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Racismo aumenta risco de mortalidade materna entre afrodescendentes nas Américas

Mulheres e meninas afrodescendentes nas Américas têm maior risco de mortalidade durante o parto. De acordo com uma nova análise do Fundo de População da ONU, Unfpa, essa probabilidade é 1,6 vezes maior em países como Brasil e Colômbia. 

Nos Estados Unidos, a situação é ainda mais alarmante, com mulheres e meninas negras tendo três vezes mais chances de morrer durante o parto ou no período de seis semanas após o parto.

No Brasil, Yianela e seu primeiro filho posam com Sofía, que ainda não nasceu.

© UNFPA Brazil/Yareidy Perdomo

No Brasil, Yianela e seu primeiro filho posam com Sofía, que ainda não nasceu.

Histórico racista

No Suriname, essa taxa é 2,5 vezes maior. Estima-se que existam 209 milhões de afrodescendentes nas Américas.

O Unfpa alerta que há uma percepção equivocada das principais causas e refuta argumentos apresentados, que geralmente repetem um padrão sistêmico e histórico de abuso racista no setor de saúde em todos os continentes.

A agência da ONU destaca que, desde a educação médica até a formulação de políticas e prestação de serviços de saúde, mulheres e meninas afrodescendentes são sistematicamente negligenciadas e maltratadas. 

Os maus-tratos enfrentados pelas mulheres afrodescendentes ao receber cuidados de saúde podem incluir abuso verbal e físico, negação de atendimento de qualidade e recusa de alívio da dor. 

Como consequência, elas enfrentam complicações crescentes durante a gravidez e intervenções atrasadas, que muitas vezes resultam em morte.

Dados alarmantes

Segundo os dados levantados pelo Unfpa, as afrodescendentes sofrem níveis desproporcionais de maus-tratos em ambientes de saúde, alguns dos quais baseados em crenças não científicas, racistas e da era da escravidão ainda presentes nos currículos médicos.

A negligência sistêmica também se reflete na coleta de dados: apenas 11 dos 35 países das Américas coletam dados de saúde materna discriminados por raça.

Apenas um terço dos 32 planos nacionais de saúde pesquisados identificou os afrodescendentes como uma população que enfrenta barreiras à saúde. Além disso, somente quatro países coletam dados de mortalidade materna globalmente comparáveis, discriminados por raça.

Onde há dados disponíveis, a maior discrepância nas taxas de mortalidade materna ocorre nos Estados Unidos, onde as mulheres negras têm três vezes mais chances de morrer do que as mulheres brancas.

Profissional de saúde verifica glicemia de gestante e diabética no Centro de Atendimento ao Diabetes e Endocrinologia da Bahia, Brasil.

© WHO/Panos/Eduardo Martino

Profissional de saúde verifica glicemia de gestante e diabética no Centro de Atendimento ao Diabetes e Endocrinologia da Bahia, Brasil.

Abusos e maus tratos

A diretora executiva do Unfpa, Natalia Kanem, afirma que o flagelo do racismo continua para mulheres e meninas negras nas Américas, muitas das quais são descendentes de vítimas de escravidão. 

A chefe da agência da ONU acrescenta que muitas vezes elas são abusadas e maltratadas, suas necessidades não são levadas a sério e suas famílias são destruídas pela morte evitável de um ente querido durante o parto. 

Para ela, justiça e igualdade só serão possíveis quando os sistemas de saúde atenderem a essas mulheres e fornecerem a elas cuidados respeitosos e compassivos.

Outras conclusões

O relatório também conclui que renda e educação mais altas oferecem pouca proteção: as mortes maternas entre afro-americanos graduados em faculdades nos Estados Unidos são 1,6 vezes maiores do que entre mulheres brancas com menos de um diploma do ensino médio.

O relatório foi elaborado com a participação da ONU Mulheres, Organização Pan-Americana da Saúde, Unicef e National Birth Equity Collaborative.

O apelo a governos, organizações internacionais, setores de educação e saúde é que tomem medidas para garantir o acesso a cuidados maternos de qualidade para mulheres de afrodescendentes e reduzir as altas taxas de mortalidade materna.

Além de pedir às autoridades que coletem e analisem dados robustos de saúde discriminados por raça e etnia, o relatório recomenda que as escolas de medicina abordem a ideologia racista nos currículos de treinamento.

Além disso, pede aos hospitais que estabeleçam políticas para acabar com o abuso físico e verbal que prejudica mulheres e meninas afrodescendentes.

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