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Mortes: Generoso, traduziu o botequim e o Rio para o mundo

Entre as muitas qualidades de Paulo Thiago de Mello citadas pelos amigos, a que mais se destaca é a generosidade. Apresentava, com sua calma característica, fontes, livros, filmes, samba e, principalmente, botequins.

Não meros bares ou restaurantes, mas o tipo de estabelecimento que dá alma à boemia carioca. Traduzir esse ambiente foi a missão escolhida pelo jornalista, escritor e antropólogo ao longo da vida, e que gerou, com o amigo José Octávio Sebadelhe, o livro “Memória Afetiva do Botequim Carioca”, publicado em 2016.

Criado no Rio de Janeiro, jogou bola e soltou pipa entre as favelas da Praia do Pinto, no Leblon, o morro do Vidigal e a Rocinha. Cresceu e passou a apreciar as rodas de samba, o chope e, especialmente, a boemia do bairro de Botafogo, onde viveu por décadas e cuja cultura se preocupou em documentar.

Paulo era filho do músico amazonense radicado em Nova York Gaudencio Thiago de Mello (morto em 2013), e sobrinho de Amadeu Thiago de Mello, poeta considerado um dos maiores defensores da floresta tropical, falecido no ano passado.

Fez carreira no jornalismo, com passagens por Jornal do Brasil, O Dia e O Globo, no qual trabalhou por mais tempo. Também era antropólogo —equilibrou o trabalho na Redação com a vida acadêmica. Era pesquisador do Laboratório de Etnografia Metropolitana do Rio de Janeiro, da UFRJ. Na França, mostrou a cultura carioca e suas comparações com bairros parisienses.

“Em 2011, ele estava fazendo o pós-doutorado em Paris, e eu fui a passeio. Ia encontrar com ele por lá, e ele marcou depois de uma reunião na Sorbonne. Eu cheguei antes e a reunião ainda estava acontecendo, fiquei impressionada em como eles reverenciavam o Paulo”, lembra a amiga Vivi Fernandes de Lima, 46, também jornalista.

Ela conta que a amizade começou em 1997, em um dos encontros no botequim carioca Dona Maria, na rua Garibaldi, residência por muitos anos do compositor Aldir Blanc. “A gente frequentava as rodas de samba que aconteciam lá, e foi num dia de pré-Carnaval que ficamos amigos.”

Depois de morar por décadas em Botafogo, Paulo havia se mudado para o pé de um morro em Santa Teresa, na região central do Rio de Janeiro. Fazia muitas críticas aos condomínios fechados com garagem, restaurante e mercado, que dificultavam a circulação de pessoas pela cidade.

Problemas de mobilidade e circulação debilitaram a saúde de Paulo nos últimos anos. Morreu em 20 de agosto, aos 64 anos, em decorrência de problemas no fígado. Deixa gerações de amigos e apaixonados pelo botequim.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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noticia por : UOL

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