar sobre as prioridades da oposição e, assim, definir sobre a continuação da obstrução.

Conforme o líder do Novo no Senado, Eduardo Girão (CE), a ação do STF “fez com que o Senado começasse a se levantar para impor limites”. O parlamentar ainda destacou que a votação do marco temporal foi apenas “primeira batalha”.

“O que fez essa votação acontecer foi essa obstrução”, destacou na noite da quarta-feira. “Vamos continuar fazendo obstrução até que seja respeitado o que a gente decidir. Isso foi só o começo. Tem a questão do aborto, das drogas e outras matérias. Eles vão precisar respeitar o trabalho para o qual fomos eleitos.”

Os senadores possuem duas linhas de trabalho: uma PEC para criminalizar qualquer porte de drogas, apresentada pelo presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG); e um plebiscito sobre o aborto, de autoria do líder da oposição no Congresso, senador Rogério Marinho (PL-RN).

noticia por : R7.com

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