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Área de escape na serra onde morreram corintianos segue no papel; veja como funciona

Um estudo, ainda em fase embrionária e sem data para implantação, avalia a construção de uma área de escape na serra de Igarapé, onde um ônibus com corintianos tombou no último dia 20, na rodovia Fernão Dias, em Minas Gerais. O acidente provocou a morte de sete torcedores.

Perícia realizada pela Polícia Civil mineira comprovou falta de freios no veículo, que bateu um barranco antes de virar. Naquela região ocorreram 67 acidentes em um ano.

Instaladas em locais de longos trechos de serra e altos índices de acidentes, essas saídas de escape conseguem parar veículos pesados com problemas de freios, como ocorreu com o ônibus de corintianos, falta de manutenção, excesso de peso ou mesmo por inabilidade do motorista.

“É uma última chance”, afirma Antonio César Ribas Sass, diretor da Arteris, concessionária que administra a própria Fernão Dias e que mantém três desses equipamentos em outras estradas, um na serra do Cafezal, no trecho paulista da Régis Bittencourt, e as demais, em sequência, na BR-376, em Guaratuba (PR).

Segundo ele, os três locais “salvaram” 993 vidas, que é a soma dos ocupantes do total de veículos que pararam nestas saídas.

As rampas ou áreas de escape em regiões de serra de estradas brasileiras já foram acessadas ao menos 1.500 vezes, desde que a primeira delas foi construída, em março de 2000, na rodovia Anchieta, principal ligação entre a cidade de São Paulo e o porto de Santos, na Baixada Santista —a estrada tem dois desses equipamentos, nos km 42,8 e km 49.

O equipamento conta com uma saída paralela à pista da rodovia, que direciona o veículo a uma caixa cheia de cinasitas —bolinhas de argila expandidas.

Essa caixa começa rasa e chega a mais de 1 metro de profundidade, como em uma piscina. Conforme o veículo afunda, é dissipada sua energia e ele para.

Além da argila, segundo a Ecovias, as rampas de escape da Anchieta permitem a parada completa de veículos, mesmo os mais pesados e em alta velocidade, graças à sua inclinação da rampa, contrária à da pista.

Elas contam ainda com sistema de drenagem e armazenamento, que impede que vazamento de carga líquida perigosa no solo.

Em média, dependendo do número de acessos, a cada ano é feita a troca de todas as pedras.

No caso da área do km 667,3 da BR-376, há dois pórticos rolantes que içam os veículos atolados na argila —em média, o resgate total leva 45 minutos.

Em todas elas, há vasta sinalização sobre o recurso para quem está em perigo e monitoramento em tempo real por câmeras.

No Brasil não há uma norma técnica para construção das áreas, segundo a Agência Nacional de Transporte Terrestre, mas a do km 667,3 tem sido usada como modelo para novos projetos, conforme a ANTT.

No fim de abril passado foi lá que o ônibus dirigido por Odimar Ferreira Rocha, 45, foi parar após o estouro de uma mangueira do freio traseiro.

“Não deu para eu entrar na primeira área de escape, mas na segunda Deus salvou 28 passageiros”, afirma ele, que conduzia o veículo que ia do Pará para Santa Catarina. Ninguém se feriu com gravidade.

De acordo com ANTT, atualmente há 13 áreas de escape em estudos para serem instaladas em locais com alta quantidade de acidentes, a partir de novos contratos de concessões.

“Desde 2019, esses projetos se transformaram em uma espécie de política pública”, diz Luciano Lourenço, diretor da agência.

Um desses locais previstos é na própria Fernão Dias, no km 373, região central mineira. Mas não há data para sair do papel.

Em Minas Gerais foi sancionada em 2022 uma lei que torna obrigatória a implantação de rampas de escape em rodovias estaduais a serem construídas ou duplicadas diretamente pelo governo do estado. Ela entra em vigor maio de 2024,

Na capital Belo Horizonte, uma rampa foi construída pela prefeitura no anel viário da cidade. Em menos de um ano, o local foi acessado nove vezes por veículos pesados desgovernados.

Oo trecho onde houve o acidente com os torcedores corintianos é um dos que tem estudos preliminares para novas rampas de acesso, diz a Arteris. Ainda não há projeto protocolado na ANTT.

A concessionária diz que a serra de Igarapé recebeu melhorias como reforço de sinalização com alerta luminoso, placas indicando curva acentuada, placas de contagem regressiva antes de curva e ranhuras no acostamento para alerta a motoristas em caso de sonolência.

Tramita na Câmara dos Deputados um projeto de lei que prevê a instalação de rampas de escape em estradas federais com longos trechos de descida. Atualmente ele está na Comissão de Viação e Transportes da Casa.

Em sua justificativa, o deputado José Nelto (PP-GO) cita no projeto um estudo que analisou 497 acidentes graves com caminhões em rodovias americanas. Ele apontou que 16 % deles foram resultados da perda de controle em descidas fortes.

noticia por : UOL

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