A cantora Jojo Todynho foi submetida nesta semana a uma cirurgia bariátrica, meses após ter iniciado uma rotina de exercícios físicos, dieta e uso de Ozempic. Nesse processo prévio, ela conseguiu eliminar cerca de 25 kg.
A artista recebeu alta nesta quinta-feira (10) e disse estar ciente de que terá um “processo longo” pela frente.
Mas quanto ainda poderá perder após a cirurgia?
Não há um número mágico, pois isso depende do método cirúrgico utilizado e de como cada paciente muda a alimentação após o procedimento, mas pode ser algo a partir de 30% do peso.
Técnicas cirúrgicas mais utilizadas
Gastrectomia em manga (sleeve)
Segundo o Manual MSD de Diagnóstico e Tratamento, essa abordagem “leva à perda de peso substancial e sustentada”, pois “provoca certas mudanças hormonais que podem resultar em saciedade antecipada”, o que contribui para o emagrecimento.
“Essas mudanças também melhoram a maneira pela qual o organismo utiliza a glicose, possivelmente ajudando a reduzir a gravidade do diabetes”, acrescenta o guia médico.
O endoscopista bariátrico Eduardo Grecco, do Instituto EndoVitta, em São Paulo, explica que, de modo geral, pacientes submetidos à cirurgia bariátrica por sleeve perdem cerca de 30% do peso.
“É feito um corte no estômago, mas é preservado o intestino. Só diminui o volume do estômago. A partir daí, o paciente vai comer menos. É claro que tem que ter uma dieta equilibrada. É uma cirurgia restritiva, mas não é disabsortiva [não atrapalha a absorção dos nutrientes].”
Esse método reduz significativamente a capacidade do estômago, detalha o cirurgião do aparelho digestivo Juliano Barra, do Hospital Sírio-Libanês de Brasília.
“O estômago é dividido em dois segmentos, e aproximadamente 80% a 85% do estômago são retirados, deixando a parte remanescente com capacidade de cerca de 100 ml.”
Bypass gástrico
É a “técnica bariátrica mais praticada no Brasil, correspondendo a 75% das cirurgias realizadas, devido a sua segurança e, principalmente, sua eficácia”, de acordo com a SBCBM (Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica).
Estima-se que os pacientes possam perder cerca de 40% do peso um ano e meio após a cirurgia.
Barra diz que o procedimento “envolve um desvio de grande parte do estômago direto para o intestino delgado”.
“É uma cirurgia que tem mecanismo de funcionamento tanto restritivo quanto metabólico, por isso é chamada de uma cirurgia mista”, acrescenta o médico do Sírio-Libanês.
Grecco classifica essa cirurgia como “a mais invasiva e agressiva”, mas também a que mais proporciona emagrecimento, por ser disabsortiva.
“O paciente vai precisar repor vitaminas, vai ter anemia, precisa de um acompanhamento nutricional importante”, diz o médico.
Por deixar o paciente com uma capacidade de ingestão diminuída dos alimentos e promover o aumento de hormônios que dão mais saciedade, o bypass “leva ao emagrecimento, além de controlar o diabetes e outras doenças, como a hipertensão arterial”, ressalta a SBCBM.
“A opção por uma ou outra é muito individual de cada paciente. Por exemplo, [para] pacientes com refluxo gastroesofágico, o que é muito comum em casos de obesidade, a recomendação é pela opção do bypass. [Para] pacientes com alguma lesão no estômago que tenham que permanecer sob vigilância endoscópica, a opção é pelo sleeve”, observa Barra.
Quem pode fazer?
A cirurgia bariátrica é indicada somente a indivíduos que preenchem determinados critérios.
“O paciente tem que ter um histórico de obesidade de pelo menos cinco anos e um histórico de tratamento dessa obesidade por pelo menos dois anos”, esclarece Barra.
O tratamento inicial envolve a mudança na alimentação e a prática de exercícios físicos. Medicamentos, como o próprio Ozempic, também podem ser prescritos.
Se mesmo assim não houver evolução, ainda é preciso considerar o IMC (índice de massa corporal), uma medida que estabelece a relação de altura e peso.
O IMC de 35 a 40 é considerado obesidade moderada. Nesses casos, “os pacientes podem operar desde que tenham comorbidades associadas, como diabetes, hipertensão arterial, algum problema do fígado…”, pontua Grecco.
