POLÍTICA

Mauro Cid tentou destruir provas de negociações para vendas de joias, diz PF


O tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) e peça-chave da operação deflagrada pela Polícia Federal (PF) nesta sexta-feira (11), teria tentado destruir provas das negociações da venda de joias recebidas de Estados estrangeiros pelo ex-presidente. Dez mensagens com fotos dos objetos que compunham o kit “Ouro Branco”, com os respectivos certificados, foram supostamente apagadas a pedido de Marcelo Câmara, ex-assessor de Bolsonaro. No entanto, Mauro Cid encaminhou as mesmas mensagens à conta dele do WhatsApp Business (versão para negócios do aplicativo de mensagens), que está vinculada a um telefone com número dos EUA.



Os arquivos das fotos encontradas nesse celular não possuíam dados completos, como o local onde foram tiradas. Depois de analisar todo o material apreendido, entretanto, a PF identificou essas mesmas imagens em formato original no computador Macbook apreendido na residência de Mauro Cid. Nessas fotos, havia dados adicionais, inclusive a localização e a data em que elas foram tiradas. As imagens foram registradas nos dias 12 e 13 de junho de 2022, por volta das 19h30, quando se considera o fuso horário da Flórida, nos Estados Unidos.


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“Embora as mensagens tenham sido apagadas, Mauro César Barbosa Cid as enviou para o seu próprio WhatsApp Business, de modo que foi possível à Polícia Federal identificar que as mensagens continham fotos do kit de joias, contendo um anel, abotoaduras, um rosário islâmico (‘masbaha’) e os respectivos certificados de autenticidade, que foi entregue [sic] ao ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro quando de sua visita oficial à Arábia Saudita em outubro de 2019”, diz um trecho do relatório da Polícia Federal.








Operação Lucas 12:2







A operação desta sexta-feira (11), chamada de Lucas 12:2, tem o objetivo de investigar um grupo, composto de aliados do ex-presidente Bolsonaro, que teria vendido joias e outros objetos de valor, como esculturas, entregues a autoridades brasileiras em missões oficiais.


O versículo bíblico que dá nome à operação diz que “não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido”.


De acordo com a PF, as peças foram enviadas aos Estados Unidos em dezembro de 2022, no avião da Presidência da República. As tratativas para a negociação dos itens teriam começado em 19 de dezembro de 2022.



Em 8 de fevereiro de 2023, um dos kits, chamado de “Ouro Branco”, teria sido submetido a leilão, mas, segundo o relatório da PF, não foi vendido “por circunstâncias alheias à vontade dos investigados”. Logo após a tentativa frustrada, e com a divulgação da existência das joias pela imprensa, Cid teria organizado uma “operação de resgate” dos bens.


Nessa operação, as joias foram enviadas à cidade de Orlando, na Flórida, onde o ex-presidente da República estava morando na época. Bolsonaro deixou o Brasil em 30 de dezembro de 2022 e retornou para o país em 30 de março de 2023.



Segundo a PF, o fato de as joias não terem sido vendidas no leilão possibilitou ao ex-presidente devolver os bens à Receita Federal, em março deste ano, após a decisão do Tribunal de Contas da União (TCU).


Nas mensagens flagradas pela PF e divulgadas nesta sexta-feira, Mauro Cid e Marcelo Câmara lamentam o fato de o kit não poder ser vendido. “Só dá pena, porque estamos falando de US$ 120 mil”, diz a mensagem. Câmara concorda, mas faz um alerta: “O problema é depois justificar para onde foi. De eu informar para a comissão da verdade. Rapidamente vai vazar”.


Entenda a operação


A Polícia Federal cumpre nesta sexta-feira quatro mandados de busca e apreensão em uma operação de combate a crimes de peculato e lavagem de dinheiro ligados ao caso das joias recebidas pelo ex-presidente Bolsonaro de Estados estrangeiros. Os investigados são suspeitos de ter vendido joias e presentes oficiais ganhos por ele.



De acordo com a PF, teria sido utilizada “a estrutura do Estado brasileiro para desviar bens de alto valor patrimonial, entregues por autoridades estrangeiras em missões oficiais a representantes do Estado, por meio da venda desses itens no exterior”.



As quantias obtidas com essas operações “ingressaram no patrimônio pessoal dos investigados por meio de pessoas interpostas e sem usar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, a localização e a propriedade dos valores”. A Polícia Federal não informou o lucro que os suspeitos teriam obtido com a venda das joias e dos presentes.

noticia por : R7.com

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