VARIEDADES

Lições da pandemia: impostos não deveriam mais financiar testes em animais na China

Em maio, os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês) fizeram algo extraordinário. A agência discretamente removeu o Instituto de Virologia de Wuhan de sua lista de laboratórios pré-aprovados que podem receber dólares de impostos dos EUA para conduzir testes em animais.

O laboratório de Wuhan é, obviamente, digno de nota porque uma abundância de evidências sugere que seja provavelmente a fonte do SARS-CoV-2.

O fato de o laboratório de Wuhan estar recebendo milhões de dólares do NIH para realizar pesquisas arriscadas em coronavírus ajuda a explicar por que o governo dos EUA trabalhou tão duro para convencer as pessoas de que a Covid-19 tinha origem natural. Isso também explica por que o NIH apagaria o laboratório de Wuhan de sua lista de laboratórios que podem receber financiamento, sem sequer emitir um comunicado à imprensa.

Infelizmente, o controle de danos do NIH não é apenas tardio demais, mas também é insuficiente.

O White Coat Waste Project — a organização que expôs que o NIH estava financiando pesquisas de ganho de função do pesquisador do laboratório chinês supostamente considerado o “paciente zero” — observou recentemente que dezenas de outros laboratórios chineses que conduzem testes em animais ainda são elegíveis para receber dólares de impostos dos EUA.

“Enviar dólares dos contribuintes para laboratórios de testes em animais administrados por nossos adversários estrangeiros é um convite para o desastre”, disse Justin Goodman, vice-presidente sênior do White Coat Waste Project, em um comunicado. “Mais de 70% dos contribuintes — tanto republicanos quanto democratas — se opõem a esse gasto irresponsável.”

Há uma razão pela qual os americanos são amplamente contrários ao financiamento público de testes em animais. A prática é eticamente questionável e muitas vezes horrível.

Em 2021, a CBS relatou sobre um programa do Departamento de Assuntos de Veteranos dos EUA que financiou experimentos em gatos saudáveis, incluindo um procedimento chamado “implante na cabeça” que envolvia pesquisadores “perfurando buracos” nos crânios dos gatos “para testar os padrões de sono”.

Após a pandemia de Covid-19, esses experimentos terríveis chamaram a atenção dos legisladores federais, incluindo a senadora republicana do Iowa, Joni Ernst, que afirma que mais de 1 bilhão de dólares em fundos federais foram gastos em programas de testes em animais e outros projetos na China e Rússia.

A senhora Ernst é uma das integrantes de um grupo bipartidário de legisladores que buscam acabar com esse financiamento por meio da Lei Accountability in Foreign Animal Research [Responsabilidade em Pesquisa com Animais Estrangeiros, AFAR, na sigla em inglês].

“A Lei AFAR garantirá que nem mais um centavo seja gasto subsidiando experimentos loucos e perigosos, como colocar gatos em uma esteira ou aumentar os coronavírus de morcegos na Rússia e China”, afirma Ernst.

Ernst está correta, e a Lei AFAR é um passo na direção certa. Mas o problema vai além do dinheiro dos impostos.

Há um aspecto sombrio e semelhante ao de Frankenstein em pesquisadores que usariam práticas eticamente comprometidas para promover a sorte da humanidade em nome da ciência. A lição de Frankenstein, é claro, é que devemos tomar cuidado ao cometer atrocidades morais em busca da ciência. No entanto, essa lição parece perdida para muitos cientistas hoje, ou pelo menos para aqueles que estão recebendo os cheques.

E isso nos leva ao problema mais profundo. O governo não está apenas permitindo que esses experimentos eticamente questionáveis em animais ocorram; ele está financiando ativamente a pesquisa, o que é problemático por duas razões que vão além de dólares e centavos.

Primeiro, o governo criou uma indústria massiva em torno da experimentação em animais. Centenas de milhões de dólares estão em jogo, e tanto os destinatários dos fundos quanto aqueles que os concedem têm um incentivo para manter o dinheiro fluindo — independentemente da ética ou dos resultados da pesquisa.

Segundo, a supervisão adequada e a responsabilidade dessas instalações são prejudicadas pelo fato de o governo financiar a pesquisa. O governo deve responsabilizar aqueles que prejudicam diretamente outros, mas a saga do laboratório de Wuhan mostra como essa tarefa se torna difícil quando o próprio governo é o mau ator.

Nem a Academia Chinesa de Ciências, que administra o Instituto de Virologia de Wuhan e se reporta diretamente ao Conselho de Estado da República Popular da China, nem o governo dos EUA mostraram muito interesse em ser transparentes sobre o que estava acontecendo no laboratório de Wuhan.

A China se recusou firmemente a fornecer dados de pacientes para a Organização Mundial da Saúde em sua investigação sobre as origens da Covid-19, mesmo que seja considerada uma prática padrão durante uma pandemia.

O governo dos EUA, por sua vez, fez grandes esforços para censurar os americanos que especularam abertamente que o vírus poderia ter se originado no laboratório de Wuhan. Os funcionários do governo também de alguma forma convenceram um grupo de cientistas a afirmar publicamente que o vírus tinha origem natural, mesmo que eles acreditassem privadamente que o oposto fosse verdadeiro.

Em outras palavras, os funcionários do governo estarão mais inclinados a encobrir a verdade do que a se responsabilizarem por quaisquer crimes que cometam ou danos que causem.

Nada disso deveria nos surpreender. Em sua obra clássica ‘Anatomia do Estado‘, o economista Murray Rothbard observou que “o Estado está em grande parte interessado em se proteger em vez de proteger seus súditos”. Rothbard propôs testar essa hipótese com uma pergunta simples: “Qual categoria de crimes o Estado persegue e pune com mais intensidade — aqueles contra cidadãos privados ou aqueles contra ele mesmo?”

Vimos a resposta para essa pergunta repetidamente nos últimos três anos, o que torna claro que é hora de o governo sair dos negócios de financiamento de experimentos em animais.

O longo histórico do estado de experimentos científicos horríveis — tanto em pessoas quanto em animais — mostra que falta tanto a consciência quanto os incentivos necessários para conduzir essas pesquisas de maneira ética (supondo que elas possam ser éticas) e segura.

No final, tanto nossos netos quanto o reino animal nos agradecerão por separar ciência e Estado.

© 2023 Foundation for Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês: Why Are US Tax Dollars Still Flowing to Animal Testing Labs in China?

noticia por : Gazeta do Povo

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