Independentemente de comorbidades, a cirurgia é indicada para pessoas que tenham IMC acima de 40 (obesidade mórbida) — acima de 50 estão os chamados superobesos.
Quais são os riscos da cirurgia bariátrica?
Como ocorre com qualquer cirurgia, ser submetido a uma bariátrica envolve alguns riscos. Grecco diz que pode ser indicado que alguns pacientes percam peso — assim como Jojo fez — alguns meses antes da operação.
“O ideal é perder um pouco de peso, por questão da anestesia geral à qual o paciente vai ser submetido. O obeso também é um paciente inflamado, então, na recuperação pós-operatória, o pulmão vai estar melhor. Tem casos, por exemplo, de paciente com 200 kg, em que a gente coloca um balão intragástrico para perder 40 kg e depois ele é submetido à cirurgia [bariátrica]. Ele vai melhor, tem um pós-operatório melhor do ponto de vista da cicatrização, evolução, e do ponto de vista respiratório.”
De acordo com Barra, “hoje em dia, em virtude do avanço das técnicas, do treinamento das equipes e das tecnologias envolvidas, são cirurgias extremamente seguras. O risco de mortalidade está na casa de 0,1% a 0,2%”.
A fístula é descrita pelos dois especialistas como a complicação pós-cirúrgica — entre o sétimo e o décimo dias — mais preocupante.
“A fístula é o vazamento do grampeamento da cirurgia, quando o grampeamento utilizado não cicatriza de maneira adequada e ocorre um vazamento do conteúdo do estômago para a cavidade abdominal, causando infecção”, afirma o cirurgião do Sírio-Libanês.
Também há risco de embolia pulmonar, que, embora seja raro, também requer medidas preventivas para ser minimizado.
Outros métodos
Grecco ressalta que há dois métodos menos invasivos que a cirurgia: o balão intragástrico e a sutura endoscópica, também chamada de gastroplastia endoscópica.
Segundo uma revisão da AMB (Associação Médica Brasileira), esses “são os dispositivos da endoscopia metabólica e bariátrica mais amplamente utilizados”.
“O balão é um bezoar artificial que ocupa espaço no estômago, reduzindo a ingestão de alimentos e induzindo à saciedade, resultando em perda de peso. […] Além da perda de peso, esses dispositivos induzem uma diminuição significativa na esteatose hepática [gordura no fígado], resistência à insulina e melhora em outras comorbidades associadas à obesidade.”
Pacientes costumam perder entre 15% e 20% do peso com o balão intragástrico.
Já a gastroplastia endoscópica envolve uma espécie de costura do estômago, por meio de um tubo inserido pela boca, que reduz seu volume em cerca de 70%. Essa técnica pode promover a redução de 20% a 25% do peso, segundo Grecco.
É um método reversível e tem menos complicações do que o sleeve e o bypass, por exemplo.
Acompanhamento e reganho de peso
É imprescindível que pacientes submetidos a intervenções como as mencionadas acima tenham um acompanhamento permanente de uma equipe multidisciplinar, composta de médicos (cirurgião e endocrinologista), nutricionista e psicólogo.
“É sabido que esses pacientes, a longo prazo, depois de cinco anos, cerca de 40% acabam tendo algum tipo de reganho de peso, porque a obesidade é uma doença crônica, em que o paciente tem duas situações importantes. Ele burla a cirurgia, começa a comer pouco, mas mal, muito doce, carboidrato. É muito frequente e perigoso, nos homens principalmente, um índice alto de alcoolismo — o álcool é extremamente calórico, e ele volta a ganhar peso por causa disso. Eles podem dilatar a cirurgia, alargar, por forçar a quantidade de alimento”, diz o médico do Instituto Endovitta.
Um pequeno estudo publicado na revista Obesity Surgery, no ano passado, analisou 16 pacientes que haviam passado por cirurgia bariátrica.
“Nossos resultados indicam que circunstâncias internas e externas, como mudanças no apetite e problemas de saúde física e mental, podem contribuir para a perda de controle do peso. O apoio social, o autocuidado e as estratégias comportamentais podem facilitar a gestão de peso pós-cirúrgica a longo prazo”, observaram os pesquisadores.
Além disso, é preciso monitorar eventuais deficiências nutricionais e o risco de anemia, por meio de exames de rotina.
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FONTE : R7.com